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Anatomia de uma queda: quando tudo desaba, o que é possível escrever?

Em “Anatomia de uma queda”, de Justine Triet, somos confrontados com uma atordoante história de amor. O filme nos inquieta por ser excessivamente real, sem pirotecnias ou excessos. O que impacta é justamente a presença de algo fundante em qualquer relação de amor: o ressentimento. Há a marca de uma história que atravessa os anos com suas dores, alegrias e traições. E há amor – com tudo que o amor abriga de horror. O filme descortina essa dimensão terrivel que se infiltra no cotidiano de forma subreptícia, revelando que em toda parceria amorosa e sintomática há sempre algo também daquilo que Jacques Lacan chamou de “amódio”. Parte do filme acontece em um tribunal, mas não se trata de grandes mistérios e reviravoltas: o grande enigma é mesmo a escrita de uma vida. Ali, como acontece na vida, não há separação estanque e fixa do que usualmente se nomeia realidade ou ficção. Há camadas diversas de questões: a maternidade, a paternidade, a queda como abalo imaginário da paixão frente ao insuportável do cotidiano, as ambiguidades que estão em jogo no amor, a raiva. Não há propriamente vítima e algoz e o que há de mais preciso no filme encontra-se encarnado na opacidade da deficiência visual do filho, com seus olhos turvos e sua sensibilidade. Mais do que revelar um crime, ”Anatomia de uma queda” é um filme que não oferece concessões ao que se escreve de uma história. A queda é também a surpresa que revira qualquer certeza e nos lembra de que, quando estamos imantados por aquilo que nomeamos “amor”, guardamos aí também algo de nossos delírios e fantasias fundamentais.

O silêncio não tem paz: uma viagem pelos sons e pelas palavras

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O silêncio não tem paz: uma viagem pelos sons e pelas palavras

O artista sabe que sua presença no mundo é um ensaio sobre seu desejo de ir além do discurso social insosso; das pequenas bandeiras para ganhar batalhas combinadas; dos destinos anódinos e confortáveis da palavra no blá blá blá…(.n),.. palavra imolada e entregue ao plágio do entretenimento voraz, ao objeto consumível e à pose quantificável pelo algoritmo, aos passos e fórmulas de uma psicologia do sucesso, quiçá à aceitação de uma obsolescência programada para a arte.

Vida, arte e psicanálise: uma análise sobre Ferreira Gullar

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Vida, arte e psicanálise: uma análise sobre Ferreira Gullar

Viver não tem explicação. E não saber dói. É neste o ponto, segundo Lacan, que desejo de saber se torna o horror de saber, ao se deparar com a falta de sentido para a vida. Mas é também aí, o ponto de possibilidade de virada, onde a vida em repetição pode ganhar margem para invenção. Margem de liberdade que vem com a grande responsabilidade de compor sua própria vida, escrever em tempo real a sua história.

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A extraordinária vida comum de J.D. Salinger

Para fugir das perseguições, Salinger construiu um abrigo no meio no mato, e isolou-se por lá, seguindo de vez o conselho de seu antigo professor, de escrever todos os dias sem se preocupar em publicar. Tamanha reclusão só serviu para aumentar o mito sobre o livro e seu autor. Como exemplo do impacto que ele teve sobre os jovens, basta lembrar que em 1980, quando John Lennon foi assassinado, o responsável pelo crime apenas entregou uma cópia do ‘Apanhador’ como sua declaração.

Pintura do artista Ivo Alexandre (Portugal). Mulher com bebé, óleo sobre tela,120cmX100cm

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Ivo Alexandre: um artista no decurso do tempo na arte contemporânea

O artista Ivo Alexandre apresenta em seu conjunto um espectro, que transcreve singularidades de sua experiência e, ao mesmo tempo, é um questionamento coletivo. A transitoriedade, a busca incessante pelo instante, a relação entre arte e vida, a criação de simbologias e a produção de sentido entre o holístico e o místico, revelam algo oculto na pintura: um decurso íntimo e intuitivo, que serve de convite à leitura para seu espectador.