Sem pressa e consciente de si. Talvez essas sejam aa melhor definições de Shazam! para além do óbvio — e já escancarado nos trailers — de ser um filme engraçado. Sem desmerecer o excelente tom do filme, que consegue mesclar piadas dignas de uma criança na 5ª série, brincadeiras com o próprio gênero e um tema universalmente tocante. Chegando a levar algumas audiências às lágrimas.
Mas, retomando, o longa não demonstra a mesma pressa que fez tantos filmes da DC tropeçarem em suas próprias pernas, na busca pela criação de um universo compartilhado próprio, culminando no lançamento de um filme da Liga da Justiça esquecível, que tenta apresentar personagens e vilão em meio a um caos visual e de bastidores.
Mantendo a linha que começou a ser traçada por Mulher Maravilha e seguiu com Aquaman, quem comanda as criações são os próprios diretores, sem uma supervisão e o dedo de Zack Snyder. E isso faz muito bem à nova e bem-humorada incursão, que chega aos cinemas em 4 de abril. Com fôlego próprio, David F. Sandberg faz o caminho contrário de Jordan Peele — migra do horror para o humor — e constrói um filme no qual cada personagem importa, tem tempo para se desenvolver e demonstrar suas próprias motivações, além de evoluírem na tela — de todas as formas.
Se, em alguns momentos, o longa peca pelos efeitos especiais mal-acabados e pela trilha genérico-orquestral, o roteiro não dá espaço para qualquer evento sem motivação ou para barrigas em que o espectador se distraia. A todo momento uma piada faz com que se ria, uma cena de ação chama a atenção para a tela ou um momento familiar constrói o afeto pelos personagens.
Billy Batson demonstra na projeção o que dele é esperado. Pode até parecer o valentão de cara fechada e poucos amigos, que foge de abrigos para órfãos em busca de sua mãe verdadeira e vive de pequenos delitos, mas na verdade tem um bom coração. As sutis diferenças do mesmo flashback demonstram isso de maneira escancarada para o espectador. Ele é um otimista nato.
A relação deste protagonista com seu novo irmão Freddy Freeman pode parecer forçada, mas de simples movimentação para a trama, passa a ser um dos alicerces do filme. E grande parte disso vem da bela atuação de todos os envolvidos. Asher Angel dá vida ao jovem Billy, enquanto Zachary Levi transporta toda a leveza e inexperiência para o Shazam! em sua forma heroica — fazendo jus à grande inspiração do ator: Tom Hanks em Quero ser grande. Mas nenhum dos dois seria capaz de se apresentar tão bem na tela se não fosse pela presença inspirada de Jack Dylan Grazer. O jovem de 16 anos dá coesão a toda a ação e serve como ligação entre estes dois mundos distintos, além de ter brilho próprio no combate final.
Ao contrário do ótimo Mulher Maravilha (2017), que tem em seu terceiro ato o ponto mais fraco, graças à uma luta constrangedoramente desnecessária, o novo filme da DC transforma seu clímax em algo grandioso, emocionante e com toque de esperteza à lá Doutor Estranho, mesclado com o conhecimento da rua de Billy.
Fugindo um pouco dos produtos formulaicos apresentados pelas grandes franquias de heróis, Shazam! acerta em cheio em tudo o que faz. Leve, sem pressa na hora de seu desenvolvimento, engraçado — com alguns exageros, é verdade —, consciente do que teria de ser feito e do que o filme é e verdadeiramente emocionante, sem se tornar piegas, o longa se torna o maior acerto para o estúdio desde O Cavaleiro das Trevas, dirigido por Christopher Nolan.
*Com informações do Portal R7