“Mãe Só Há Uma”, novo filme da diretora brasileira Anna Muylaert, estreou repleto de expectativas, já que era o seu primeiro trabalho após o estrondoso sucesso do ótimo “Que Horas Ela Volta?”(2015). Mas tanta expectativa acabou se tornou uma grande decepção.
No enredo, o jovem Pierre (Naomi Nero, sobrinho do ator Alexandre Nero) descobre que foi roubado na infância e que sua família atual não é a biológica. A polícia prende a sua mãe de criação e ele vai viver com a nova família.
Se a história te passa a sensação de “déjà vu” não é mero acaso. O roteiro foi inspirado no caso Pedrinho, que foi sequestrado ainda na maternidade e criado como filho legítimo pela mãe criminosa. O caso foi desvendado em Goiânia e ganhou repercussão em todo o Brasil em 2002.
No convívio do novo lar, Pierre passa a ser chamado de Felipe, e além de ter que aprender a conviver com sua “verdadeira” família, também apresenta mudanças/dúvidas em relação a sua sexualidade, preferindo se vestir como mulher.
O personagem tenta não só chocar sua nova família; composta por seu pai (Matheus Nachtergaele), mãe (Dani Nefussi, que interpreta as duas mães na obra, a de criação e a legítima) e seu irmão (Daniel Botelho), como também o seu espectador.
O roteiro falha em contar a história de forma absurdamente rápida, preguiçosa e superficial. Além disso, não se aprofunda nas principais questões envolvendo o sequestro: prisão, convívio com a mãe de criação e destino de sua irmã, também vítima de um rapto e criada como filha biológica. Apesar do próprio roteiro realçar uma ligação muito forte entre eles no prólogo da obra.
Ao contrário, o filme se prende a Pierre/Felipe, que apesar da ótima atuação de Naomi Nero, é um personagem extremamente antipático. Sinceramente, entendo que sua súbita crise de identidade esteja totalmente ligada a um movimento de rebeldia. Uma forma de atingir a sua “nova família” e dizer que não pertence aquele lugar, já que ele mesmo afirma se sentir “sequestrado novamente”.
O resultado final de “Mãe Só Há Uma” é frustrante, justamente por preferir um caminho contrário ao de “Que Horas Ela Volta”. Ao invés de se aprofundar na história, prefere um caminho de superficialidade. A história é fraca, os personagens mal desenvolvidos e o resultado final imemorável, ainda mais ressaltado pela imperfeição de um epílogo sem resolução.