As transmissões ao vivo NPC se tornaram o centro das discussões nas redes sociais durante as últimas semanas. A nova modalidade foi considerada por muitos críticos como uma maneira de ganhar dinheiro fácil.
>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Participe da nossa comunidade no WhatsApp ou entre no nosso canal do Telegram!
Mas, afinal, o que é a live NPC?
NPC ou Não Player Ball Capture são personagem não-jogáveis em videogames. aquele que aparecem como “figurante” da história do jogo, mas não são controláveis pelos usuários.
Nas chamadas “lives NPC”, nova moda nas rede sociais — principalmente no TikTok —, as pessoas fazem transmissões ao vivo se comportando e se vestindo como personagens não-jogáveis.
O assunto polêmico trata da tendência na qual criadores assumem o papel de personagens de videogame, recebendo presentes e doações financeiras.
O que explica sucesso das lives NPC?
Devido à grande procura por este tipo de conteúdo, a psiquiatra Maria Clara Silveira comentou nas plataformas digitais acerca dos motivos por trás do sucesso.
LEIA TAMBÉM: Morre Michael Gambon, o Dumbledore de Harry Potter
Segundo a médica, o comportamento dos criadores e as interações com o público de conteúdo estimulam o sistema de recompensa do cérebro humano.
“Quem está assistindo recolhe uma recompensa virtual, que é a reação daquele criador de conteúdo, e o criador, agindo dessa forma, recolhe uma recompensa em dinheiro. É um circuito de ação e recompensa, que é muito bem coordenado pelo cérebro.”
Por que lives viciam?
Para a psiquiatra Julia Trindade, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), os circuitos de recompensa cerebrais envolvem também a liberação de dopamina, neurotransmissor associado à sensação de recompensa e prazer.
Dessa forma, ao experimentar algo percebido como gratificante, como uma comida saborosa ou uma meta pessoal, o circuito de recompensa é ativado, liberando a dopamina.
LEIA TAM´BÉM: Oktoberfest Domingos Martins começa nesta quinta-feira
Este ciclo de liberação, por sua vez, cria um reforço positivo. Assim, a repetição do comportamento que levou à recompensa é incentivada.
“Ao assistir aos NPCs em situações desafiadoras e emocionantes, é possível experimentar um aumento na frequência cardíaca e uma resposta emocional intensificada. Com isso, a ativação do circuito de recompensa também ocorre, pois o cérebro associa essas experiências emocionais intensas com gratificação e prazer. Em essência, o cérebro humano é programado para buscar experiências que despertem emoções intensas, e os vídeos de NPCs muitas vezes proporcionam exatamente isso“, explica.
No contexto das redes sociais, este circuito de recompensas pode ser ativado por um grupo de fatores estimulantes, entre eles experiencias artísticas, entretenimento, conquistas pessoais, ou a busca por gratificação instantânea nas redes sociais.
“Embora a ativação do circuito de recompensa seja normal, a intensidade e a natureza dos estímulos que o ativam podem variar consideravelmente, gerando implicações para a saúde mental e o bem-estar quando essa busca por recompensa se torna excessiva ou desequilibrada.“
Mito de Pigmaleão
Para a psiquiatra Maria Clara, as interações digitais debilitaram as reações pessoais. Por isso, as vulnerabilidades humanas se tornaram uma fraqueza. Com o intuito de esclarecer o pensamento, a especialista utilizou o mito grego de Pigmaleão.
“Pigmaleão era um escultor e, por achar que nenhuma mulher estava à sua altura, ele esculpiu uma estátua do que seria a sua ‘mulher perfeita’. Ele se apaixonou pelo objeto e Afrodite, com pena da situação, deu vida para a estátua. No nosso caso, acredito que as pessoas têm se apaixonado pelas versões digitais de si mesmas na internet há muito tempo, e a rede social faz o papel reverso da Afrodite. Não são os personagens que ganham vida. São os vivos que se tornam personagens”.
LEIA TAMBÉM: Bebê brasileiro nasce com barba e viraliza no TikTok: “Filho do Tony Ramos”
Idealização do comportamento
Acerca da ativação do sistema de recompensa, a psiquiatra Julia Trindade comenta ainda sobre a possibilidade da existência de um processo de idealização relacionado ao comportamento, influenciado por normas culturais, sociais e pessoais.
Conforme o pensamento da médica, a idealização, nestes casos, estaria relacionada à busca por recompensas, as quais seguem valores, aspirações e objetivos pessoais.
Por isso, a forma como cada pessoa percebe o que é recompensador pode ser moldada pela sua cultura, ambiente social e experiências de vida, como traumas ou sucessos passados.
“A idealização permite a criação daquilo que gostamos, do que é inexistente e inalcançável. Logo, se não é real, consequentemente não é algo com defeitos ou que possa oferecer frustrações.”
LEIA TAMBÉM: Grávida? Virginia Fonseca é surpreendida com atitude da filha
Para maior compreensão, a especialista cita a fictossexualidade, comum no Japão, na qual pessoas criam bonecas baseadas em personagens femininas de videogame.
“Tal busca por companheiros perfeitos pode derivar de indivíduos que costumam enfrentar dificuldades para manter relacionamentos e lidar com a frustração. Assim, é possível compreender que as pessoas usam a internet, e a idealização ou busca por personagens de videogame ideais, como uma garantia de ausência de frustração. Afinal, ao encontrar ou criar um personagem exatamente conforme as expectativas, não há decepções, o indivíduo se sente no controle total e, assim, o cérebro ativa o sistema de recompensa, bem-estar e prazer, que também é gerado pelas questões envolvendo dinheiro”, finaliza.
*Com informações do Portal R7.