Sob pressão por causa de um novo documentário detalhando alegações de abuso infantil por parte de Michael Jackson, a ser exibido pela HBO em março, o espólio do cantor anunciou na semana passada a decisão de cancelar as apresentações de um musical inspirado em sua obra. A produção iniciaria uma turnê em Chicago, com o objetivo de chegar à Broadway.
A família do cantor e a produtora responsável pela atração, a Columbia Live Stage, disseram que tentarão estrear o musical diretamente em Nova York, no verão de 2020.
A razão para a mudança de planos, segundo os produtores, não foi o documentário, mas dificuldades de agenda causadas por uma disputa trabalhista. Um impasse de cinco semanas com o Sindicato de Artistas, que foi resolvido na semana passada, adiou o desenvolvimento da peça. Diante disso, os produtores decidiram que precisariam de mais tempo para colocar o musical em pé.
O musical, Don’t Stop ‘Til You Get Enough, tem um time cheio de credenciais respeitadas. O texto é de Lynn Nottage, dramaturga vencedora de dois prêmios Pulitzer e conhecida por pesquisar a fundo os assuntos que aborda em suas peças. O diretor e o coreógrafo Christopher Wheeldon, que recebeu um Tony Award (o Oscar do teatro americano) por uma versão de An American in Paris.
O musical foi anunciado há oito meses. O texto já passou por um período de desenvolvimento e testes. Na última quinta-feira, os produtores disseram que outro workshop de desenvolvimento será feito em Nova York, no fim deste ano.
O cancelamento da estreia em Chicago, no entanto, ocorreu três semanas depois da exibição do documentário Leaving Neverland no Festival de Sundance.
O filme, escrito e dirigido por Dan Reed, detalha as alegações de dois homens, Wade Robson e James Safechuck, que dizem ter sofrido abusos de Jackson quando eram menores de idade. Ambos deram apoio a Jackson durante o julgamento sobre abusos, em 2005, negando terem sofrido violência. Após a morte do astro, Safechuck e Robson processaram o espólio do cantor. A família ameaça processar os responsáveis pelo documentário.
O musical enfocaria no período anterior à turnê Dangerous, que começou em 1992. No ano seguinte, Jackson simplesmente parou de fazer shows, citando um vício em medicamentos que começou após uma série de denúncias de abuso que o cantor sempre negou. Não está claro como o envolvimento da família do cantor, morto em 2009, afetará o musical ou se a peça vai abordar momentos controversos da carreira de Michael Jackson.
O musical não tem relação com outras produções para o palco que usam o catálogo de canções de Jackson, como One, do Cirque du Soleil, atualmente montado em Las Vegas, e Thriller Live, em cartaz em Londres e em uma turnê europeia.