Multiplicidade artística que exala cultura negra, latina, capixaba, genuinamente brasileira. Arte das raízes, que evoca o sagrado da cultura periférica e evoca espíritos ancestrais. Talvez seja assim que se possa descrever o trabalho de Castilho, que estreia nesta sexta-feira (22) em cinemas de Hollywood.
Natural de Colatina, Castilho ganhou os palcos, telas e tablados de São Paulo há 10 anos e assina a preparação de elenco do curta-metragem “Semana Que Vem, Te Prometo Palmares” selecionado para participar do festival Infocus: Latinx & Hispanic cinema, realizado pela NFMLA e pela Academia do Oscar.
A história é uma produção da Madrugada Filmes, que traz sangue jovem para o audiovisual brasileiro. A história, uma produção afropresentista, traz Zumbi dos Palmares e Dandara, símbolos da luta antiescravista no Brasil para os dias de hoje, encarando os choques de um mundo contemporâneo em constante transformação.
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“Semana que vem é uma produção afropresentista, fui convidade pelo Icá Iuori, que assina a direção e faz parte do elenco como Zumbi. A ideia veio de quando começamos a conversar sobre como seria a volta de Zumbi e Dandara, nas corpas de pessoas na atualidade. Na hora que chegam lá, se deparam com muias diferenças, um mundo muito diferente”, descreveu.
Castilho, que é uma pessoa não-binária, utiliza os pronomes “elu” e “delu” e celebra o trabalho da Madrugada Filmes, formado por pessoas que transitam entre os 23 a 28 anos, LGBQIAPN+ e pretas, e trazem representatividade ao mercado audiovisual brasileiro.
“Está todo mundo na casa dos 20. Uma galera queer, que fala de pessoas negras, periféricas. A ideia é que este curta se torne um longa, uma série. Acho muito importante buscar futuros negros, diásporas, reconstruir percepções de tempo e espaço. São poucas pessoas racializades no audiovisual”, disse.
Histórico artístico
Castilho nasceu em Colatina em 1995 e levou uma vida em trânsito entre a cidade e Vila Velha, na Grande Vitória. Desde os quatro anos se interessou por arte e por ginástica.
Aos 17 anos se mudou para São Paulo para estudar Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT) e pela Escola de Arte Dramática pela Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com Castilho, o Espírito Santo e seu passado pelo Estado são forças motrizes em seu trabalho, que trazem inspiração para diferentes existências artísticas.
“Quando vim para São Paulo, foi porque minha mãe não conseguiria alimentar eu e minha irmã. Fui criada em Ilha de Santa Rita, Trevo de Capuaba, Morada da Barra, Jabaeté, Terra Vermelha. Cresci presenciando uma dinâmica bem violenta, mas quero que a minha arte seja um fio de esperança de tentar ser o que sou.Eu busco ir atrás das raízes, honrar o que me criou “, disse.
“Não quero mais as narrativas de dor o tempo inteiro, e isso não é sobre meritocracia. Eu precisava fazer alguém por mim e pelas minhas, falar pela minha família. Castilho é a infância que precisou morrer para que eu estivesse aqui hoje”, complementou.
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E é também no Espírito Santo que reside uma outra esperança: abrir uma escola de teatro e dança no Estado natal. “Estou assimilando muita coisa, ainda tenho muito para trilhar. Estou sempre entre a dança, teatro e cinema. Cavando espaços, nossos futuros possíveis”, contou.
Sucesso em outros trabalhos
O nome de Castilho não é nada desconhecido nos palcos e no audiovisual brasileiros. Com participações em séries da Netflix Brasil, como “3%” e “Sintonia” e na MTV, com “Feras”, foi em “Santo” da Netflix Espanha, que encontrou seu lugar.
“Foi a experiência mais linda que vivi. Fiz par romântico com o Bruno Gagliasso e foi incrível. Gravamos na Bahia em 2021 e minha personagem era uma devota de Iemanjá, foi uma série muito cuidadosa, que fala sobre candomblé de uma maneira respeitosa e correta. Foi muito importante a presença da Netflix Espanha, o Bruno também foi um grande companheiro. Pude praticar de verdade, nunca tinha trabalhado com uma equipe tão grande e com pessoas tão maravilhosas”, contou.
Além das experiências passadas, Castilho também olha para o futuro. No próximo dia 12 de outubro, estreia sua primeira protagonista nos cinemas, no filme “A Batalha da Rua Maria Antônia” com roteiro e direção de Vera Egito, nas telas do Festival do Rio.
“Somos quatro protagonistas. É a história do início da ditadura, de quando realmente as coisas explodiram em São Paulo, quando militares mataram do Centro de Caça aos Comunistas (CCC) matou estudantes da USP”, contou.
Além disso, é também no mês que vem, seu retorno para atuar nos palcos, tendo passado os últimos quatro anos na preparação de elenco. A volta é no espetáculo “Mundar´´eu de Mim”, musical que estreia no Parque da Água Branca, em São Paulo, para público esperado de 2 mil pessoas.
“É um espetáculo que fala sobre carnaval e saudade. Pessoas que já se foram e outras que se reencontram em um carnaval e falam a seus amados sobre a saudade ou mágoa que sentiram e como lidar e transformar essa mágoa”.
Espaço para dança e música
O impacto cultural de uma infância pobre para uma realidade em uma das universidades mais afluentes do país, pode causar um certo senso de alienação ou não pertencimento.
Este é um sentimento que Castilho conheceu na pele em suas primeiras andanças pela USP. Entretanto, foi na universidade que conheceu um método conhecido como BLC, uma prática de educação somática que estuda os órgãos internos.
Aproveitando o passando na dança, deu início ao projeto “R.EBÓ.LAR” após um estágio online de três meses com a criadora do BLC, Bonnie Bainbridge Cohen. O nome da pesquisa, reflete cultura e religiões afro.
“No Espírito Santo, crescendo, sempre fui muito exposte ao funk e quando vim para São Paulo, conheci o BLC. Quando criei o R.EBÓ.LAR me foquei na palavra ebó, que no candomblé significa limpeza. Significa sacrifício de entender que meu corpo é uma oferenda a mim mesme. O ato de proteger e bendizer meu corpa é responsabilidade minha, de firmar minha pisada neste mundo e me sustentar em uma universidade elitista”, afirmou.
Ainda de acordo com Castilho, a ideia da pesquisa é também dar voz e vez a outras pessoas, em uma nova forma de olhar o corpo, de maneira afetiva e sexual, sem culpa ou julgamentos. “É fazer uma nova cosmovisão, uma nova forma de olhar. É honrar-se como divindade”, disse.
E é após 10 anos na estrada que tudo começa a se alinhar. “Agora, depois de 10 anos em São Paulo e 18 de caminhada artística, de música, cinema, teatro e dança as coisas começam a se revelar. Depois de 10 anos colhemos frutos, a ser ouvidos e mostrar conquistas ainda maiores”, finalizou.
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