Com obras em cartaz na 2ª Muestra Latinoamericana de Arte Naif, que acontece até o dia 15 de dezembro em Buenos Aires, a pintora Angela Gomes acaba de realizar um feito importante em sua carreira de sucesso: a participação na 50ª exposição internacional.
Para a Argentina ela levou um ‘pedacinho’ do Espírito Santo, já que as telas escolhidas destacam o folclore capixaba, como a “Banda de Congo na Casa da Memória”, que retrata uma das maiores manifestações culturais do Estado em um dos pontos turísticos mais importantes de Vila Velha.
Natural de Cachoeiro de Itapemirim, Angela Gomes é referência na arte Naif do Espírito Santo. A artista soma ainda a participação em 160 mostrar coletivas nacionais e 55 individuais. “É sempre uma alegria levar a minha arte Brasil afora. E se eu puder mostrar a outros públicos um pouco dos encantos do nosso Espírito Santo, fica tudo ainda melhor”, declara.
A artista já teve trabalhos expostos no Carrousel du Louvre,em Paris, em Mônaco, na França, no Peru, entre outros. Em 2017 teve seus trabalhos eleitos, pelo voto popular, como os melhores expostos no X ArtNaif Festiwal, que aconteceu na cidade de Katowice, na Polônia. A mostra internacional reuniu 1.500 telas de 362 artistas representantes de 36 países. Foia primeira vez que um artista da América Latina conquistou esta condecoração no evento.
Embaixadora
E provando a importância e relevância do seu trabalho, a capixaba foi convidada e será a embaixadora representante brasileira no XIII Art Naif Festiwal, que vai acontecer no próximo ano, na Polônia. A cada edição o evento presta homenagem a um país e em 2020 o Brasil será reverenciado.
Como tudo começou
Ainda criança, a artista foi brincar no quintal da casa após uma longa noite de tempestade. O vento espalhou a areia e foi sobre ela, usando um palito de picolé, que Angela começou a dar os seus primeiros traços artísticos: desenhou um carro (Fusca) que estava estacionado em frente à sua casa. A riqueza dos detalhes a impressionou e aumentava o seu fascínio pelas cores. A arte já fazia parte dela e desde cedo sua visão pelo mundo se ampliava de forma festiva, sonhadora e feliz. Já encantava os vizinhos e colegas de escola com suas habilidades artísticas, vivia sempre com lápis de cor, desenhando para a turma da classe estudantil; adorava fazer montagens e colagens com recortes de revistas, estampava tecidos, tudo de forma natural e intuitiva.
Sua primeira pintura a óleo sobre tela foi por encomenda de sua tia Sônia Rosalém, aos nove anos de idade. Despontava para o Naïf, quando entrou num curso para aprender a técnica de pintar e o conhecimento do material a ser usado. Produziu várias telas e as guardou junto com o sonho e o desejo artístico. Autodidata, em 1981, Ângela Gomes realizou a sua primeira exposição individual. Nenhum convidado compareceu, apenas ela e o fotógrafo contratado. Mas o que era para ser motivo de desistência transformou-se em incentivo para continuar, lutar e vencer. A falta do apoio familiar, o preconceito social e o descrédito profissional continuaram até se definir por volta de 1987, pela pintura Naïf, após rápida convivência com Raquel Galena, pintora do gênero, no Embu das Artes, em São Paulo.
Suas telas são de uma limpeza e clareza que chegam a sugerir ao observador que foram lavadas após o término. Sua fascinação pelas paisagens regionais e pelas cenas que expressam a arte e a tradição popular – o povo, seus usos e costumes. Ela busca, junto às comunidades, elementos para abastecer seu universo iconográfico, através de suas pesquisas.
Arte Naïf
O termo Arte Naïf foi utilizado pela primeira vez no final do século XIX, para identificar a obra de Henri Rousseau, pintor autodidata admirado pela vanguarda artística dessa época, que incluía gênios como Picasso, Matisse e Paul Gauguin, entre outros. Com esta gênese, a Arte Naïf começou a afirmar-se como uma corrente que aborda os contextos artísticos de modo espontâneo e com plena liberdade estética e de expressão e os seus seguidores definem-na hoje como “a arte livre de convenções”.Esta arte é concebida e produzida por artistas sem preparação acadêmica específica e sem a “obrigação” de terem de utilizar técnicas elaboradas e abordagens temáticas e cromáticas convencionais nos trabalhos que executam. O estilo não se enquadra também na designação de arte popular, diferindo dela na medida em que se trata de um trabalho de criação individual que apresenta peças artísticas únicas e originais.Caracteriza-se em termos gerais por uma aparente simplicidade e pela liberdade que o autor tem para relacionar ou desagregar, aseu belo prazer, determinados elementos considerados formais; a inexistência de perspectiva, a desregulação da composição, a irrealidade dos fatos ou a aplicação de paletas de cores chocantes. A arte Naïf exprime ainda, de um modo geral, alegria, felicidade, espontaneidade e imaginários complexos.