Setembro de 2016 foi um mês bastante complicado em todos os sentidos. Além de ter sido marcado por grandes separações, foi nesta data que o Brasil perdeu Domingos Montagner, grande ator que acabou se afogando nas águas do rio São Francisco, onde gravava cenas da novela Velho Chico. Na última quarta-feira, dia 29, a esposa do astro, Luciana Lima, falou pela primeira vez sobre a morte do marido, em entrevista à revista Marie Claire. Isso seis meses após o acidente. A também atriz começou seu relato contando como conheceu Domingos.
– Foi em 1999, em Natal, onde eu morava. Ele foi convidado para se apresentar na cidade e fiz o receptivo da companhia durante o evento. Eu era integrante de um grupo de teatro, o Clowns de Shakespeare. O Domingos ficou 15 dias por lá, tempo suficiente para a gente trocar umas figurinhas. Depois voltou para São Paulo e namoramos quase um ano a distância. Fui me envolvendo, me inteirando sobre o universo do circo e aquilo me deu coceira. Mudei para São Paulo em novembro de 2000, quando a linguagem circense estava entrando no cenário teatral.
Este ano a companhia La Mínima, fundada por Montagner, completa 20 anos. Luciana diz que não pensou em desistir das comemorações, mesmo com a morte do marido.
– O acidente abriu aquele buraco e ficamos sem chão. Ainda é muito turvo o que vivi nas primeiras semanas, mas em nenhum momento passou pela minha cabeça desistir. À medida que o tempo foi passando, as coisas ficaram mais claras. Um mês depois, já comecei a pensar nos 20 anos da companhia junto com o Fernando. Estávamos conversando e ele ficou todo sem jeito de me perguntar o que faríamos. Entendemos que não dava para parar. A celebração virou uma homenagem ao Domingos.
Ela também explica como recebeu a notícia trágica da morte.
– Não acompanhei as redes sociais, onde o desaparecimento era assunto desde às 14h. Quando deu umas 15h, o empresário dele me ligou, eu estava no galpão. Senti um tom preocupado em sua voz. Aí começou o processo. Liguei para a escola dos meus filhos, pedi que saíssem mais cedo para evitar que se deparassem com o burburinho. O mais velho estava em casa. Assim que cheguei, disse a ele o que estava acontecendo, e ele respondeu: Não vai acontecer nada, meu pai sabe nadar e não pode ir contra a correnteza. Vai se deixar levar, alguém vai encontrá-lo. Concordei e pedi para não entrar em redes sociais. Perto das 18h, chegaram os pequenininhos – muitos amigos nossos já estavam ali conosco. Expliquei o que acontecia. O do meio começou a chorar, depois o menor. Mônica Albuquerque, diretora de produção da Globo, ligou pouco depois e disse: Lu. Nesse Lu, eu senti. Você não tem uma boa notícia para mim?, perguntei. Ela disse que não.
E garante que os filhos a ajudam a lidar com a perda.
– É um exercício. Estamos ressignificando os lugares que frequentávamos com ele, alimentamos memórias. Mas as crianças assimilam a perda de outra maneira: o agora é mais importante do que o amanhã.
Luciana termina dizendo que a família é parte essencial no dia a dia.
– Diariamente. É o imediatismo deles que me sustenta. Estamos aprendendo a viver nessa configuração de família.