Representando bem o encontro de gerações de artistas presente na Exposição 20/20, que marca os 20 anos do Museu Vale, José Carlos Vilar e Sandro Novaes, respectivamente, professor e aluno, trazem suas obras para a mostra.
Já conhecido há alguns anos por suas esculturas cônicas, Vilar esculpiu em madeira de lei, usando a técnica do entalhe com formões e goivas, uma série de bateias, instrumentos usados por garimpeiros para separar as pedras ou metais preciosos dos cascalhos. Ricas em detalhes, até o fruto do garimpo ganhou forma dentro dos utensílios.
“Quis representar o sonho do garimpeiro, a busca quase fictícia e ilusória. Os elementos incrustados simbolizam ora o ouro ora os seixos. O garimpeiro tem isso, pega a riqueza e vaza o resto”, explica Vilar.
O processo de criação desse experiente escultor, sempre baseado no diálogo com suas peças, como ele mesmo revela, durou um mês e meio, com jornadas de até 15 horas diárias. “Moro no ateliê, então estou sempre conversando e em cumplicidade com minhas peças. Gosto da madeira, pois o material responde com mais lentidão à minha criação. Exige muito empenho, mas é uma forma de resgatar esse fazer artístico mais tradicional”, explica.
Já o pupilo de Vilar, Sandro, que foi também seu monitor na universidade por sete anos, apresenta na Exposição 20/20 a série “Um risco por segundo”, formada por 12 desenhos, medindo 100 x 70 centímetros cada, feitos em grafite sobre papel, compostos unicamente por linhas retas ou formas geométricas de ordem puramente compositiva. “Como o nome diz, trabalho com o tempo, a cada segundo faço um risco no papel, sem artifícios, a mão livre. Depois de pronto, nomeio o desenho com o número de segundos e/ou linhas utilizadas. Por exemplo, 11.212 segundos e/ou linhas”, explica Sandro.
Compostos sempre por linhas retas que se emaranham de forma labiríntica, os desenhos, feitos em cerca de dois meses, entregam uma certa alusão à profundidade espacial, além de uma clara maneira de restringi-lo à sua forma mais tradicional, direta e simples.
“Poética e conceitualmente, busco discutir uma possibilidade de intersubjetivar minha apreensão do tempo, materializando-o no espaço plano do papel. Para que se apresentem as formas geométricas e as separações de campos, utilizo tonalidades diferentes, além do controle da força no momento da ação, usando grafites que vão dos mais duros e claros aos mais macios e escuros”, detalha o artista.
Além do amor pela arte, o que une Vilar e Sandro é a admiração mútua. “Ele foi um grande aluno. Já estava pronto, mas acho que consegui passar alguma experiência também. Ele é muito humilde. Foi meu monitor, sempre muito bom. Fico feliz de ser cúmplice da formação dele, pois ele representa essa nova geração de artistas que acredita muito em si mesmo. E nós temos que acreditar em nós”, desabafa Vilar.
“O Vilar foi meu professor dentro e fora da universidade. Tive a oportunidade de trabalhar e aprender muito com ele e tenho um orgulho imenso de ter aproveitado essa chance que, ainda hoje, me proporciona muita possibilidade na hora de desenvolver meus trabalhos. Tê-lo junto na exposição é um orgulho não só para mim, mas para muitos dos que ali estão. A maioria passou por suas aulas e absorveu a sua relação séria com o pensamento e a prática artística. É um cara que leva as coisas a sério, dá sempre o melhor de si, busca a excelência, e isso eu absorvi: sou extremamente detalhista e crítico com o que faço”, conta Sandro.
Para ambos estar na Exposição 20/20 é gratificante. “Sinto-me honrado em ser lembrado e também da oportunidade que estão dando para os novos talentos. Como artista local, tenho preocupação com essa continuação e quero deixar o meu legado neles”, finaliza Vilar. “Representa uma felicidade imensa, satisfação e gratidão. É um grande incentivo saber que o que estamos produzindo está sendo apreendido, isso fortalece nosso ânimo para continuar nessa árdua caminhada”, conclui Sandro.
Serviço
Exposição 20/20
Até 25/02/2019
Terças a sextas, das 8h às 17h, sábados e domingos, das 10h às 18h
Em janeiro, terças a domingos, das 10h às 18h
Entrada gratuita
Museu Vale – Antiga Estação Pedro Nolasco, s/n, Argolas – Vila Velha/ES
Informações: (27) 3333-2484