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"Ele tinha consulta agendada", lamenta Cafu sobre morte repentina do filho

"Choro todos os dias sozinho. Quando entro em casa, procuro me mostrar forte"

Foto: Divulgação

O filho mais velho do ex-jogador Cafu, Danilo Feliciano de Moraes, morreu no dia 4 de setembro após sofrer uma parada cardíaca. Danilo, de 30 anos de idade, tinha sido diagnosticado com um problema no coração e sofreu uma convulsão enquanto jogava futebol no campo que fica dentro da casa da família, em Alphaville, no interior de São Paulo. 

Ele chegou a ser socorrido e levado ao hospital, mas infelizmente não resistiu. Agora, cerca de dois meses após a morte de Danilo, Cafu explica o que aconteceu no fatídico dia e, em entrevista à revista Veja, fala das dores de ter perdido e enterrado um filho.

– Havia um jogo com amigos marcado para o dia 5, mas eu teria uma viagem de trabalho aos Estados Unidos e antecipei a partida. O Danilo estava no mesmo time que eu. Em um intervalo, ele saiu e eu segui jogando, pois sou fominha. Três minutos depois, notei um tumulto fora do campo. Por curiosidade, fui ver o que estava acontecendo, e deparei com meu filho sofrendo convulsões. Entrei em pânico, pois ele tinha um histórico cardíaco delicado. Ligamos para os bombeiros, e eles disseram que chegariam em dez minutos, mas meu filho não poderia esperar. Pedi que retirassem as crianças dali, para que não vissem a cena e a correria. Carreguei o Danilo no colo, coloquei-o no carro e em cinco minutos chegamos ao hospital, relatou Cafu.

O ex-jogador alegou que percebeu que Danilo estava em uma situação complicada.

– Ele já estava pior quando chegou ao hospital. Os médicos tentaram reanimá-lo de muitas formas (pausa). Depois de meia hora, um médico me chamou num canto. Eu disse: Doutor, não precisa falar nada. Estou vendo que ele não responde. Fiquei de pé, orando e pedindo a Deus que não levasse meu menino [chora]. Não foi possível.

Cafu, que é um dos embaixadores da FIFA (Federação Internacional de Futebol), esclareceu qual era o problema de Danilo, e lamentou as coincidências que cercaram a sua morte.

– Ele sofria de aterosclerose coronária precoce [entupimento dos vasos do coração, algo mais comum após os 65 anos], que era tratada com o cardiologista Luiz Carlos Valente. A primeira aparição da doença também ocorreu dentro de um campo. Enquanto jogávamos bola, o Danilo sentiu fortes dores no peito. Saiu da partida e, passado um tempo, parecia tudo bem. Mas, naquela madrugada, sem avisar ninguém da casa, ele voltou a sentir-se mal e dirigiu sozinho até o hospital, onde foi feito um eletrocardiograma. O diagnóstico mostrou que o garoto, de então 24 anos, havia sofrido um infarto. O Danilo me ligou às 7 horas pedindo que eu fosse ao hospital. Meu filho foi transferido para o Hospital do Coração, em São Paulo, e lá colocaram um stent nele. Depois disso, a doença parecia controlada. Ele tinha uma consulta agendada para dois dias depois de sua morte, justamente para fazer um cateterismo e ver se seria preciso trocar o stent. Não deu tempo. Houve uma progressão da doença e meu menino não resistiu.

O atleta ainda fez um desabafo sobre a dor que está sentindo nos últimos meses.

– Enterrar um filho foge do contexto geral, de tudo o que você sente ao longo da vida. A cada cinco dias, vou ao cemitério visitar o túmulo. Eu não assimilei o que aconteceu. Não tive coragem de entrar no quarto dele até agora, meu filho Wellington recolheu as coisas e colocou tudo para doação. Nunca mais pisei no campo onde aconteceu a convulsão. Não sei como descrever a sensação de jogar terra sobre o caixão de um filho sabendo que ele não vai mais voltar [choro]. A morte de um filho acompanha um pai e uma mãe para o resto da vida.

Cafu confessou que tenta ser forte quando está dentro de casa.

– Choro todos os dias sozinho. Quando entro em casa, procuro me mostrar forte. Afinal, sou a pilastra da família. Choro em geral no trânsito e ligo para amigos apenas para chorar. Eles até sabem e ficam calados, então eu choro, choro e choro. Chorar alivia o peito.

Ele também falou sobre a relação da morte de Danilo e da sua crença em Deus, vinda do catolicismo.

– Tanto o padre quanto o pastor disseram a mesma coisa, que sempre há o momento de Deus e que não podemos contestar a vontade dele. Poxa, mas eu também tinha as minhas vontades e planos para o Danilo ao meu lado. Existe um confronto com Deus nesse sentido. O que posso garantir é que o céu ganhou um anjo. Deus queria alguém muito bom ao lado dele. Eu digo: Senhor, ele era muito novo. Pode não ter vivido o suficiente. Se foi a sua vontade, respeito; mas preferia ele aqui conosco. Aí eu leio a Bíblia e peço a Deus que faça bom uso do anjo que agora está ao seu lado. Sinto demais sua ausência. Cadê o menino que usava meus perfumes só para me sacanear?

O ex-capitão da Seleção Brasileira de Futebol aproveitou para citar o apoio que recebeu de seus colegas de profissão.

– O Danilo viveu comigo fora do Brasil e foi aos jogos das Copas de 1994, 1998, 2002 e 2006. Abso­luta­mente todos os jogadores entraram em contato. Após o enterro, fiquei dias sem ligar o telefone. Quando fui ver as mensagens, havia mais de cinco mil.

Por fim, Cafu lembrou do amor do filho pelo futebol – e contou que ele tentou ser jogador profissional.

– Ele jogava como centroavante nas partidas aqui em casa e, no passado, chegou a atuar no time de base do Milan, quando moramos na Itália, mas se deu conta de que aquela não era a praia dele e saiu. Era agregador e piadista, tirava sarro de todo mundo. Dentro de casa, ele me chamava de capitão. Para quem é pai, a dor cega. Eu não perdi apenas um filho. Perdi um amigo de futebol e de truco, meu companheiro de viagens e de cervejadas. Perdi tudo. O Danilo preenchia a casa.