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É comum entre pequenos agricultores familiares e povos tradicionais guardar parte das sementes na colheita para o próximo plantio. Bem adaptadas às práticas tradicionais de cultivo de cada região, elas garantem o sustento de várias gerações e preservam as características originais das plantas. Por isso são chamadas de sementes crioulas.
Na pequena propriedade da família, em Pedro Canário, no norte do Estado, dona Edite França Barbosa produz de tudo um pouco. Foi do trabalho na terra que a viúva de 77 anos tirou os alimentos que sustentaram os nove filhos biológicos e os outros três que pegou para criar. Nunca faltou comida no prato, graças aos ensinamentos dos pais dela.
Dona Didi, como é conhecida, aprendeu com eles a importância de guardar parte das sementes na colheita para o próximo plantio. “Meu pai e minha mãe só plantavam coisas naturais, orgânicas. Eles guardavam sempre uma parte das sementes para a outra safra e aí eu aprendi com eles. É hereditário”, explica.
Essa é uma prática comum entre pequenos agricultores familiares. Ajuda a economizar, já que eles não precisam comprar as sementes para a lavoura. Dona Didi garante que os alimentos desenvolvidos a partir dessas sementes também são mais saudáveis. Por isso, utiliza até mesmo para alimentar a criação.
“Eu cultivo milho para alimentar as galinhas e os porcos, porque o milho que a gente compra é todo cheio de veneno. É cheio de produtos que eles botam pra não dar gorgulho. Aí a gente tem que alimentar as criações da gente com coisas mais saudáveis pra gente não ficar envenenado também” afirma a senhora.
Para gente como dona Didi, essas sementes são como um tesouro passado de geração em geração. Ao longo das décadas elas foram sendo melhoradas, graças ao trabalho de observação e seleção feito pelos agricultores. Ainda assim, preservam as características originais das plantas, por isso são chamadas de sementes crioulas.
“Eles vão testando, fazendo os cruzamentos e vendo os pés mais produtivos, que davam os frutos mais bonitos. Assim foram melhorando as sementes e chegando a uma variedade que para aquela região é adaptada”, explica o técnico em desenvolvimento rural do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, Cláudio Rodex.
É comum ouvir que determinada semente é aproveitada pela mesma família há muitas gerações, seguindo práticas tradicionais de cultivo. Pequenos agricultores e povos tradicionais que cultivam, armazenam e fazem o melhoramento das sementes são chamados de guardiões de sementes crioulas.
“Com a degradação ambiental que tem ocorrido nas últimas décadas, muita coisa tem se perdido. Então quando os guardiões fazem esse trabalho de guardar e melhorar esse material, eles estão preservando e garantindo o alimento para as futuras gerações”, destaca o técnico em desenvolvimento rural.
Além dos guardiões, existem também os bancos de sementes. Por meio do Incaper, Cláudio iniciou um pequeno banco em Pedro Canário, em 2015. Lá recebe e fornece sementes crioulas. Já enviou até mesmo para pequenos agricultores de São Paulo, Bahia e Minas Gerais que perceberam as vantagens diante das sementes geneticamente modificadas.
A semente híbrida vai produzir muito para trazer um lucro imediato para o agricultor. Mas ele vai gastar mais, porque ela exige muito de nutrientes e água. E se ele quiser guardar sementes na colheita para usar de novo, ele não tem essa possibilidade com a híbrida. A híbrida só produz uma vez” ressalta Cláudio.
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