Maio 2024
30
Stefany Sampaio
AGRO BUSINESS

porStefany Sampaio

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Adoção de práticas sustentáveis otimiza balanço de CO2 no café conilon capixaba

Nos modelos tradicionais de produção, onde o café conilon é cultivado em áreas previamente usadas como pastagem, já havia alguma captação de gases de efeito estufa. No entanto, a implementação de práticas como o retorno dos resíduos de pós-colheita ao solo, a manutenção dos resíduos das podas nas lavouras e o uso de adubos orgânicos, elevou essa captura de CO2.

O estudo revelou que, com essas práticas sustentáveis, o café conilon capixaba remove cerca de 8,6 toneladas de CO2 equivalentes por hectare ao ano da atmosfera, comparado às 3 toneladas capturadas na produção tradicional.

A pesquisa teve dois objetivos principais: calcular os balanços de carbono da produção tradicional de café conilon e da produção que adota práticas mais sustentáveis, considerando o uso anterior do solo como pastagem, e estimar a adicionalidade gerada pela mudança do manejo agrícola, comparando um cenário de cultivo tradicional de café conilon com um que adota práticas mais conservacionistas.

Entre essas práticas estão o retorno dos resíduos de pós-colheita ao solo, a manutenção dos resíduos das podas nas lavouras, a cobertura do solo na entrelinha do café na fase inicial da lavoura, e a preferência por adubos orgânicos ou organominerais.

“A definição do uso anterior do solo levou em consideração as discussões globais relacionadas à adaptação e à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, às novas regras de comércio antidesmatamento e à garantia de segurança alimentar, reconhecendo o potencial da agricultura brasileira em atender à demanda crescente por alimentos, fibras e bebidas, entre os quais o café, sem expandir a fronteira produtiva para áreas de vegetação nativa”, explica o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira.

O trabalho foi conduzido pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e do professor Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).

“A implementação de práticas sustentáveis no cultivo do café conilon quase triplica a retenção de gás carbônico equivalente no solo em relação à produção tradicional, no cenário de transição de pastagens à cafeicultura, tornando a atividade ainda mais ‘carbono negativo’. E é sempre válido recordar que, quando falamos negativo, no que se refere ao balanço de carbono, em verdade estamos mencionando um resultado positivo ao meio ambiente”, explica o professor Cerri.

No cenário de mudança de uso do solo a partir de pastagem, o balanço de carbono da produção tradicional é de menos 3,01 toneladas de CO2 equivalentes por hectare ao ano. Esse resultado considera o sequestro de 6,91 tCO2/ha/ano retidas no solo, subtraído das 3,9 tCO2e/ha/ano emitidas por meio da aplicação de fertilizantes nitrogenados, resíduo de podas, queima de combustíveis fósseis e outras fontes de emissão que fazem parte do manejo do café.

Ao adotar práticas sustentáveis no cultivo de café em áreas anteriormente usadas como pastagem, o balanço de carbono melhora significativamente. Os cafezais com essas práticas sequestram 12,22 toneladas de CO2 por hectare ao ano e emitem 3,98 toneladas de CO2 por hectare no mesmo período. Assim, o balanço de carbono é negativo em 8,24 toneladas de CO2 por hectare ao ano, indicando um sequestro maior de carbono no solo.

Em outro cenário, ao analisar a mudança no manejo agrícola, partindo do cultivo tradicional para a atividade cafeeira com práticas mais conservacionistas, o conilon capixaba também registra balanço negativo de carbono, da ordem de menos 1,36 tonelada de CO2eq por hectare ao ano.

“Os resultados dos três cenários analisados são favoráveis à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, uma vez que a intensa emissão de gases de efeito estufa é uma das principais causas do aquecimento global, e a adoção de boas práticas agrícolas no cultivo do café aparece como uma forma de contribuir, ainda mais, nesta atenuação”, analisa Laura Polli, uma das técnicas responsáveis pelo estudo.

Para quantificar o sequestro de carbono, foram coletadas 22 situações de solo, com até um metro de profundidade, seguindo a metodologia reconhecida pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). As coletas foram realizadas nas regiões produtoras no norte e no sul do Espírito Santo, em áreas com o mesmo teor de argila, representativas dos modelos produtivos tradicional e sustentável de café conilon, além de áreas de pastagens.

Paralelamente, foram obtidas informações sobre os insumos aplicados e as operações associadas à produção de café conilon, tanto tradicional quanto sustentável, em 25 propriedades cafeeiras. Essas informações foram utilizadas para compilar o inventário das emissões de gases de efeito estufa (GEE), seguindo a metodologia do Programa Brasileiro GHG Protocol, reconhecida internacionalmente e amplamente utilizada em diferentes setores da economia.

O secretário de Agricultura do Espírito Santo, Enio Bergoli, destacou que os resultados obtidos ressaltam a importância do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Estado, que conta com 27 projetos, destacando-se o referente à adequação de oito mil propriedades cafeeiras no processo de sustentabilidade até o fim de 2026. O investimento nessa ação é de RS 5,45 milhões.

“A cafeicultura capixaba impulsiona a economia estadual com o avanço da sustentabilidade e da tecnologia. O programa lançado no último ano vem ampliar a difusão das práticas sustentáveis na cafeicultura e a adoção das práticas ESG, além de dar suporte para nossos produtores serem inseridos nesse processo de adequação das propriedades. Atuando em cima dos indicadores econômicos, ambientais e sociais propostos, os produtores vão conquistar melhor desempenho e resultado econômico, sendo, portanto, mais competitivos e atendendo aos mercados mais exigentes. Isso resultará na preservação e na conservação de recursos naturais, além de promover a melhoria na qualidade de vida nas propriedades cafeeiras”, ressalta o secretário.

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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