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Ayn Rand e benefícios sociais: um paradoxo econômico?

Para Ayn Rand, a intervenção governamental, mesmo quando bem intencionada, muitas vezes resulta em consequências adversas

Foto: Freepik
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*Artigo escrito por Luana Nandorf, gerente de Agência Sicredi, proprietária do Café Nandorf, membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Finanças de 2024 do IBEF-ES e presidente do IBEF Academy.

A visão de Ayn Rand (escritora, dramaturga, roteirista e filósofa norte-americana de origem judaico-russa) sobre o individualismo e o papel do governo na economia lança uma luz crítica sobre a eficácia dos benefícios sociais voltados à classe baixa.

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Para Rand, a intervenção governamental, mesmo quando bem intencionada, muitas vezes resulta em consequências adversas que podem, paradoxalmente, prejudicar aqueles que se pretende ajudar.

Ayn Rand e benefícios sociais: aumento de demandas

Um dos efeitos mais imediatos dos programas de assistência social é o aumento da demanda por bens e serviços.

Rand argumentaria que essa demanda artificialmente inflada pode levar à inflação, trazendo isso principalmente em 2 de suas obras: “A Revolta de Atlas” e “A Fonte da Juventude”.

Quando os preços dos produtos básicos sobem, o poder de compra da classe baixa é corroído, especialmente se os salários ou benefícios não acompanharem esse aumento.

Esse fenômeno, conhecido como “inflação de demanda”, pode transformar os benefícios em um fardo, já que o custo de vida se torna mais alto para todos, incluindo os beneficiários dos programas sociais.

Mais impostos

Para financiar os benefícios sociais, o governo precisa arrecadar mais recursos, muitas vezes por meio do aumento de impostos. Rand veria isso como uma forma de coerção que retira recursos da produção privada.

Impostos sobre consumo, como o IVA ou impostos sobre produtos específicos, afetam desproporcionalmente os mais pobres, pois eles gastam uma parcela maior de sua renda em bens de consumo.

Assim, o aumento de impostos pode resultar em uma carga tributária regressiva, na qual os pobres pagam proporcionalmente mais, reduzindo ainda mais sua renda disponível.

Importância do empreendedorismo

Ayn Rand enfatizava a importância da independência e do empreendedorismo, principalmente na obra “A Revolta de Atlas”. Benefícios contínuos podem criar uma dependência econômica, na qual os indivíduos perdem a motivação para buscar melhorias por conta própria.

Sem incentivos para adquirir novas habilidades ou buscar empregos melhores, a mobilidade social é prejudicada, perpetuando a pobreza de geração em geração. Em vez de ajudar, os benefícios podem criar um ciclo vicioso de dependência.

Rand também criticava a burocracia governamental como inerentemente ineficiente. Programas sociais muitas vezes são administrados de forma ineficaz, com uma grande parte dos recursos sendo consumida pela máquina burocrática em vez de chegar aos necessitados.

Corrupção e desperdício

A corrupção e o desperdício são problemas comuns, que diminuem a eficácia dos programas e deixam menos recursos disponíveis para os que realmente precisam.

Quando os benefícios são substanciais, eles podem desestimular a busca por emprego formal.

Se os trabalhadores informais percebem que ganham mais ou obtêm mais segurança através da assistência social, eles podem optar por permanecer fora do mercado de trabalho formal.

Isso não apenas limita suas oportunidades de crescimento econômico, mas também reduz a base tributária, exacerbando os problemas de financiamento dos programas sociais.

A perspectiva de Ayn Rand sugere que, embora os benefícios sociais possam ter a intenção de ajudar a classe baixa, eles frequentemente resultam em consequências adversas que oneram ainda mais aqueles que se pretende beneficiar.

A inflação, o aumento de impostos, a dependência econômica, a ineficiência burocrática e o desestímulo ao trabalho formal são fatores que podem transformar programas bem-intencionados em armadilhas de pobreza.

Para Rand, a solução estaria na promoção do empreendedorismo e da independência individual: “O homem que move montanhas começa carregando pequenas pedras” (A Revolta de Atlas); com um papel governamental minimizado, permitindo que o livre mercado ofereça oportunidades reais de crescimento e prosperidade para todos.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo