Cacau bate mais um recorde e pode chegar a US$ 10 mil a tonelada
Nesta semana, medidas de auxílio foram adotadas para apoiar as famílias e empresários dos municípios atingidos pelas fortes chuvas na região sul do Espírito Santo. Mimoso do Sul, Bom Jesus do Norte e Apiacá foram os mais afetados pela enxurrada, com equipes do Incaper mobilizadas no local para avaliar os danos à agropecuária capixaba. Setores como cafeicultura, fruticultura e pecuária foram fortemente impactados. Contudo, contabilizar os prejuízos não tem sido um trabalho fácil devido à destruição das principais vias de acesso às cidades, além de pontes, residências, plantações, propriedades rurais e comércios.
O governo estadual adotou uma série de medidas econômicas para ajudar aqueles que sofreram com as consequências das chuvas. O Cartão Reconstrução, por exemplo, oferece um auxílio de R$ 3 mil para aquisição de móveis, eletrodomésticos, roupas, alimentos, material de construção ou qualquer item que a família entenda como prioritário.
Além disso, os empresários terão acesso às linhas de crédito especiais, com a prorrogação das operações de crédito em curso por seis meses e um investimento de R$ 50 milhões para subsidiar as operações junto ao Banestes e ao Bandes.
O Sicoob ES também está contribuindo com um fundo de R$ 25 milhões em crédito sem juros, denominado “Recomeçar”, para auxiliar na reconstrução de residências e estabelecimentos comerciais nas áreas afetadas.
Segundo o Boletim Extraordinário da Defesa Civil, a cidade registrou o segundo maior volume de chuvas do estado, totalizando 228 mm em apenas 24 horas. O meteorologista Ivaniel Fôro destaca que a ocorrência de uma onda de calor antes das fortes chuvas propiciou a formação de nuvens de tempestade. Confira a entrevista.
AB: Quais foram os principais motivos por trás das chuvas intensas do último final de semana?
IF: As chuvas intensas registradas no último final de semana no sul do Espírito Santo foram influenciadas por uma combinação de fatores meteorológicos. A região sul do estado é caracterizada por sua topografia montanhosa, o que contribui para o fenômeno. O choque entre uma massa de ar frio e o ar quente fez com que resultasse na formação de tempestades e no consequente acumulado de chuvas.
Estamos atualmente em um período de transição, com o outono trazendo consigo características climáticas distintas. Inicialmente, observamos um tempo mais quente, com pancadas de chuva intensas, especialmente durante as tardes e noites. Essa tendência deve persistir até o final de março e início de abril, principalmente nas regiões serranas e sul do estado. Ao longo do outono, esperamos que as chuvas se normalizem, ficando dentro da média esperada. No entanto, algumas áreas podem continuar recebendo chuvas acima da média devido aos eventos climáticos recentes.
Além disso, é esperado que as temperaturas diminuam significativamente durante o outono. As ondas de calor observadas em meses anteriores, são menos prováveis de ocorrer nessa época do ano.
Embora seja comum para esta época do ano, a intensidade das chuvas recentes foi excepcional, resultando em prejuízos, alagamentos, deslizamentos de terra e, infelizmente, perdas humanas. Esses eventos extremos destacam a importância da preparação e da adoção de medidas preventivas diante de condições meteorológicas adversas.
Agro Business: Quais são as principais características da agropecuária nos municípios do sul do Espírito Santo?
Ivaniel Foro: Na região sul do Espírito Santo, destacam-se diversos aspectos da agropecuária. Além do cultivo predominante de café, há uma notável diversidade na fruticultura, com cultivos como banana e abacaxi. Por exemplo, entre Vargem Alta e Alfredo Chaves, encontramos plantações de banana, enquanto na área próxima à foz do Rio Itapemirim, entre Marataízes e Itapemirim, destaca-se o cultivo de abacaxi. No entanto, esses cultivos podem ser afetados por condições climáticas extremas, como o excesso de chuvas e altas temperaturas. Esses fenômenos climáticos podem resultar em problemas na produção, como alagamentos que afetam a qualidade e quantidade de frutos colhidos pelos produtores.
Além da fruticultura, a região sul também abriga atividades na produção leiteira, com a criação de gado voltada para essa finalidade. No entanto, é importante ressaltar que o manejo inadequado do gado, incluindo a falta de substrato de consumo e pasto adequado, pode levar a deficiências nutricionais nos animais, afetando sua produção de leite.
AB: Que trabalho está sendo realizado para contabilizar os prejuízos nos municípios afetados?
IF: O Incaper está atualmente em operação na região sul, desde o início desta semana, para realizar um levantamento detalhado dos danos. No entanto, algumas áreas são de difícil acesso devido à falta de infraestrutura, o que pode atrasar o processo de avaliação. Apesar disso, estamos empenhados em realizar esse levantamento de forma abrangente e precisa. Nos próximos dias e semanas, esperamos ter uma visão mais clara dos impactos sofridos pelas diferentes cadeias produtivas, tanto na agricultura quanto na pecuária.
O processo de levantamento envolve visitas diretas às propriedades afetadas, onde nossos técnicos realizarão questionários e avaliações in loco. Estamos levantando informações sobre a extensão dos danos, incluindo áreas afetadas por deslizamentos de terra e perdas de plantações, como o caso de cafezais que podem ter sido arrastados morro abaixo em áreas montanhosas. Essa abordagem detalhada nos permitirá fornecer uma estimativa mais precisa dos prejuízos enfrentados pelos produtores.
AB: Como as mudanças climáticas recentes, como altas temperaturas e chuvas em excesso, podem afetar a produção cafeeira no Espírito Santo? Há previsão de redução na produção e produtividade das lavouras devido a essas chuvas registradas no sul do estado?
IF: Sim, as condições climáticas adversas, como as altas temperaturas e o excesso de chuvas, podem impactar significativamente a produção e a qualidade dos grãos de café. É interessante notar que o café é uma cultura que está sujeita a variações em sua produção, influenciadas por fatores agrometeorológicos e pela fisiologia do cafeeiro.
Em alguns anos, a colheita pode ser mais abundante, enquanto em outros, pode ser mais escassa. No entanto, quando ocorrem eventos climáticos extremos, como altas temperaturas ou chuvas excessivas em um curto período de tempo, tanto a quantidade quanto a qualidade dos frutos podem ser significativamente prejudicadas.
Em situações assim, é possível que haja uma colheita abundante em termos de volume, mas a qualidade dos grãos pode ser comprometida. Esses grãos podem não atender aos padrões comerciais desejados e, portanto, podem ser destinados a usos como blends ou outras formas de produção secundária, resultando em menor retorno financeiro para os produtores.
Na região sul do Espírito Santo, onde está localizado um dos principais polos de produção de café, a preocupação com a qualidade é especialmente relevante. Os produtores têm se dedicado cada vez mais a cultivar grãos de alta qualidade, buscando reconhecimento internacional e prêmios em eventos especializados.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória