O Museu Capixaba do Negro “Veronica da Pas” (Mucane) comemora, neste sábado (13), 24 anos de existência. No mesmo dia, é celebrado o dia da Abolição da Escravatura com o Afro Centrão, evento que tem por objetivo ressignificar a assinatura da Lei Áurea, feita pela Princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888.
A partir das 13h, haverá uma programação que reúne aula expositiva, apresentações musicais e um circuito que valoriza os espaços representativos da identidade negra com sede no Centro Histórico de Vitória. O evento tem como ponto de partida o Mucane, localizado no Centro da capital do Estado.
De acordo com a organizadora do evento e coordenadora do museu, Thaís Souto Amorim, a proposta de ressignificação cumprirá o papel de desmistificar a abolição da escravatura.
“Para nós, não é um dia de comemoração, mas sim de conscientização. O senso comum comemora, por conta do que é ensinado nas escolas. O dia é visto por nós apenas por um viés. A data é tida como uma redenção para os negros mas, na verdade, foi um dia em que fomos tirados da escravidão e jogados para a margem da sociedade, sem emprego, presos… Com isso, grande parte do povo negro ocupou as periferias. O fato é: não reconhecemos Isabel como princesa ou como heroína. Para explicar isso melhor, o circuito começa com uma aula a respeito do assunto tratando sobre essa falsa abolição”, fala Thaís.
Saindo do Mucane, o projeto Visitar acompanha o público aos espaços parceiros do circuito: Instituto das Pretas, Salão Avivar, Núcleo Afro Odomodê, Ponto Black, Escadaria e Igreja do Rosário, Raiz Forte, Espaço Hip Hop, Burlesqueria, Casa da Barão, além dos bares da Zilda e do Nei, redutos do samba da região.
“Todos esses locais são espaços de referência da questão racial ou trabalham com isso. A maioria deles são pontos artísticos, mas há aqueles que são referência histórica de utilização por parte do povo negro, digo tanto os públicos como os privados, que são nossos parceiros. A maioria das atividades realizadas nesses espaços acontecem rotineiramente no mesmo dia e horário e muitos frequentadores.
Pensamos então em uma forma de fazer todo o nosso público transitar em todos esses locais. A caminhada tem o objetivo de falar sobre o dia e potencializar as dinâmicas de trabalho no Centro”, ressalta a organizadora.
Segundo Thaís, o Centro de Vitória é o local perfeito para realização do evento. “O museu é aqui e tem todo um contexto histórico em cima disso. Além do mais, é um local referência sobre a resistência da população negra, que inclusive fundou o Mucane. O Centro é um lugar cheio de arranjos culturais mas com pouco recorte racial. Entendemos que o Centro precisava desse recorte étnico cultural. Além desses fatores, o Centro significa muito pela quantidade de pessoa, acessibilidade, transporte e também pelo charme. É um local onde todos querem estar e com espaços específicos para tratar nossas questões”, comenta.
Programação Afro Centrão
Apresentação Ritmos Brasileiros (Mucane)
O evento tem início às 13 horas, com o pocket show do músico e instrutor do Mucane Léo de Paula. A apresentação marca a abertura da Oficina de Ritmos Afrobrasileiros, que tem a proposta de resgatar e preservar a ancestralidade através dos ritmos característicos da música sacra afrobrasileira.
Aula Desconstrução Histórica do dia 13 de maio (Mucane)
A socióloga e mestre em História Munah Malek Felicio irá apresentar um panorama sobre a historiografia oficial do Dia da Abolição da Escravatura, que restringe o movimento abolicionista ao protagonismo de círculos brancos de homens letrados que culminaram na assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.
Para ela, a possibilidade de debater o assunto é a oportunidade de incluir o negro no processo que culminou no abolicionismo. “A importância é recuperar uma parte da história não tratada pela historiografia e em como isso culmina nos dias de hoje, em um maior orgulho da história negra, um maior orgulho de ser negro. Resgatar a história, resgatar pessoas, resgatar a cultura, a autoestima e o protagonismo”.
I Circuito Afro do Centro Histórico de Vitória
Saindo do Mucane, o projeto Visitar irá com o público aos espaços parceiros do circuito: Instituto das Pretas, Salão Avivar, Núcleo Afro Odomodê, Ponto Black, Escadaria e Igreja do Rosário, Raiz Forte, Espaço Hip Hop, Burlesqueria, Casa da Barão, além dos bares da Zilda e do Nei, redutos do samba da região.
O circuito tem a proposta de valorizar a memória e a proteção do patrimônio material e imaterial ligado à cultura Afro, além de representar um marco na luta pela visibilidade e resistência da população negra na capital capixaba.
Show com a Velha Guarda do Samba Capixaba (Mucane)
Encerrando a programação, a velha Guarda do Samba Capixaba apresenta o show “O Samba Pede Passagem”, que reúne clássicos da música produzida no Estado e em todo Brasil e preserva todas nuances do samba.
Mucane
Criado em 13 de maio de 1993, o Museu Capixaba do Negro “Veronica da Pas” (Mucane) é um espaço de convergência de serviços destinados à população negra e à comunidade em geral. No local, acontecem cursos e oficinas de formação artística, além de espaços para o debate e exposições voltadas para a história e identidade negra.
Para o secretário de Cultura, Francisco Grijó, o museu é um importante espaço de exercício da cidadania. “O Mucane merece os parabéns pela relevância cultural no que ele produz, veicula e simboliza em mais de duas décadas de história. Capaz de revelar a história e a cultura afrodescendentes, bem como expressar todas as suas influências, o Mucane é um espaço em que a cidadania e a democracia passam a ser exercidas efetivamente. É um museu vivo”.
Desde sua reabertura, em 2012, o museu realizou 14 exposições, em parceria com artistas e coletivos ou por meio de edital de ocupação de espaços, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura (Semc). As mostras também desenvolvem trabalhos voltados para a arte-educação, que tem o objetivo de ampliar o debate proposto pelos temas apresentados na sala expositiva. No momento está em construção um catálogo on-line com o acervo do espaço.
Só em 2017, o Mucane ofereceu 250 novas vagas para as oficinas culturais nas áreas da música, da dança, da capoeira e da literatura. As oficinas fazem parte do calendário regular de atividades do local.
O Mucane também é a sede da Biblioteca Joaquim Beato, que tem a proposta de atender uma demanda diversificada de estudos das relações étnico-raciais no que se refere ao trabalho educativo sobre o antirracismo no Brasil.
No acervo, formado por mais de 400 títulos, as publicações tratam desde questões sociais e religiões de matriz africana até a literatura contemporânea, além de ser um espaço voltado para o desenvolvimento do saber, com políticas de ações afirmativas de reparação, de reconhecimento e de valorização da história da cultura dos negros.
Serviço
Aniversário de 24 anos do Mucane
Afro Centrão – I Circuito Afro do Centro Histórico de Vitória
Quando: 13 de maio, sábado, às 13 horas
Onde: Museu Capixaba do Negro “Veronica da Pas” (Mucane) – avenida República, 121, Centro
Entrada gratuita