Temperatura acima da média afeta produção de café e StoneX revisa projeção capixaba para safra 2024/25
Um estudo internacional revela que o café conilon (Coffea canephora) pode se adaptar eficazmente às mudanças climáticas, mantendo alta produtividade e qualidade. A pesquisa, conduzida ao longo de cinco anos, foi coordenada pelo Incaper em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Café) e com a colaboração da Universidade da Flórida. O estudo avaliou o comportamento e as características do café conilon em três locais de altitudes elevadas e clima frio no Espírito Santo, estado onde a espécie é cultivada em ambientes quentes e de baixa altitude, predominantemente.
Os testes foram realizados entre 2017 e 2022 em altitudes que variam de 620 a 720 metros, nos municípios de Venda Nova do Imigrante, Iúna e Santa Teresa. Tradicionalmente, essas regiões são conhecidas pela produção de café arábica, mais adaptado a climas frios.
“Mesmo sob essas condições climáticas e ambientais alternativas, cultivares avaliadas de conilon demonstram plasticidade, que é a capacidade de se adaptar a diferentes ambientes, fato que pode ajudar a mitigar o efeito prejudicial das mudanças climáticas”, explica Elaine Riva, uma das pesquisadoras do Incaper que atuaram no estudo.
Ainda de acordo com a pesquisadora, os resultados conjuntos mostraram que os materiais genéticos se destacaram com produtividade média elevada (60 sacas por hectare) e qualidade de bebida, validada nas análises sensoriais realizadas no Centro de Cafés Especiais do Espírito Santo (Cecafes/Incaper) e no Laboratório de Análise e Pesquisa em Café do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) – Campus Venda Nova do Imigrante.
Na Universidade da Flórida, os estudos têm colaboração do pesquisador brasileiro Luis Felipe Ferrão, que avalia que a pesquisa pode contribuir para apontar caminhos para a sustentabilidade da cadeia do café frente aos desafios acarretados pelas alterações climáticas projetadas. Ele ressalta que é necessário desenvolver cultivares mais resistentes ao clima, adaptadas às novas condições de cultivo, que possam atender à demanda por tolerância e qualidade.
“Cerca de 60% dos grãos de café comercializados no mundo são de café arábica, que é uma cultura mais delicada. Nesse contexto, a indústria do café busca alternativas, e o café conilon surge como opção para atender à demanda global de produção e consumo, que é crescente”, afirma Ferrão.
“O conilon é flexível, tem uma grande diversidade e, portanto, diferentes plantas podem ser selecionadas, de acordo com as condições climáticas. Por isso, usamos a expressão climaticamente inteligente”, complementa o pesquisador.
Os resultados do estudo foram publicados este mês no periódico internacional Crop Science, uma das principais revistas de ciências agrárias, editada pela Crop Science Society of America. A pesquisa foi financiada pelo Consórcio Pesquisa Café e contou com a colaboração dos produtores Paulo Márcio Reis Fernandes e Luiz Carlos Gomes, em Iúna e Santa Teresa, respectivamente.
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