Entretenimento e Cultura

MPB em fúria: clássicos dos anos 60 ganham versões punk rock

A coletânea "Pop é Punk: 60's", reúne homenagens a ícones da música brasileira dos anos 1960

Foto: Reprodução/Grudda Records

Lá no início da década de 1980, quando o movimento punk começou a realmente fervilhar no Brasil, Chico Buarque decidiu tecer alguns comentários sobre o o gênero musical e político que arrepiava cabelos no país, fosse com gel, fosse com espanto de um público conservador: 

“Se o punk é o lixo, a miséria e a violência, então não precisamos importá-lo da Europa, pois já somos a vanguarda do punk em todo o mundo”, mal sabia ele que uns 40 e poucos anos depois, ele mesmo seria homenageado por esse estilo musical que ultrapassa gerações. 

A coletânea  “Pop é Punk: 60’s”, reúne homenagens não só a Chico, mas a outros ícones da música brasileira dos anos 1960 como Jorge Ben, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Ronnie Von e Celly Campello, em versões anárquicas e rock n’ roll. 

>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Participe da nossa comunidade no WhatsApp!

O disco é um lançamento da Grudda Records, um selo independente e coletivo, com base em Pernambuco. O material foi disponibilizado em todas as plataformas de streaming e a ideia é seguir com lançamentos de versões de todas as próximas décadas, até chegar aos anos 2010. 

O idealizador do projeto é o músico Felipe Medeiros, membro da Grudda e que assina a versão da primeira faixa do disco, “Zazueira”, de Jorge Ben, com sua banda F.Snipes. 

Ele contou que a ideia partiu de uma coletânea dos Estados Unidos, em que diversos gêneros musicais ganhavam uma versão punk rock. Foi aí que a lâmpada logo se acendeu, mas por que apenas adaptar canções? Que tal fazer versões das últimas gerações da música brasileira?

“A ideia de trabalhar com décadas, eu acho que foi muito mais interessante, porque a gente dá uma roupagem mais forte para o conceito da coletânea. A gente decidiu começar com os anos 60 e a ideia era realmente ter apenas artistas brasileiros ou pelo menos cantando em português e o nosso pensamento é conseguir dar sequência ao projeto até os anos 2010. O resultado ficou incrível e foi muito bem recebido”, contou Felipe. 

Para dar corpo a alma de músicas tão emblemáticas, ele escalou uma equipe de bandas casca grossa do underground nacional, como Os Texugos, o músico Davi Pacote (ex-Tequila Baby), Dan & The Gummy Hunters, Dead Nomad, e Rosa Tigre. 

“A gente acabou trazendo para perto bandas que já tínhamos intimidade e que tinham a ver com o projeto e que sabíamos que teriam interesse em participar. Foi massa porque algumas bandas já faziam versões ou covers dessas músicas, como Rosa Tigre, que já fazia versão da música que eles gravaram (Preciso Ser Feliz – Renato e Seus Blue Caps)”, revelou. 

Uma coisa que chama atenção no material é que grande parte das bandas, 70% delas, como define Felipe, é conhecida no cenário nacional por conta do ‘punk bubblegum’ que une a estética e o som punk às baladas e melodias da música pop dos anos 60 (e daí pra frente), como é o caso de Davi Pacote e Os Texugos. 

A escolha, no entanto, não foi intencional, como revela o idealizador, apenas aconteceu. Apesar disso, o estilo das bandas garantiu uma roupagem sólida e muito mais orgânica às regravações das canções originais. 

“Eu acho que 70% das bandas têm essa pegada bubblegum, ficou mais fácil de traduzir isso de acordo com o estilo da banda, mas não foi proposital. Foi apenas uma coincidência, essas bandas são as que eu mais convivo hoje em dia, então foi mais fácil para reunir a galera. Ficou sensacional as versões dos meninos”. 

E para quem está lendo e pode estar se perguntando: mas quem diabos faz ou fazia este tal de punk bubblegum? Uma das maiores bandas do gênero, todos filhos de  mães diferentes, mas que juntos, gostavam de ser chamados de Ramones.

E quanto a escolha das músicas, Felipe revela que a ideia da sua própria banda de homenagear Jorge Ben, vem do fato de ele mesmo ser um grande fã do músico carioca, assim como de toda a geração brasileira dos anos 60, Jovem Guarda inclusa. 

“Jorge Ben sempre foi uma grande influência, não só como artista, mas como compositor. As letras dele abordam temas que me interessam muito. Quando a gente montou o projeto eu vi a oportunidade fazer essa homenagem”, contou. 

“Zazueira é uma música que me traz muitas lembranças boas. Anos 60 influenciou muito minha vida, cresci escutando Renato e Seus Blue Caps, Beatles, Roberto Carlos, através dos meus pais e tios. Foi muito especial por causa disso, principalmente por serem músicas que trouxeram de volta a adolescência dos meus pais”, finalizou. 

Quem quiser conferir o projeto, o “Pop é Punk: 60’s” está disponível em todas as plataformas de streaming. 

Faixas:

1. F.Snipes – “Zazueira” (Jorge Ben)
2. Dan & The Gummy Hunters – “Roda Viva” (Chico Buarque)
3. Emersson Ramone – “Nossa Canção” – Luiz Ayrão (Roberto Carlos)
4. Ildefonsos – “O Bom” (The Fevers) – Carlos Imperial
5. Rosa Tigre – “Preciso Ser Feliz” (Renato e Seus Blue Caps)
6. Roger Capone e os Planárias – “Quero que tudo vá pro inferno” (Roberto Carlos)
7. Estragonoff – “Alegria, Alegria” (Caetano Veloso)
8. Bubblegumers – “Se alguém chorou” (Ronnie Von)
9. Rooster – “Ando meio desligado” (Os Mutantes)
10. Os Texugos – “Gatinha manhosa” (Erasmo Carlos e Roberto Carlos)
11. Morenas Azuis – “E Por Isso Estou Aqui” (Roberto Carlos)
12. Dead Nomads – “Trabalhar” (The Bubbles)
13. Janelles – “Broto Legal” – Celly Campello (Renato Corte Real)
14. Davi Pacote – “Se Você Pensa” (Erasmo Carlos / Roberto Carlos)

Reportagem: Guilherme Lage 

Foto: Thiago Soares/ Folha Vitória
Gabriel Barros Produtor web
Produtor web
Graduado em Jornalismo e mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Ufes. Atua desde 2020 no jornal online Folha Vitória.