Economia

Pandemia x economia | Após quedas na bolsa, especialista prega cautela: 'Não venda ações'

Índice Ibovespa fechou esta quinta-feira com queda de 14,78%, a 72.582,53 pontos. Foi a pior performance da bolsa brasileira desde 1998

Foto: Divulgação

A Bolsa de Valores de São Paulo teve mais uma sessão de fortes perdas nesta quinta-feira (12). O Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro, caiu 14,78%, a 72.582,53 pontos. Foi a pior performance da bolsa brasileira 1998, reflexo do clima de pânico nos mercados globais em torno da pandemia de coronavírus.

Devido à forte queda, as operações na B3 foram suspensas duas vezes ao longo do dia, quando foi acionado o circuit breaker, um mecanismo de proteção, que é ativado quando há quedas expressivas nas operações.

O pregão brasileiro teve as negociações suspensas primeiro por volta das 10h20, por 30 minutos, após o Ibovespa cair mais de 10%. A segunda paralisação aconteceu antes das 11h15, por uma hora, quando as perdas já haviam alcançado os 15%.

Por volta das 13h50, o Ibovespa apresentou queda de 19,60%, ameaçando o terceiro circuit breaker do dia. Se caísse 20%, a bolsa poderia determinar a suspensão dos negócios por um período por ela definido. Ainda durante essa semana, o circuit breaker foi acionado outras duas vezes.

“Está todo mundo vendendo as ações desenfreadamente, um pânico total. A pessoa que está prestes a tomar uma decisão de investimento pode ser influenciada a vender, por estar tudo caindo. Então, quando você trava a negociação, você dá um tempo de meia hora, de uma hora, do tempo que for, para a pessoa pensar na decisão de investimento. Se for uma operação de proteção, que a pessoa está encerrando uma posição por conta do movimento muito forte, a pessoa pode esperar e reavaliar aquilo tudo. Geralmente, depois desses cortes de negócio, da trava de negociação, o mercado volta mais calmo”, explicou o economista Pedro Lang.

O circuito só não foi novamente acionado porque o Federal Reserve (Fed) de Nova York, o banco central dos Estados Unidos, anunciou injeção de US$ 1,5 trilhão no sistema financeiro, em um esforço para tentar acalmar investidores globais.

Ao fim do pregão, todas as ações da carteira do Ibovespa fecharam em queda. O volume financeiro somou R$ 30 bilhões. O valor das ações da Petrobras, por exemplo, caiu 19% nesta quinta-feira. A redução foi de 60% se comparado ao início do ano.

Também houve queda nos preços dos papéis da Vale e da Suzano, que atuam no Espírito Santo. No caso da mineradora, a redução foi de 40%. Já o valor das ações da produtora de celulose e papel caiu cerca de 30% desde o início do ano.

“A bolsa caiu muito por conta das declarações do Trump ontem e pelo final da sessão no Congresso, que derrubou o veto do presidente na medida do BPC, causando mais um receio com relação ao fim do teto dos gastos, que seria uma medida de retrocesso econômico. Além disso, o Trump ao vivo ontem proibiu viagens entre Estados Unidos e Europa por um período de 30 dias. O mercado ficou muito preocupado”, frisou Lang.

Cautela

Apesar das seguidas e expressivas quedas na bolsa de valores, o especialista em investimentos e colunista do Folha Vitoria, Ricardo Frizera, afirmou que os investidores não precisam entrar em pânico. Segundo ele, o ideal é aguardar as coisas se acalmarem.

“O que o investidor pode fazer nesse momento? A primeira coisa é: não venda as ações. Não se desespere porque as ações estão caindo, e comece a observar e analisar as empresas, para enxergar e entender se tem alguma oportunidade para comprar. O investidor deve primeiro sempre olhar para o longo prazo. E olhar para o longo prazo é se tornar sócio de boas empresas, se tornar sócios de bons ativos”, ressaltou.

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O empresário Joemar Narciso, que há mais de 10 anos investe parte da renda na bolsa brasileira, também concorda que o momento requer cautela. Ele conta que, em outros períodos de crise na bolsa brasileira — como nas quedas provocadas pela greve dos caminhoneiros, em 2018, e pela delação de Joesley Batista, em 2017 —, optou por esperar antes de vender seus papéis.

“Você fica no movimento de aguardo. Porque o meu objetivo, ao investir no mercado de ações, é um objetivo de longo prazo. Depois que retornar à normalidade, se prepare que vai ter uma alta expressiva, porque existe muita demanda que está sendo reprimida dia a dia”, afirmou.

Dólar

E não foi só a bolsa de valores que foi afetada nesta quinta-feira. Após mais um dia tenso, o dólar abriu a cotação sendo negociado, pela primeira vez na história, acima dos R$ 5. Ao logo do dia, a moeda teve uma redução na alta e fechou em R$ 4,786.

Pedro Lang destacou que a população, em geral, deve sofrer com a alta do dólar, já que pode ocorrer aumento de preços no comércio. “O aumento do dólar tem um efeito direto na inflação. Também tem um efeito direto no preço da gasolina, que vai ser contrabalanceado com a diminuição do preço do petróleo — a gente precisa entender qual o vetor final disso. Mas a gente precisa monitorar, porque é natural que o preço dos bens fique maior, que viajar fique mais caro. A gente tem que monitorar isso de perto”, frisou.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV, e da Agência Brasil