O Brasil está em alerta desde outubro do ano passado quando surgiram casos de Influenza Aviária na América do Sul. Desde então, o setor avícola e órgãos oficiais já estavam desenvolvendo ações de reforço das medidas de vigilância e biosseguridade, que já são adotadas há algum tempo. Nesta semana, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, declarou estado de emergência zoossanitária em todo território nacional em função dos casos de aves silvestres. Com os recentes primeiros casos confirmados no país, no estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro, a Associação de Avicultores do Espírito Santo (Aves) e demais entidades estaduais e municipais estão atuando, especialmente, em estabelecimentos que não possuem obrigatoriedade de registro junto ao Mapa para evitar que as granjas comerciais sejam afetadas.
De acordo com dados da Associação dos Avicultores do Espírito Santo, em 2022 o Espírito Santo produziu 4,35 bilhões de ovos. Além disso, o município de Santa Maria de Jetibá concentra a maior produção de ovos de galinha do país. A avicultura é um setor relevante para a economia agrícola capixaba, em períodos de alta produção chega a produzir 15 milhões de ovos por dia.
Até o momento, são oito casos confirmados em aves silvestres, sendo sete no Espírito Santo, nos municípios de Marataízes, Cariacica, Vitória, Nova Venécia, Linhares e Itapemirim, e um no estado do Rio de Janeiro, em São João da Barra. As aves são das espécies Thalasseus acuflavidus (trinta-réis de bando), Sula leucogaster (atobá-pardo) e Thalasseus maximus (trinta-réis real).
As distâncias destes municípios até Santa Maria de Jetibá, maior produtor de ovos do estado, são de 65 km (Cariacica), 85 km (Vitória), 135 (Linhares), 176 (Itapemirim), 196 km (Nova Venécia) e 204 km (Marataízes).
Por conta da declaração do estado de emergência zoossanitária, também estão prorrogadas as feiras e exposições com aglomeração de aves e a criação de aves ao ar livre, com acesso a piquetes sem telas na parte superior, em estabelecimentos registrados.
Também estão sendo monitorados quatro casos suspeitos de contágio em humanos. Outros 38 exames realizados em pessoas do Espírito Santo e Rio de Janeiro que tiveram contato com aves doentes apresentaram resultado negativo para o vírus da influenza H5N1. É importante frisar que não foram confirmados casos até o momento.
A coluna conversou com o diretor-executivo da Aves, Nélio Hand, para saber quais medidas estão sendo adotadas no Espírito Santo após a declaração de emergência zoossanitária em todo território nacional por 180 dias. Além disso, o gestor também destacou as principais ações que devem ser adotadas por produtores rurais e granjas no estado.
Agro Business: Quais iniciativas foram adotadas no primeiro momento após a declaração de emergência pelo Ministério da Agricultura e Pecuária?
Nélio Hand: Com os casos em aves silvestres no Brasil, essas ações estão cada vez mais intensificadas, e a Aves, junto com várias entidades e autarquias estaduais e municipais estão atuando, especialmente com preocupação nas aves de subsistência, e em estabelecimentos que não possuem obrigatoriedade de registro junto ao Ministério da Agricultura (Mapa).
O objetivo é levar informações e orientações à população e às pequenas propriedades rurais, que normalmente possuem aves de subsistência, para que deixem as aves confinadas, cuidando e protegendo da água e alimentação dessas aves.
O Idaf, junto à Superintendência Federal da Agricultura (SFA-ES/MAPA) e órgãos de meio ambiente, está tomando todas as ações necessárias em relação aos casos positivos detectados em aves silvestres.
É importante destacar que a declaração de emergência zoossanitária é uma medida de antecipação, que busca dar celeridade às respostas de ação por meio da integração do Ministério com órgãos estaduais, liberação de recursos, entre outros.
AB: Santa Maria de Jetibá é o maior produtor de ovos no estado. Quais medidas estão sendo adotadas para impedir que a influenza aviária chegue nas granjas comerciais?
NH: Reforço das medidas de biosseguridade, que já são comuns nas granjas comerciais, através do registro de granjas junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), estabelecido através da IN 56/2007.
A associação tem atuado junto ao setor, com reuniões e orientações para prevenção dos casos e também tem se reunido constantemente com entidades públicas, para o apoio na adoção das medidas necessárias pelos órgãos veterinários oficiais.
Também estão sendo desenvolvidas ações de comunicação e conscientização junto ao setor e a toda a população de modo que criadores protejam suas aves e façam a notificação de suspeitas.
AB: Os casos positivos interferem de alguma forma no status sanitário do Espírito Santo e do Brasil?
NH: O status sanitário de todo o país, incluindo o Espírito Santo continua como livre de influenza aviária de alta patogenicidade. Esse status é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), uma vez que não há registros da doença na produção comercial.
AB: Existem riscos no consumo de ovos e de carne de aves?
NH: É totalmente seguro o consumo da carne de aves e ovos. A doença não é transmitida pelo consumo desses alimentos. Isto é atestado por todos os órgãos internacionais de saúde animal e humana.
AB: Quais recomendações os produtores capixabas podem seguir a partir de agora?
NH: É importante que os produtores fiquem atentos aos sinais clínicos da doença e notifiquem ao Idaf-ES qualquer suspeita de influenza aviária. Além disso, é interessante reforçar as medidas de biosseguridade que já são adotadas, tais como:-Proibir terminantemente qualquer tipo de visita às unidades de produção. Em caso de necessidade, realizar vazio sanitário;
-Conferir cercamento de núcleo e telamento de galpão;
-Manter o portão de acesso da propriedade fechado;
-Desinfecção de veículos em pleno funcionamento;
-Desinfecção de materiais que acessem a granja;
-Uso de roupas e calçados exclusivos no acesso à granja;
-Pedilúvio no acesso aos núcleos e aos galpões;
-Cuidados com a ração;
-Cuidados com a água (fonte de qualidade, tratamento, reservatórios íntegros e cobertos);
-Controle de pragas;
-Treinamento de equipe;
-Restringir criação de aves pelos funcionários;
-Evitar visitas em locais com aves silvestres;
-Ausência de outras aves na propriedade;
-Se participou de evento relacionado ao setor, cumprir vazio sanitário de 72 horas;
-Se participou de outros eventos com aglomeração de pessoas, trocar de roupas e cumprir os protocolos de biosseguridade;
-Entre outras ações, reforçando todas as medidas adotadas, conforme a Instrução Normativa do MAPA nº 56/2007.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória
