Rio – O tradicional Cordão do Boitatá levou 50 mil pessoas neste domingo, 15, à Praça 15, no centro histórico do Rio, em uma apresentação de sete horas que contou com nomes da MPB como as cantoras Teresa Cristina e Roberta Sá. Completando seu 19º carnaval neste ano, o bloco empolgou os fãs de antigos bailes de carnaval com um repertório de sambas e marchinhas. No fim da tarde, o Simpatia é Quase Amor levou uma multidão à orla de Ipanema, na zona sul.
Componentes do Boitatá costumam dizer que o carnaval do bloco é um “baile multicultural”. Este ano, os compositores lembraram os 450 anos da cidade em canções criadas especialmente para o baile. Por volta de 10 horas, era possível observar a presença maciça de idosos e crianças, mesmo sob sol e forte calor. Além do clima familiar, outra marca do Boitatá é a irreverência. Podia ser observada nos diversos grupos que optaram por fantasias contendo críticas sociais e políticas.
Todo ano, o professor Marcelo Ferro, de 48 anos, e mais três colegas também professores costumam ir ao Boitatá com fantasias que fazem piada com problemas sociais. “Sempre é no Boitatá, a gente só usa essas fantasias aqui”, diz . “O bloco tem um componente de irreverência e um público que pode divulgar a ideia”. A escolha deste ano foi a crise hídrica, e os quatro estavam vestidos de “solução”, com menções a lencinhos umedecidos e fraldas. As quatro fantasias foram confeccionadas uma semana antes. “A gente procura escolher o tema que esteja mais em voga no momento”, explicou o professor.
O estilista Jerry Fernando dos Santos, 48, levou amigos e familiares ao Boitatá: todos vestidos de empregadas domésticas. O mote é criticar a corrupção, já que a fantasia do grupo era uma menção à “faxina em Brasília”. Eles brincam carnaval juntos há 10 anos no Cordão do Boitatá.
“A gente sempre escolhe uma profissão pra brincar”, afirma o estilista, que já se vestiu com os amigos de equipe médica e de cozinheiros. “O Boitatá é um bloco parado que tem esse clima de baile de carnaval como antigamente”, diz Santos, justificando a preferência pelo bloco. Fantasiada de mulher maravilha, Teresa Cristina cantou uma música da funkeira Valesca Popozuda.
Outros destaques do domingo de carnaval de rua no Rio foram o Bangalafumenga, que lotou o Aterro do Flamengo, na zona sul, com 80 mil foliões, segundo estimativa oficial da Riotur, e o Toca Raul, criado em 2011 para homenagear o cantor Raul Seixas, no centro. Um “formigueiro” humano se formou diante dos 150 percursionistas do Banga. No repertório, clássicos da MPB.
Criado em 1998, o bloco se envolveu em uma polêmica nas últimas semanas. Na internet, anunciou que não desfilaria por causa da sujeira provocada pelos foliões. Depois, publicou na sua página no Facebook um vídeo comunicando que o desfile estava mantido. Tudo não passou de estratégia de marketing. Na ocasião, uma marca de produto de limpeza foi anunciada como apoiadora do grupo.
Até o início da noite, a Riotur não havia divulgado estimativa sobre o público do Simpatia É Quase Amor, mas organizadores esperavam ultrapassar a marca do ano passado, de 100 mil pessoas. Foi o 31º desfile do bloco, que reúne 200 ritmistas e é conhecido pelo grito de guerra “Alô, burguesia de Ipanema!”