Foi em uma de minhas viagens para o interior de Minas, onde moram meus amados pais e estão minhas verdadeiras raízes, que me deparei com um lindo pé de manga coberto de frutas. Passei tantas vezes por aquela estrada e nunca tinha reparado na beleza daquela árvore, tão bela por fora, certamente mais bela ainda por dentro.
Sim, a parte mais bela não são as folhagens e os frutos, mas as raízes.
Não fossem elas, a árvore não poderia ostentar tanta beleza e magnetismo. Sem a sustentação de uma bela e forte raiz, que permanece invisível sob o solo, não haveria a folhagem e nem os frutos.
Assim somos nós, seres humanos.
São as nossas “raízes interiores” que determinam quem somos e como passaremos pela existência. Raízes fortes e saudáveis nos garantem uma vida harmoniosa, repleta de amor e felicidade.
O exterior reflete fielmente o que acontece no mundo interior. Pela aparência de uma pessoa é possível saber o que se passa em sua alma. Raízes bem cuidadas produzem galhos fortes e resistentes, capazes de suportar qualquer vendaval.
É o que acontece, por exemplo, com o bambu chinês, que tem um cultivo totalmente diferente.
No primeiro ano do plantio, a semente deve ser regada permanentemente com todo o cuidado. Se faltar água, ela morre antes de florescer.
Mas, apesar de todo esse cuidado, nada acontece no primeiro ano após o plantio, a semente permanece escondida debaixo da terra. No segundo ano do plantio, o mesmo cuidado precisa ser mantido, mas mesmo assim nada do bambu romper a terra e começar a crescer. No terceiro ano, nenhum sinalzinho de vida e no quarto ano, menos ainda.
Finalmente, no quinto ano, depois de todos os cuidados, o bambu chinês começa a crescer. E não cresce pouco, em seis semanas é capaz de atingir a altura de 30 metros!
Mas enganado está quem pensa que ele atingiu 30 metros em apenas seis semanas. Na verdade, ele cresceu durante cinco anos, foi o tempo que precisou para fortalecer as suas raízes para fazer bonito depois do lado de fora.
Se o bambu não fosse bem cuidado durante os 5 primeiros anos do cultivo, ele certamente não teria a força e a beleza que tem.
Isso quer dizer que ele precisou desenvolver uma raiz forte, precisou de uma base bem sólida, para enfrentar com sucesso as tempestades da vida.
O escritor americano Stephen Covey escreveu:
“Muitas coisas na vida pessoal e profissional são iguais ao bambu chinês. Você trabalha, investe tempo, esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento e, às vezes, não vê nada acontecer por semanas, meses ou anos. Mas, se tiver paciência para continuar trabalhando, persistindo e nutrindo, o seu quinto ano chegará, e com ele virão as mudanças que você jamais esperava.”
O bambu chinês nos ensina que é preciso muita fibra para chegar às alturas e, ao mesmo tempo, muita flexibilidade para se curvar ao chão.
É assim que o bambu chinês faz toda vez que é surpreendido por uma tempestade: Ele não se apavora diante da força do vento, se curva, acompanha o movimento do vento e só depois que o perigo passa, retoma a sua altivez.
A história do bambu chinês deve nos levar a um questionamento permanente: quais são as raízes que sustentam a experiência que cria a realidade que estamos experimentando?
Quais são as crenças responsáveis pelos frutos que estamos colhendo?
Estamos conscientes da qualidade das nossas raízes, assumindo responsabilidade sobre elas?
O que pode e precisa ser mudado no mais profundo do nosso coração para garantir o florescimento de galhos, folhas e frutos saudáveis?
Quando o nosso corpo adoece, significa que nossa raiz adoeceu primeiro e estamos sustentando em nosso íntimo crenças frágeis que dão frutos amargos e inúteis.
Assim como uma árvore adoece e morre por falta de nutrientes, a alma também adoece quando não é nutrida com os ingredientes do amor, da alegria, da fé e da bondade.
Muito verniz é sinal de pouca raiz… É assim que na roça as pessoas traduzem o perigo que o mundo das aparências representa para qualquer ser humano.
Se não cuidamos da nossa essência, se não adubamos as nossas virtudes, corremos o sério risco de desmoronar diante de um leve sopro… que dirá diante de um vento forte.
Uma pessoa que cultiva os valores humanos é um ser íntegro, ético e amoroso, belo por natureza, que não precisa de nenhum adereço para brilhar.
Afinal, a sua simples presença já ilumina qualquer ambiente, porque a verdadeira beleza de uma pessoa é a sua integridade, o seu brilho interior, a sua raiz, a sua ligação com o Divino, o Deus que mora dentro de cada um de nós.
O silêncio é a porta que nos conduz à descoberta de que somos muito mais do que os espelhos nos revelam.
Ainda pouco praticada no Ocidente, a meditação é o caminho mais seguro para a nutrição e o fortalecimento de nossas raízes, condições indispensáveis para um florescimento saudável, harmonioso e feliz.
Nas palavras de Osho, o mais irreverente dos mestres indianos, a meditação é uma maneira de ir para dentro de si mesmo, de perceber que você não é o corpo e você não é a mente. É muito mais que isso.
Uma vez que você tenha encontrado a sua essência, o seu centro, você terá encontrado tanto suas raízes quanto suas asas:
“Quando você sente a existência cara a cara – sem nenhum mediador – você prova alguma coisa que o transforma, que o torna iluminado, desperto, que o leva ao ápice da consciência. Maior realização não há. Maior contentamento não há. Relaxamento mais profundo não há. Você chegou em casa!”