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A adoção de práticas sustentáveis de manejo permitiu um balanço de carbono negativo no cultivo do café conilon no Espírito Santo. Esse resultado significa que a produção agrícola está removendo mais CO2 da atmosfera do que emitindo, contribuindo para o combate ao aquecimento global. As informações foram reveladas ontem (29) na pesquisa “Balanço de GEE do Café Conilon Capixaba, promovida pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em colaboração com a Secretaria de Agricultura do Espírito Santo (Seag). Com a adoção de práticas sustentáveis, o estudo revelou que o café conilon capixaba remove cerca de 8,6 toneladas de CO2 equivalentes por hectare ao ano da atmosfera, comparado às 3 toneladas capturadas na produção tradicional.
Nos modelos tradicionais de produção, onde o café conilon é cultivado em áreas previamente usadas como pastagem, já havia alguma captação de gases de efeito estufa. No entanto, a implementação de práticas como o retorno dos resíduos de pós-colheita ao solo, a manutenção dos resíduos das podas nas lavouras e o uso de adubos orgânicos, elevou essa captura de CO2.
O estudo revelou que, com essas práticas sustentáveis, o café conilon capixaba remove cerca de 8,6 toneladas de CO2 equivalentes por hectare ao ano da atmosfera, comparado às 3 toneladas capturadas na produção tradicional.
A pesquisa teve dois objetivos principais: calcular os balanços de carbono da produção tradicional de café conilon e da produção que adota práticas mais sustentáveis, considerando o uso anterior do solo como pastagem, e estimar a adicionalidade gerada pela mudança do manejo agrícola, comparando um cenário de cultivo tradicional de café conilon com um que adota práticas mais conservacionistas.
Entre essas práticas estão o retorno dos resíduos de pós-colheita ao solo, a manutenção dos resíduos das podas nas lavouras, a cobertura do solo na entrelinha do café na fase inicial da lavoura, e a preferência por adubos orgânicos ou organominerais.
“A definição do uso anterior do solo levou em consideração as discussões globais relacionadas à adaptação e à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, às novas regras de comércio antidesmatamento e à garantia de segurança alimentar, reconhecendo o potencial da agricultura brasileira em atender à demanda crescente por alimentos, fibras e bebidas, entre os quais o café, sem expandir a fronteira produtiva para áreas de vegetação nativa”, explica o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira.
O trabalho foi conduzido pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e do professor Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
“A implementação de práticas sustentáveis no cultivo do café conilon quase triplica a retenção de gás carbônico equivalente no solo em relação à produção tradicional, no cenário de transição de pastagens à cafeicultura, tornando a atividade ainda mais ‘carbono negativo’. E é sempre válido recordar que, quando falamos negativo, no que se refere ao balanço de carbono, em verdade estamos mencionando um resultado positivo ao meio ambiente”, explica o professor Cerri.
No cenário de mudança de uso do solo a partir de pastagem, o balanço de carbono da produção tradicional é de menos 3,01 toneladas de CO2 equivalentes por hectare ao ano. Esse resultado considera o sequestro de 6,91 tCO2/ha/ano retidas no solo, subtraído das 3,9 tCO2e/ha/ano emitidas por meio da aplicação de fertilizantes nitrogenados, resíduo de podas, queima de combustíveis fósseis e outras fontes de emissão que fazem parte do manejo do café.
Ao adotar práticas sustentáveis no cultivo de café em áreas anteriormente usadas como pastagem, o balanço de carbono melhora significativamente. Os cafezais com essas práticas sequestram 12,22 toneladas de CO2 por hectare ao ano e emitem 3,98 toneladas de CO2 por hectare no mesmo período. Assim, o balanço de carbono é negativo em 8,24 toneladas de CO2 por hectare ao ano, indicando um sequestro maior de carbono no solo.
Em outro cenário, ao analisar a mudança no manejo agrícola, partindo do cultivo tradicional para a atividade cafeeira com práticas mais conservacionistas, o conilon capixaba também registra balanço negativo de carbono, da ordem de menos 1,36 tonelada de CO2eq por hectare ao ano.
“Os resultados dos três cenários analisados são favoráveis à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, uma vez que a intensa emissão de gases de efeito estufa é uma das principais causas do aquecimento global, e a adoção de boas práticas agrícolas no cultivo do café aparece como uma forma de contribuir, ainda mais, nesta atenuação”, analisa Laura Polli, uma das técnicas responsáveis pelo estudo.
Para quantificar o sequestro de carbono, foram coletadas 22 situações de solo, com até um metro de profundidade, seguindo a metodologia reconhecida pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). As coletas foram realizadas nas regiões produtoras no norte e no sul do Espírito Santo, em áreas com o mesmo teor de argila, representativas dos modelos produtivos tradicional e sustentável de café conilon, além de áreas de pastagens.
Paralelamente, foram obtidas informações sobre os insumos aplicados e as operações associadas à produção de café conilon, tanto tradicional quanto sustentável, em 25 propriedades cafeeiras. Essas informações foram utilizadas para compilar o inventário das emissões de gases de efeito estufa (GEE), seguindo a metodologia do Programa Brasileiro GHG Protocol, reconhecida internacionalmente e amplamente utilizada em diferentes setores da economia.
O secretário de Agricultura do Espírito Santo, Enio Bergoli, destacou que os resultados obtidos ressaltam a importância do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Estado, que conta com 27 projetos, destacando-se o referente à adequação de oito mil propriedades cafeeiras no processo de sustentabilidade até o fim de 2026. O investimento nessa ação é de RS 5,45 milhões.
“A cafeicultura capixaba impulsiona a economia estadual com o avanço da sustentabilidade e da tecnologia. O programa lançado no último ano vem ampliar a difusão das práticas sustentáveis na cafeicultura e a adoção das práticas ESG, além de dar suporte para nossos produtores serem inseridos nesse processo de adequação das propriedades. Atuando em cima dos indicadores econômicos, ambientais e sociais propostos, os produtores vão conquistar melhor desempenho e resultado econômico, sendo, portanto, mais competitivos e atendendo aos mercados mais exigentes. Isso resultará na preservação e na conservação de recursos naturais, além de promover a melhoria na qualidade de vida nas propriedades cafeeiras”, ressalta o secretário.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória