
O caso que inspirou o filme “O Exorcista” ocorreu nos Estados Unidos em 1949 e envolveu um adolescente de 14 anos submetido a rituais de exorcismo documentados por padres jesuítas. A história foi adaptada para o cinema em 1973, tornando-se um dos filmes mais marcantes do gênero terror.
Baseado em relatos da Igreja Católica e registros médicos, o episódio chamou a atenção da mídia na época e serviu como base para o livro de William Peter Blatty, de 1971, que posteriormente deu origem ao longa-metragem dirigido por William Friedkin.
LEIA TAMBÉM:
Série “Adolescência” é baseada em história real? Entenda
Veja quem são os atores das novas cinebiografias dos Beatles
Taís Araujo expõe recusa a Vin Diesel e revela episódio de racismo em condomínio de luxo
O caso aconteceu em Cottage City, Maryland, e depois em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos. A identidade do jovem envolvido é preservada até hoje por razões éticas e legais, tendo sido usado dois pseudônimos pela igreja e pelos jornais da época.
O filme sucesso de público e crítica
“O Exorcista” (1973) foi um marco do cinema, tornando-se o primeiro filme de terror a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme. A obra acompanha a história de Regan, uma menina de 12 anos que começa a apresentar comportamentos inexplicáveis, levando sua mãe a recorrer a um exorcismo realizado por dois padres.
Com cenas impactantes e trilha sonora marcante, o filme revolucionou o gênero e é frequentemente citado em listas dos filmes mais assustadores de todos os tempos.
A história real: o exorcismo de Roland Doe
A inspiração para o filme veio de um caso documentado por padres jesuítas. O adolescente, identificado pelo pseudônimo Robbie Mannheim ou Roland Doe, começou a apresentar fenômenos estranhos após o falecimento de uma tia próxima, que o introduziu ao uso de um tabuleiro ouija.
Reportagens de jornais americanos da época diziam que o menino começou a ouvir sons vindos das paredes do quarto após o falecimento da parente. Segundo os registros, objetos se moviam sozinhos, vozes estranhas eram ouvidas e marcas apareciam no corpo do jovem.
Após tentativas frustradas de ajuda médica e psicológica, a família procurou auxílio religioso. A mãe do jovem recorreu ao pastor luterano Luther Miles Schulze, que testemunhou os acontecimentos estranhos.
O ritual de exorcismo foi conduzido por padres jesuítas da Universidade de Saint Louis, no Missouri, com autorização da Igreja. Os padres Raymond Bishop, William H. Bowdern e Walter Halloran foram os responsáveis pelo exorcismo.
Bishop manteve um diário de suas visitas ao adolescente, que posteriormente entregou à universidade. Os registros indicavam episódios de violência, palavras desconhecidas e gritos considerados “sobrenaturais”. O menino reagia com força sobrenatural a elementos religiosos, objetos tremiam e até rachaduras surgiam nas paredes.
O jornal “Washington Post” foi um dos primeiros a relatar o caso, em agosto de 1949. O diário publicou que foram realizadas de 20 a 30 sessões exorcistas com o adolescente. Durante as sessões, o jovem gritava e dizia frases em latim, língua que nunca havia estudado.
O exorcismo foi realizado e o adolescente não viveu novos episódios paranormais, segundo os relatos. O menino teria acordado após a última sessão sem se lembrar do que havia ocorrido.
No entanto, posteriormente o padre Halloran contou que os sacerdotes foram manipulados pela imprensa para dizer o que as pessoas queriam ouvir e muitas inconsistências foram encontradas nos relatos, sendo difícil apontar o que realmente aconteceu.
Ficção X realidade: o que o filme alterou
Embora o filme tenha mantido a essência do caso – um jovem possuído e a intervenção da Igreja –, várias alterações foram feitas para fins dramáticos.
- No filme, a personagem possuída é uma menina, enquanto na realidade tratava-se de um menino.
- As cenas de levitação, vômito verde e rotação da cabeça são elementos fictícios, criados para aumentar o impacto visual.
- A ambientação da trama também foi transferida para Georgetown, em Washington, D.C., por decisão criativa do autor.
Apesar das diferenças, muitos elementos reais, como os relatos de objetos se movendo e a resistência do jovem durante os rituais, foram mantidos.
Mistério permanece: o que se sabe até hoje?
Mesmo com registros escritos e depoimentos de testemunhas, o caso permanece envolto em mistério. Especialistas ainda debatem se o jovem sofria de distúrbios psiquiátricos ou se realmente foi um caso de possessão.
Pesquisadores e jornalistas investigaram o caso ao longo dos anos, e documentos originais dos padres envolvidos foram publicados parcialmente por universidades e estudiosos. No entanto, a verdadeira natureza dos eventos nunca foi comprovada de forma conclusiva.
O jovem envolvido teria levado uma vida comum após o episódio, sem novos relatos de fenômenos paranormais. Sua identidade real nunca foi confirmada, mas alguns jornais afirmam que ele morreu em 2020, aos 84 anos.
Com tantos mistérios, a história que inspirou “O Exorcista” continua a despertar interesse e levantar questionamentos, tanto sobre o limite entre ciência e religião quanto sobre a força da narrativa no cinema.
Mais de 50 anos após o lançamento do filme, o caso ainda é um dos mais debatidos entre estudiosos do sobrenatural e da cultura pop.