Cultura

Dica de leitura: meu pé de laranja lima

Dica de leitura: meu pé de laranja lima

A minha primeira dica de leitura aqui no Vem Ler Comigo é o livro Meu Pé de Laranja Lima, um clássico de José Mauro de Vasconcelos publicado pela primeira vez em 1968 e que já recebeu duas adaptações para o cinema e três novelas, além de ter ganhado versões em 52 línguas e rodado em quase 20 países. E não é para menos, afinal, impossível não se encantar com a história do menino Zezé. Na verdade, o livro é autobiográfico a narra a infância ingênua e sofrida de José Mauro enquanto tenta ser criança num mundo cheio de problemas de adultos.

[Sinopse] A história de Meu Pé de Laranja Lima gira em torno de Zezé, um garoto de cinco anos que mora em Bangu, periferia do Rio de Janeiro, e quem nos conta a história com um ar singelo e nostálgico. É muito esperto (tanto que aprendeu a ler sozinho), mas é sua malandrice que ganha os holofotes na região. Tudo ia muito bem até que o pai perde o emprego e a mãe tem de trabalhar dobrado. Quando essa nova condição os obriga a mudar de casa, Zezé tem como única opção de “árvore de estimação” no novo quintal um pequeno pé de laranja lima, a quem chama de Minguinho e, nos momentos mais tenros, de Xururuca. E é com Minguinho, ou Xururuca, que o menino passa a compartilhar suas aventuras e com quem se lamenta quando levava uma boa surra dos pais ou dos irmãos por causa de suas traquinagens. Porém, ao longo da história, nasce outra amizade improvável, dessa vez entre Zezé e Manuel Valadares, o Portuga, um senhor rico, porém solitário. É com o Portuga que o garoto descobre a beleza do afeto, da ternura, da paciência e da companhia, tudo o que ele não tinha em casa.

A narrativa é singela e ingênua, tanto que muitos críticos consideram a obra “pobre”, apesar de ser de longe a mais famosa de José Mauro de Vasconcelos, que morreu no dia 24 de julho de 1984, aos 64 anos. Isso porque quem se atenta à escrita em si não percebe a densidade sociológica por trás de Meu Pé de Laranja Lima. O poeta José Paulo Paes falou em um artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo que “a agressividade com que certos críticos se voltaram contra ele, julgando-lhe o desempenho unicamente em termos de estética literária, em vez de analisá-lo pelo prisma da sociologia do gosto e do consumo, mostra a miopia de nossa crítica para questões que fujam ao quadro da literatura erudita”.

O que mais chamou minha atenção é, como falei acima, os desafios de ser criança em um mundo cheio de problema de adultos e o quanto isso pode afetar a imagem que ela tem de si mesma. O Zezé chegava a acreditar que merecia as coisas ruins que aconteciam com ele e que tinha “o diabo no corpo”, porque era um menino travesso, e de dizer que não quer mais existir. Lembre-se de que estamos falando de uma criança de cinco anos!

Por outro lado, faltava disciplina porque os pais estavam sempre fora, a mãe trabalhando e o pai em busca de trabalho. Sobrava para os seus irmãos mais velhos, que precisaram assumir as responsabilidades da casa e mal sabiam o que era cuidar de crianças, sendo que Zezé tinha, ainda, um irmão mais novo, o Luís. E é com Luís e Glória, uma das suas irmãs mais velhas, que ele descobre a beleza de ter irmãos. É de encantar o modo como ele admira seu irmão mais novo, chamando-o, inclusive, de Rei Luís.

Isso me faz pensar o quanto temos tirado de nossas crianças por vivermos num mundo que exige de nós, muitas vezes, mais do que podemos oferecer. Não nos damos conta de que quem arca com as consequências é quem, ironicamente, precisa mais do nosso cuidado e presença.

O livro ainda é leitura obrigatória em muitas escolas, inclusive aqui em Portugal (contei que estou passando um tempo em Portugal? Ainda não?! Depois falo mais sobre isso!). Talvez esse seja o motivo de ser mais fácil encontrar Meu Pé de Laranja Lima em bibliotecas escolares – foi lá que eu li no mês passado – do que em grandes livrarias. Apesar disso, há uma boa oferta da versão em PDF na internet. (Tem uma AQUI se você quiser). O livro tem 124 páginas e é super fácil de ler. Mas prepare os lencinhos, porque algumas lágrimas são garantidas! Em breve deixo mais dicas de leitura por aqui!