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"Wandinha": 5 razões para a série da Netflix ser uma boa surpresa

Estreia do aclamado cineasta Tim Burton na direção de um seriado consegue deixar a história de "Wandinha" interessante sem dever nada à trama da família Addams

Foto: Divulgação / Netflix

Jenna Ortega está muito à vontade como a Wandinha na série da Netflix dirigida por Tim Burton

Ultimamente nas redes, todo mundo está falando da série “Wednesday” da Netflix. É a estreia do aclamado diretor Tim Burton em séries e ela não poderia chegar de uma outra forma, ou seja, sendo uma boa surpresa. 

O cineasta, conhecido por estar sempre trabalhando com temas e estéticas dark mas com um quê de respeito pelo que é diferente, leva sua visão de mundo para esse produto que, em outras mãos, fatalmente terminaria sendo um repeteco do que a gente já viu nos filmes e seriados da Família Addams. 

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“Wednesday”, ou “Wandinha” no Brasil, segue os passos da primogênita do casal Gomez e Morticia Addams, a famosa família que causa calafrios na vizinhança por terem um modo de vida, digamos, excêntrico. 

Com uma atitude de achar que tristeza e morte fazem parte da existência e não devem ser evitadas e ,sim, encaradas de frente, os Addams não se adaptam aos costumes e às opiniões dos outros. Mas, nem por isso, são agressivos com quem pensa de outra forma. 

Só para situar quem chegou agora. O clã dos Addams é uma família fictícia de senso de humor irônico e mórbido, uma inversão satírica da família americana ideal, que surgiu nas tiras de quadrinhos nos anos 1930, criado pelo cartonista norte-americano Charles Addams (1912-1988), passando pela televisão, pelo cinema, e teatro. 

Eles são o oposto irônico do quadro da família ideal americana do século XX. Sendo ricos e aristocráticos, gostam de cultuar o macabro e o sobrenatural e aparentemente não sabem ou não se preocupam com o fato das outras pessoas os acharem bizarros ou assustadores.

Fique por dentro dos cinco motivos que tornam esse spin-off dos Addams imperdível!

1 – A série não tenta copiar o filme da Família Addams

Saudosistas de plantão achavam que “Wednesday” iria beber exclusivamente na fonte dos filmes dos anos 90 sobre a família Addams. Longe disso! Pra começar, a série estende o universo dos Addams ao acompanhar o desenrolar de uma única personagem, a Wandinha (ou melhor, Wednesday pra quem cresceu vendo as dublagens clássicas dos filmes de Sessão da Tarde), num contexto de garota-problema. Mas sem perder o vínculo com a memória afetiva da família sinistra. Ou seja, é um produto derivado dos filmes mas que tem vida e fôlego próprios. Após uma briga feia na escola ao defender o irmão, vítima constante de bullyng, Wandinha é expulsa do colégio e deve ir para uma instituição mais apropriada a seu perfil, o internato Neverland, que acolhe os chamados “excluídos”. A série desenvolve assim a história de Wandinha, rendendo uma outra narrativa. Mas, o legal é que os Addams não ficam totalmente de escanteio. No desenrolar da série, aqui e ali vão surgindo histórias de como foi o namoro entre Gomez e Mortiça, dando origem a um dos clãs mais amados do cinema.

2 – Jenna Ortega diz a que veio interpretando Wandinha

Jenna Ortega fez o dever de casa e foi além ao interpretar Wandinha. Ela disse que assistiu a todas as séries de TV, aos filmes e leu as histórias em quadrinhos para dar vida à filha mais velha dos Addams. Num brilhante trabalho de interpretação, todo esse material que ela coletou ficou como base da performance. Porém, a atriz de 20 anos deu um quê a mais na sua Wandinha: ao contrário da personagem na sua versão original, ela não é mais uma criança. É uma adolescente que, como toda jovem nessa fase de vida, está passando por aquela tríade que todo pai e mãe sabem muito bem (e que morrem de pânico quando os rebentos chegam no fim da infância): inadequação com regras e deveres, críticas aos pais (que antes eram vistos como referências) e uma certa má vontade com o mundo que a cerca. Reclusa em seus sentimentos, a atriz vai desenvolvendo na personagem o que todo adolescente precisa pra sair do marasmo juvenil: um choque com a realidade, a constatação que o mundo é desse jeito mesmo e que nada muda se a gente não interagir com quem está à volta e botar a mão na massa.

3 – Elenco equilibrado

Se tem algo também que deixa a história fluir é o equilíbrio no elenco. Ali não há espaço para canastrice ou alguém querendo aparecer mais que o outro. As interpretações soam muito bem conduzidas e não prejudicam o ritmo da série. Interessante é ver que o elenco juvenil faz bonito ao viverem adolescentes com dilemas existenciais. À medida que a história avança, vamos nos dando conta de que cada um daqueles alunos não interpretam estereótipos típicos de adolescentes em histórias passadas em colégios. 

Foto: Divulgação / Netflix

A sereia Bianca (Joy Sunday) até Wandinha chegar em Neverland era a garota mais popular do colégio

Joy Sunday, a sereia Bianca, que surge como antagonista de Wandinha, ao ver que seu posto de garota mais popular está ameaçado com a chegada da nova aluna, vai se revelando aos poucos, mostrando que há algo mais para explicar aquele comportamento de rivalidade. Até a veterana Catherine Zeta-Jones (irreconhecível como Morticia) brilha mas sem ofuscar Wandinha.

4 – A direção impecável de Tim Burton

Tim Burton é o diretor que mais leva o terror e o macabro a sério. Ele, inclusive, foi o responsável por, nas entrelinhas, promover um discurso de diversidade, de respeito ao diferente, muito antes de se falar em lacração na internet. Na verdade, bem antes da internet. Ou você já se perguntou por que personagens como Edward (de “Edward Mãos de Tesoura”), o Jack Skellington (de “O Estranho Mundo de Jack”), a Noiva Cadáver são tão amedrontadores mas aos mesmo tempo tão fascinantes em seu jeito de se apresentarem no mundo? É assim com os personagens de Burton: dá aquela sensação esquisita de um primeiro olhar mas logo nos simpatizamos por aquelas figuras e não admitimos que eles mudem nada em suas vidas. Com “Wandinha”, o diretor segue essa linha. Os chamados “excluídos” da escola Neverland, sejam eles sereias, lobisomens, vampiros, górgonas, são gente como a gente, com seus amores, medos e fracassos.

5 – O clima de mistério e do “quem matou?”

Quando vamos conhecendo junto com Wandinha os menandros e mistérios de Neverland, o risco da série era virar uma espécie de saga B de Harry Potter. Porque escola mágica cheia de segredos e peculiaridades, quem acompanha o menino-bruxo já está mais que acostumado e não impressiona se vier outra Hoggartws. Mas o cotidiano de Wandinha no colégio interno tem um traço a mais nesse quadro: a série de ataques e assassinatos de um monstro lendário no bosque que fica no entorno da escola. Wandinha encara descobrir o autor dessas mortes como um desafio pessoal. E essa subtrama deixa a série mais interessante. À medida que ela vai coletando pistas, descobre que há algo de muito estranho e peculiar nas relações entre a cidade de Jericho e a própria Neverland. De outra maneira, como explicar uma comunidade tão conservadora ser capaz de acatar a presença de uma escola cheia de quem a cidade mais odeia?

Ficha técnica:

Wandinha (Wednesday, Netflix, 2022)

Criação e roteiro: Alfred Gough e Miles Millar

Direção: Tim Burton, Gandja Monteiro e James Marshall

Elenco: Jenna Ortega, Catherine Zeta-Jones, Gwendoline Christie, Luis Guzmán, Isaac Ordonez, Emma Myers, Christina Ricci, Jamie McShane, Percy Hynes White, Hunter Doohan, Joy Sunday, Naomi J Ogawa, Moosa Mostafa, George Farmer, Riki Lindhome, Victor Dorobantu, Oliver Watson, Luyanda Unati Lewis-Nyawo, Daniel Himschoot, e Michael Okele.

Duração (1ª temporada): 8 episódios (50 a 60 minutos cada)

Onde ver: Netflix