Isabela da Cruz Silva tem 25 anos. A capixaba nasceu no municpio de Cariacica e depois que a mãe mudou para Vitória, a cantora que virou “cria” do bairro São Benedito, descobriu o amor pela música, e hoje, manda muito bem no pagode.
“Foi no morro do São Benedito que eu criei raízes, e que euaprendi muitas coisas. Foi ali que comecei a sonhar em ser cantora. Lembro que quando era bem pequenininha, minha mãe me levava pra igreja debaixo de chuva. Minha mãe sempre foi muito guerreira! Eu sou a caçula, e aí tem mais três meninos”.
De família humilde, Isa relembra a força da mãe, e como isso influenciou na educação dela.
“Lembro que minha mãe chegava muito cansada do trabalho e mesmo assim ela levava a gente pra igreja. Quando chovia, ela levava um filho por vez. Sempre fomos uma família muito humilde. Morávamos num barraquinho que hoje não existe mais. Na chuva intensa de 2013, nossa casa foi derrubada e tivemos que sair de lá para outro lugar. Usamos o aluguel social”.
E o amor pela música começou cedo durantes as idas para a igreja.
“Eu via as irmãs cantando lá na frente e sempre tive muita vontade. Eu entrava no grupinho das crianças para cantar e depois fui para o grupo de adolescentes, continuei cantando e depois cantava sozinha. Eu tinha as oportunidades na igreja e aí eu cantava! Até que chegou o tempo de ir para a escola e comecei a cantar na escola também. Ali era maravilhoso”.
Com o sonho em mente, a cantora não deixou de ir em busca dele. E o motivo? Uma extensão dela…
“Tenho uma filha de 9 anos. Fui mãe com 16 anos, engravidei com 15. A minha filha se chama Alexia, e ela o motivo pra que eu seja sempre melhor, principalmente na minha carreira. Ela me inspira, me dá esse norte, sabe?! Quero algo melhor pra ela! Quero ser uma referência pra minha filha”.
PRIMEIRO VÍDEO GRAVADO EM ESTÚDIO
Na igreja, na escola. Não importava onde estivesse, desde que fizesse o que ama desde que se entende por gente: CANTAR!
“Algumas pessoas que me viram cantando pelo Instagram e perguntaram se eu não queria fazer um vídeo num estúdio, algo mais profissional. Lembro que fiquei muito feliz porque foi a primeira vez que entrei em um estúdio. E toda aquela aparelhagem de som, microfone, mesa. Fquei maravilhada! Fizemos um vídeo e ficou lindo. Daí eu entendi que o segmento que eu queria seguir era o pagode. Até porque as minhas referências musicais, além da igreja, era o pagode. Então, eu decidi ali que o segmento que eu queria seguir era esse”
Depois da primeira experiência em um ambiente profissional, Isa continuou fazendo vários vídeos até começar a aparecer trabalhos.
“Foram aparecendo algumas participações para eu fazer nas casas de show com alguns colegas que já são do segmento: o Leozinho, Frazão. E depois disso as oportunidades foram aparecendo e fui aproveitando cada uma, até que decidi que queria formar uma banda”.
E como se não bastassem as dificuldades de viver da música e para a música, a artista conta um pouco de como foi no início da carreira no Espírito Santo.
“É um pouco complicado você viver da música aqui hoje, e ainda mais por ser mulher, né? Tem muita gente que não acredita no potencial da mulher no segmento do pagode, e é um pouco mais difícil deslanchar aqui no Espírito Santo. E como as pessoas podem reparar, os homens dominam essa área do pagode. Diante disso eu pensei: ‘Não, eu quero mudar isso e chegar pra poder mudar!'”.
Sem desistir da carreira, a capixaba disse que teve um apoio fundamental.
“Nesse meio tempo uma pessoa me procurou que é o Dan, meu produtor atual. Ele se interessou pela minha história e pelo meu talento. Ele falou: ‘Isa, eu tô com você. A gente vai correr atrás, vai fazer da certo’. Foi aí que as coisas começaram a andar. Hoje tenho uma agenda de shows, graças a Deus. Apesar de ainda rolar muito preconceito por ser mulher, eu não desisto. O Dan chegou pra me ajudar”.
O Dia Internacional da Mulher é comemorado nesta sexta-feira, dia 8 de março, e Isa fala sobre como é importante não deixar de sonhar.
“Preciso que as pessoas entendam que, apesar de ser uma mulher preta e periférica, eu posso, sim, chegar a algum lugar. E eu quero que as pessoas tenham uma visão diferente do que é vindo em uma periferia. Não é só se envolver com coisas erradas, não tem só tráfico, não tem só violência. Tem muitas pessoas aqui que sonham”.
Além disso, a cantora afirma ter muito orgulho das raízes.
“Tem muitas pessoas talentosas aqui. Tem muitas mulheres que têm uma história parecida com a minha, de ser mãe muito cedo e muitas vezes tiveram que parar a vida por um momento, e às vezes deixaram de sonhar, às vezes deixaram de querer conquistar algo. Quero ser uma referência, tanto no segmento do pagode e quanto a ser mãe. Hoje eu tenho muito orgulho da minha história e de onde venho”.
Assim como todos nós seres humanos, houve um tempo em que Isa desacreditou que poderia chegar onde quer!
“Pra ser muito sincera, houve um tempo que eu parei de sonhar, sabe? Pensei que isso de ser cantora não era pra mim porque as condições não são muito boas. Eu não me olhava com um olhar de ternura, sabe? Teve um tempo que parei de me olhar com um olhar de que eu seria capaz”.
Mas apesar das dificuldades, sempre tem pelo menos uma pessoa no mundo que tem fé na gente.
“Ver pessoas que acreditam na gente muda tudo. E foi aí que aprendi a confiar em mim, a ter mais autoestima e dizer: ‘ISABELA! VOCÊ VA CONSEGUIR!’. Por mais que em alguns momentos os obstáculos aparecessem, e minha mente me sabotasse, sempre tinha alguém confiando e acreditando no meu talento, e isso foi e é a minha força”.
E no Dia da Mulher, Isa deixa um recado muito importante:
“Meu objetivo é mostrar para as mulheres e meninas aqui da comunidade de São Benedito, do bairro da Penha, de Itararé, e de onde for, que elas são capazes sim de vencer. Que elas são capazes de chegar onde quiserem. Nada é impossível! Só vai ser impossível se você não quiser, se deixar de sonhar e de acreditar”.