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Superação: Mc que venceu as drogas com rap vai cantar no Shopping Vitória Music Lounge

Adikto é pós-graduado em Geografia Ambiental e, além das salas de aula, também domina os palcos. A vida de compositor e intérprete começou ao vencer o concurso "Vitória Music Festival"

Neste sábado (16), o MC estará no SV Music Lounge by Jovem Pan para rimar ao vivo seus principais sucessos Foto: Divulgação

Com poesia e improviso, ele superou o mundo das drogas nos anos 90. A mesma poesia, rabiscada no caderno de terapia, foi responsável por transformar André Luiz em Mc Adikto, assim chamado no universo do Hip Hop.

Aos 38 anos, Adikto é pós-graduado em Geografia Ambiental e, além das salas de aula, também domina os palcos. A vida de compositor e intérprete começou ao vencer, em 2003, o concurso de novos talentos “Vitória Music Festival” com a música ‘Vida após as drogas’. De lá para cá, Adikto colecionou vários prêmios e lançou o disco “– Discípulo sem Cerimônia”. 

Neste sábado (16), o MC estará no SV Music Lounge by Jovem Pan para rimar ao vivo seus principais sucessos. São dez dias de shows! Confira a programação das bandas e artistas capixabas que passarão pelo Lounge.

Em entrevista especial ao jornal online Folha Vitória, Adikto falou sobre sua trajetória.

Como conheceu a cultura do Hip Hop? 

Na verdade, conheci o rap quando era adolescente, no início dos anos 90, aos 13 anos. Comecei a escutar o rap norte-americano, e logo na sequência conheci alguns caras aqui [Brasil] que já estavam fazendo sucesso: Gabriel Pensador e Racionais Mc’s. Passei os anos 90 só como ouvinte, sem escrever uma letra.

Em 1998 passei por um revés muito forte, fiquei viciado em drogas durante seis anos. Resolvi parar e parei de vez. Usei a escrita como terapia, era conselho do terapeuta. Quando comecei a fazer, percebi que escrevia poesias ao invés de texto dissertativo. Fiz isso durante um ano e meio e acumulei algumas poesias. Até que um dia, me chamaram para ajudar em oficinas de hip hop e conheci um cara da cultura hip hop. Ele teve acesso ao meu caderno, sem querer, e leu. O cara ‘pirou’ com as letras e colocou pilha: “bicho, vamos cantar!”. Em 2001 foi a primeira vez em que subi no palco, e em 2003 teve o ‘Vitória Music Festival’, onde me inscrevi para participar com a letra “Vida após as drogas”. A música passou e eu ganhei o festival. Venci Lion Jump, Pele Morena, entre outros, e recebi o troféu de melhor intérprete. Ali, aquilo que era terapêutico, se tornou sério. 

De onde vem sua inspiração? 

Inspiração vem do dia a dia, do cotidiano, experiências que vivo e observo. Vem do comportamento humano… Sou um cara que gosta de escrever muito, sobre comportamento e sentimento. Tem muito MC que fala sobre a sociedade, fala mal da educação e política. Geralmente não abordo, falo mais de coisas do dia a dia, do ser humano e sobre emoções, como raiva, amor, desconfiança, amizade.

Você aposta no hip hop como um movimento transformador do indivíduo?

Sim, com certeza. Consegue porque a lógica da escrita do rap é muito mais observadora e crítica do que propriamente subjetiva. O rap nasce da observação da realidade e não da ilusão. Pode ser boa ou ruim…

Como você analisa a divulgação do hip hop?

Vejo que essa segunda década, de 2010 pra cá, houve uma renovação muito grande do público. Tem uma molecada nova… Na época em que comecei, aos 13 anos, escutávamos muito rock. Era uma fase da contestação e parecia que o rock se encaixava melhor. Existia só o rap gringo e hoje já tem muito rap porque o jovem passou a se identificar com essa pegada contestadora, o público deu uma crescida bem grande.

Nesses últimos 5 anos, o público aumentou umas 10 vezes. Começamos a chegar mais forte na mídia, às populares porque nos canais fechados o rap já é forte e tem mais expressão. Todo mundo está consumindo o rap como estilo de música como consumiam anteriormente o samba, rock, entre outros. É como se o rap tivesse entrado no estilo. Se você reparar a programação da Jovem Pan, três pelos menos são rap. Creio que agora firmou. O rap é um gênero musical que é escutado.

Acho que precisa melhorar muito, principalmente no que diz respeito ao rap brasileiro. É muito fácil tocar um rap intercional que ninguém entende nada do que tocar sons nacionais. O pessoal fica muito batido em coisas que são “natinha do leite” e falam “toca Pólo”. Quem nunca ouviu ‘Vagalume’? Quando lança uma música dessa, dá abertura. Agora está a maior polêmica porque o Mano Brown gravou música com Naldo. O pessoal questiona “Será que o rap não é mais como antes?”. Na verdade, é um segmento musical igual sertanejo, onde a galera consome Luan Santana, Jorge e Mateus. Mas tem o público do João Mineiro e Marciano, que é o cara mais raiz. Da mesma forma que o rap tem isso. Por exemplo, no evento que participei tinham três vertentes de rap. Todo mundo foi para lá e se identificou.

Você acredita que os reality shows musicais ajudam?

Depende… Só se o MC também for cantor, como o Criolo. Ele é um cantor, já nem é mais chamado de MC. Os realities observam a parte técnica do cantor e o rap, neste caso, fica prejudicado. Teoricamente, qualquer um pode gravar rap porque a rima é algo falado. Ele é ‘ritmado’ e você se tiver rima, consegue.

O cara nesse programa além de rimar, tem que cantar. Se porventura um cara desse aparece, ele se destaca porque além de cantar, também rima.  Se não é repassado o bom, o publico não conhece. Hoje, a maioria dos artistas bons estão na internet porque ali é ele quem manda. 

Já sofreu preconceito?

Já. Vários tipos… primeiro, o preconceito de ser MC. Porque ser um cara que rima, no meio musical, gera preconceito. O cara associa MC ao funk e a gente recebe preconceito pelo preconceito do funk. A pessoa torce o nariz só por isso.

E também pela questão dos próprios músicos. O rock, por exemplo, torce o nariz para a gente e acha que nosso som é feito muito eletronicamente, acham pobre e fácil. Outro que já sofri foi com o próprio trabalho, pois não acreditam e perguntam “pô, você é professor e é MC? Por que você não toca uma música clássica?”. Na sala de aula acontece o contrário, o aluno não acredita que sou MC e se surpreende.

Quais são os projetos para o futuro?

Estou preparando meu segundo disco, o “Discípulo sem cerimônia – Vol.II”. Imagino que deve chegar até dezembro. Já gravei algumas partes e preciso terminar outras. 

O que acha dessa ação promovida pelo Shopping Vitória em parceria com a Jovem Pan?

É uma honra. O fato de estar ali, eu e o Gabriel, mandando umas rimas e ninguém imaginaria dentro do ambiente do shopping um som de rap. É bacana porque aguça a curiosidade, aproxima o público.

Recado para o público:

Peço para a ‘galera’ que curte rap, que curte um som feito de coração na ponta da caneta, que passem lá para conferir e escutar. Vai ser um prazer fazer esse som e mostrar que é diferente.