Sabe aquela máxima de que toda história tem um protagonista, que na maioria das vezes é um herói? Ou então aquela certeza de que sempre é preciso ter o bonzinho e o mau da narrativa contada? Em O Mecanismo, nova série da Netflix que estreia nesta sexta-feira, dia 23, não é bem isso que acontece.
Retratando a Lava Jato, José Padilha e Elena Soarez armaram uma produção que traz como herói algo que não é comum ver em séries: a própria história. Em conversa com jornalistas no Rio de Janeiro durante coletiva de imprensa feita para apresentar a série, o cineasta explicou o porquê de essa trama não contar com um ou outro protagonista:
– Neste trabalho o herói da série é a história, não é a câmera, prefere deixar bem claro.
Isso porque nas suas produções anteriores – e de grande sucesso -, como Tropa de Elite, Narcos e Ônibus 174, sempre havia alguém que ganhava destaque e tomava para si o protagonismo do enredo.
Com o seriado que agora está disponível no serviço de streaming é diferente: em cada momento, um personagem assume a liderança da história contada, mostrando as diversas facetas que a lavagem de dinheiro têm no país.
É claro que Selton Mello, que dá vida ao Marco Ruffo, tem presença garantida nessa primeira temporada, que conta com reviravoltas surpreendentes. Mas isso não significa que seu personagem leva a trama sozinho nas costas. Caroline Abras, por exemplo, interpreta a policial Verena Cardoni, que também passa a ter grande importância para a produção com o passar dos episódios.
Isso faz, também, com que nenhum caso seja levado a ferro e fogo dentro da trama, fato que é importante para Padilha, visto que estamos em ano eleitoral.
– Trago um ponto de vista que tira da mesa esse Fla-Flu ideológico no qual a gente vive. Repito cem milhões de vezes: para mim é uma besteira sem par essa discussão dos formadores de opinião. Porque os fatos são bem claros. Como vou defender qualquer um desses grupos? Só se eu for maluco
, esclareceu o cineasta ao ser questionado sobre a possibilidade de a obra de ficção baseada em fatos reais ter alguma influência na hora do voto.
E não é só isso: ele ainda defende que as investigações continuem para que o desenrolar da história seja cada vez melhor:
– Uma coisa eu posso garantir: os políticos dos quais falamos vão assistir à essa primeira temporada em casa. Eu ainda não posso dizer se terá mais temporadas (apesar de já ser algo certo entre o elenco e a produção), mas, se tiver, eu não sei de onde eles vão ver.
História universal
A nova série será disponibilizada pela Netflix para 190 países. Isso causou estranheza para você, pensando que muitas pessoas podem não se identificar com a história regional contada por Padilha? Segundo ele, muitas delas, que acompanharam os trailers divulgados pela plataforma, já revelaram o oposto:
– Apesar de contar a história da corrupção no Brasil, muitos países também vivem essa situação. Principalmente naqueles da América Latina. Teve gente, até, que pediu para que nas futuras temporadas eu também conte o sistema de corrupção de seus países, revelou aos risos.
Isso porque, como ele mesmo explica, o tal mecanismo que dá nome ao seriado é algo geral, ponto que até já foi comparado ao tal sistema que ele tanto critica em Tropa de Elite:
– Na verdade, o sistema é uma coisa localizada da política. Já o mecanismo é geral. A corrupção estrutura a política, e ela é enorme. Se você for pensar, o mecanismo é o responsável por todas as mazelas do nosso país. E ele não tem partido. Se manifesta tanto nos países de direita, quanto nos de esquerda.
E você, o que pensa dessa história que passa a ser contada agora?