Quem ainda não visitou a exposição “eumuseu rosana paste” que está na Galeria Matias Brotas, tem até o próximo dia 14. Depois de nove anos sem expor, a artista plástica capixaba Rosana Paste retorna com a mostra individual e também com o livro de mesmo nome.
A exposição reúne esculturas, fotografias, desenhos, plotagens, adesivos, com foco no desenvolvimento da proposição artística Geografia Genética, onde entra o corpo como obra, a história e a memória, que ela revela também através de fotos comparativas de três gerações de sua família: ela, dona Jove que é a mãe e Daniel, o filho.
Na performance “artista de corpo presente”, Rosana como proponente convida Taiza Ammar, Lobo Pasolini e Jocimar Nalesso, o coletivo que desenvolveu o trabalho do livro. “Rosana nos esperava em casa como uma sacerdotisa pagã que prepara um ritual, um ritual onde o corpo da artista, peça central de sua obra, seria ofertado como material para ser manuseado, manipulado e re-territorializado como parte de uma performance registrada para esse livro”, conta Lobo Pasolini.
A artista coloca seu corpo como eixo principal do trabalho em processo, disponibilizando somente tesouras e placas de chumbo para serem moldadas. O registro fotográfico do processo está no livro “eumuseu rosana paste”, que será lançado na noite do vernissage.
Outra referência importante na obra da artista é a utilização de múltiplos. Nesta mostra os múltiplos aparecem em sete delicadas e instigantes esculturas de cadeiras em aço inox e veludo com o titulo “entre rainhas”. Sete livros de chumbo com pele de coelho e encadernados com fio de prata, também são múltiplos na exposição. Mesmo o chumbo sendo um material pesado, é maleável, podendo suas páginas ser folheadas.
Para a artista, os livros são “meio que diários, recortes de memórias, lugares onde o pensamento se permite….”. O “eumuseu”, segundo a visão da artista é um conceito ampliado de museu, pois todos nós carregamos por gerações nossas memórias, objetos que remontam nossas histórias, afetos, e talvez nossa maior peça de museu seja nossa genética, uma vez que ela nos é dada. A Geografia Genética é uma proposição artística, mas também uma provocação artística. Quem quiser pode construir a sua.
A exposição reúne trabalhos feitos a partir de uma gama de materiais que vem marcando a trajetória da artista e dando corpo à suas ideias filosóficas, incluindo chumbo, pele de coelho, aço inox, o veludo e mármore sintético. O projeto iniciou em 2002, mas as esculturas e o livro foram realizados entre os anos de 2013 e 2014.
Além das esculturas, o livro apresenta desenhos e pensamentos da artista, textos de Lobo Pasolini que ganham vida própria, pois não estão ali para ser literal com a imagem, mas sim para agregar mais informações à complexidade do projeto. Para Rosana, o fotógrafo teria que ser um cúmplice da artista para captar flagrantes silenciosos, e assim o fez Jocimar Nalesso, sem maquiagem, mostrando uma realidade processual que parece mudar a toda hora a cada página virada. Taiza Ammar como designer gráfica teve a sensibilidade para cortar e montar os registros fotográficos e os textos, criando novos territórios e multiplicidades interpretativas dos trabalhos.
No local da exposição, a artista preparou um espaço do afeto, onde mostra uma peça de vestuário antiga, de 1954 e que em 2011 ela reterritorializou em chumbo com o título “Calcinha para noite de núpcias”. A exposição e o livro “eumuseu rosana paste” traz investigações contemporâneas de arte, onde o pensamento e a prática andam juntas na construção do trabalho.
Exposição “eumuseu rosana paste”
Local: Galeria Matias Brotas – Avenida Carlos Gomes de Sá, 130, Vitória. (subida da Maternidade Santa Úrsula. Tel: (27) 3327-6966.
Horário de funcionamento: Terça a sexta – das 10h às 19h e sábado das 10h às 15h
Entrada gratuita
A exposição vai até 14 de junho