À frente de um dos maiores e mais tradicionais grupos empresariais do Espírito Santo, Americo Buaiz Filho defende que a dimensão humana deve prevalecer sempre no processo de liderança e comandar toda e qualquer decisão relacionada ao negócio.
Liderança, para ele, é uma concessão que vem do outro, afinal, “ninguém é líder de si mesmo”. Sua filosofia de gestão de pessoas e condução assertiva e humanizada do Grupo Buaiz são fatores primordiais para sua longevidade e vigor. Em 2021, serão 80 anos, com passado irretocável e um futuro cheio de boas perspectivas.
Como é liderar um grupo de 80 anos que ao mesmo tempo em que é tão tradicional, é tão moderno e inovador?
Faço uma analogia com a vida, com qualidade de vida. A gente não só tem que se preocupar em viver, mas em viver bem. Uma empresa é feita por pessoas que têm que ter essa filosofia, ou seja, não basta estar no mercado, é preciso que a empresa esteja se reinventando, inovando, aceitando os desafios, não se acomodando e se preocupando com a longevidade no melhor sentido. O Grupo Buaiz conseguiu isso, chegou aos 80 de forma vigorosa, saudável, com boas perspectivas para o futuro e oferecendo um horizonte bom para as pessoas que colaboram para esse projeto.
Qual seu conceito de liderança?
A liderança é uma coisa curiosa. Muita gente pensa que ela vem de si mesmo, mas, na verdade, ela é uma conferência de poder a partir do outro, uma transferência de confiança para alguém que lidera processos que incluem pessoas. Ninguém é líder de si mesmo. Você precisa conquistar, cativar e incluir o outro. Se não for assim, você seria o dono, o chefe, ou seja, uma autoridade a partir da posição que se ocupa, enquanto a liderança e uma posição que os outros lhe conferem.
O que torna um líder bom, digno de ser seguido? Quais são os atributos que fazem um bom líder?
A primeira coisa é ser capaz de conquistar esse poder por meio do reconhecimento do outro. E, para fazer isso, precisa ser alguém inspirador, confiável, parceiro e surpreender os outros com propostas que eventualmente eles não tenham percebido. O líder deve ser capaz de somar com o outro no lugar que ele ocupa.
Quais são os desafios de liberar nestes tempos tão extraordinários?
Os desafios são enormes. Temos um desafio permanente no país, que não tem definições claras sobre absolutamente nada, não tem política nem estrutura de credito. O empresário no Brasil – e isso, apesar de ser lugar comum, não é exagero – realmente está sendo desafiado todos os dias em coisas que lhe dizem respeito e em coisas que não têm nada a ver com ele, que são coisas do governo, que, ao invés de ajudar, atrapalha. Há desafios específicos para cada negócio, para cada mercado. E há desafios das pessoas envolvidas nesse processo, que eu mais enalteço. Se você se cuida enquanto humano e tem uma boa bagagem emocional, estaria mais bem preparado para enfrentar todos esses outros demais desafios. Mas se isso lhe faltar enquanto líder ou participante de um processo, numa posição de comando, nada mais funciona bem. Enalteço essa absolta prioridade de nos reconhecermos humanos e cuidarmos de nossas emoções, sentimento, do nosso background espiritual para enfrentar tudo isso.
Como a gestão e a liderança do Grupo Buaiz se organizaram para passar por esse período?
A pandemia é o exemplo maior dos desafios que já enfrentamos. A primeira coisa foi exatamente se manter equilibrado, passar a verdadeira impressão de que você está preparado como ser humano para enfrentar tudo isso, ser capaz de encarar as frustrações. Iniciamos 2020 esperando um ano muito bom, alguns, como nós, pensavam que seria o melhor ano da nossa existência, e lidar com a frustração de ser o pior ano da história não é simples. Mas é possível, desde que você não olhe para o que aconteceu, mas para o que está acontecendo e em perspectiva para definir o que pode fazer hoje para mudar esse horizonte e essa projeção para o futuro. Foi isso que fizemos no Grupo Buaiz. Aceitamos essa condição, que foi a mesma para todo mundo, vivemos um primeiro momento de decepção para, depois, nos estruturarmos e vencermos cada coisa que foi apresentada, fazendo, como dizia meu pai, do limão uma limonada.
Qual o papel da dimensão humana para vencer um desafio tão importante?
Não se deve jamais minimizar ou maximizar qualquer evento numa trajetória. Mas não há dúvida, sem superlativar o coronavírus, de que ele colocou diante de nós desafios que começam no lugar do ser humano. Todos fomos impactados com perda de liberdade, dificuldade em nos relacionar, de enfrentar uma coisa nova e desconhecida. Tudo isso mexeu muito com todo muito. É sempre bom lembrar que o empresário é um ser humano, que tem familiares e medos. Não subestimo essa enorme experiência em lugar algum. Alguns perderam suas vidas empresariais, outros não se recuperaram ainda e há os que deram a volta por cima. Mas eu enfatizaria muito que quem fez melhor foi porque conseguiu se organizar ou se reorganizar nesse lugar como ser humano, já que lidar com frustrações, o desconhecido e o novo é extremamente desafiante.
Em sua opinião, estamos fartos ou faltosos de lideranças empresariais modernas?
A liderança é sempre uma falta, nunca é farta. Porque a liderança é o que você busca no outro, e é justamente o que nos falta o que buscamos no outro. A falta é um sinônimo de desejo, não é negativa, pelo contrário, é positiva nesse sentido. Para estimular a liderança, a primeira coisa é reconhecer quem lidera, o que é um processo fundamental. Nesse sentido, o Prêmio Líder Empresarial cumpre esse papel de fazer o reconhecimento público e extensivo a todos aqueles que ocupam um lugar. É um belo exemplo de fomentar novas lideranças e inspirar outras pessoas a seguirem uma trajetória e terem uma referência de valores e propósitos.
E no campo político, também estão faltosas as lideranças relevantes?
Talvez no campo político a falta seja ainda maior e mais sentida. Esse desejo de ser ver bem representado é uma questão mundial, e no Brasil não é diferente. Há sim também esse sentimento de falta, essa busca. E, no caso político, o que faz o aperfeiçoamento disso é a democracia, o exercício pelo voto, pela representatividade. O Brasil está caminhando, o mundo também.