Ago 2022
5
Stefany Sampaio
AGRO BUSINESS

porStefany Sampaio

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Armazenamento e melhoramento de sementes

Na pequena propriedade da família, em Pedro Canário, no norte do Estado, dona Edite França Barbosa produz de tudo um pouco. Foi do trabalho na terra que a viúva de 77 anos tirou os alimentos que sustentaram os nove filhos biológicos e os outros três que pegou para criar. Nunca faltou comida no prato, graças aos ensinamentos dos pais dela.

Dona Didi, como é conhecida, aprendeu com eles a importância de guardar parte das sementes na colheita para o próximo plantio. “Meu pai e minha mãe só plantavam coisas naturais, orgânicas. Eles guardavam sempre uma parte das sementes para a outra safra e aí eu aprendi com eles. É hereditário”, explica.

Essa é uma prática comum entre pequenos agricultores familiares. Ajuda a economizar, já que eles não precisam comprar as sementes para a lavoura. Dona Didi garante que os alimentos desenvolvidos a partir dessas sementes também são mais saudáveis. Por isso, utiliza até mesmo para alimentar a criação.

“Eu cultivo milho para alimentar as galinhas e os porcos, porque o milho que a gente compra é todo cheio de veneno. É cheio de produtos que eles botam pra não dar gorgulho. Aí a gente tem que alimentar as criações da gente com coisas mais saudáveis pra gente não ficar envenenado também” afirma a senhora.

Para gente como dona Didi, essas sementes são como um tesouro passado de geração em geração. Ao longo das décadas elas foram sendo melhoradas, graças ao trabalho de observação e seleção feito pelos agricultores. Ainda assim, preservam as características originais das plantas, por isso são chamadas de sementes crioulas.

“Eles vão testando, fazendo os cruzamentos e vendo os pés mais produtivos, que davam os frutos mais bonitos. Assim foram melhorando as sementes e chegando a uma variedade que para aquela região é adaptada”, explica o técnico em desenvolvimento rural do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, Cláudio Rodex.

Trabalho que contribui para a preservação das espécies

É comum ouvir que determinada semente é aproveitada pela mesma família há muitas gerações, seguindo práticas tradicionais de cultivo. Pequenos agricultores e povos tradicionais que cultivam, armazenam e fazem o melhoramento das sementes são chamados de guardiões de sementes crioulas.

“Com a degradação ambiental que tem ocorrido nas últimas décadas, muita coisa tem se perdido. Então quando os guardiões fazem esse trabalho de guardar e melhorar esse material, eles estão preservando e garantindo o alimento para as futuras gerações”, destaca o técnico em desenvolvimento rural.

Além dos guardiões, existem também os bancos de sementes. Por meio do Incaper, Cláudio iniciou um pequeno banco em Pedro Canário, em 2015. Lá recebe e fornece sementes crioulas. Já enviou até mesmo para pequenos agricultores de São Paulo, Bahia e Minas Gerais que perceberam as vantagens diante das sementes geneticamente modificadas.

A semente híbrida vai produzir muito para trazer um lucro imediato para o agricultor. Mas ele vai gastar mais, porque ela exige muito de nutrientes e água. E se ele quiser guardar sementes na colheita para usar de novo, ele não tem essa possibilidade com a híbrida. A híbrida só produz uma vez” ressalta Cláudio.

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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