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Estimativas do mercado apontam uma possibilidade de ocorrência de um El Niño forte a partir dos próximos meses. A ocorrência do fenômeno está associada a um clima com temperaturas acima da média nas principais regiões produtoras de café robusta, incluindo o norte do Espírito Santo e o sul da Bahia. Por ser uma cultura perene, o café é mais vulnerável a efeitos climáticos, uma vez que tais eventos podem impactar as próximas safras. Conversamos com o especialista em Inteligência de Mercado da StoneX, Fernando Maximiliano, para entender como o efeito do El Niño, que tem elevado as temperaturas nas regiões de café do Brasil e reduzido as chuvas em outros países produtores, acendeu o alerta sobre os possíveis efeitos na safra 2024/25.
Agro Business: Como você avalia o mercado de café neste momento?
Fernando Maximiliano: O mercado de café está passando por um período de complexidade, com diversos fatores que influenciam os preços e as perspectivas. Observamos uma queda nos preços do café arábica nos últimos três meses, principalmente devido à maior disponibilidade do produto no mercado devido à colheita no Brasil.
No entanto, a demanda por café tem mostrado sinais de enfraquecimento, o que também contribui para a pressão sobre os preços. Além disso, o mercado de café é altamente volátil e sensível às condições climáticas, o que acrescenta uma dose de incerteza.
Agro Business: Quais são as perspectivas para o café conilon brasileiro?
Fernando Maximiliano: O café conilon, também conhecido como robusta, enfrenta um cenário desafiador. No estado do Espírito Santo, um importante produtor de conilon, o clima está sendo afetado pelo fenômeno El Niño, que provoca temperaturas acima da média. Isso pode impactar negativamente a produção do conilon, prejudicando o enchimento e expansão dos frutos, além de causar possíveis queimaduras nas folhas e frutos devido aos raios solares intensos.
Apesar disso, é importante notar que o setor investiu em sistemas de irrigação eficientes e reservatórios hídricos, o que pode mitigar parte dos danos. A produção de conilon também é limitada em outros países, como a Indonésia e o Vietnã, o que pode ajudar a sustentar os preços.
Agro Business: E quanto ao café arábica? Quais são as perspectivas para esse mercado?
Fernando Maximiliano: O mercado de café arábica, embora tenha visto uma maior disponibilidade devido à produção brasileira, também está enfrentando desafios. A demanda por café tem mostrado sinais de enfraquecimento, especialmente devido à alta inflação que afeta o consumo, principalmente na Europa e nos Estados Unidos.
Agro Business: Como você avalia as perspectivas para o final da colheita do café arábica?
Fernando Maximiliano: As perspectivas para o final da colheita do café são mistas. A disponibilidade maior do produto devido à colheita brasileira pressiona os preços para baixo. No entanto, o comportamento dos preços também depende de fatores como a demanda global, as condições climáticas e a capacidade do mercado em absorver essa oferta.
Agro Business: Um dos principais pontos levantados pelos produtores em relação ao cultivo do café são os efeitos climáticos. De que forma o El Niño tem atingido o mercado nos últimos dias?
Fernando Maximiliano: O fenômeno El Niño está desempenhando um papel significativo no mercado de café, especialmente para o café conilon. No Espírito Santo e sul da Bahia, áreas importantes de produção de conilon, o El Niño tem causado temperaturas acima da média, o que pode impactar negativamente a produção.
A capacidade das plantas de absorver água em condições extremamente quentes e o risco de queimaduras nas folhas e frutos são preocupações reais. No passado, observamos que o El Niño pode levar a reduções significativas na produção de conilon, como ocorreu entre 2014 e 2016. No entanto, desta vez, a situação é diferente devido a investimentos em sistemas de irrigação, reservatórios hídricos e práticas agronômicas mais eficientes, o que pode mitigar parte dos impactos.
Apesar de as condições serem diferentes atualmente, o cenário da ocorrência de um El Niño forte durante etapas críticas da produção pode ter um impacto negativo no potencial produtivo da próxima temporada.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória