*Artigo escrito por Lucas Reis dos Santos, engenheiro mecânico, especialista em Gestão pela FGV e Fundação Dom Cabral, diretor comercial na Casa do Serralheiro e membro do IBEF Academy.
Quando, em 18 de maio de 2014, começou a cobrança de pedágio na BR-101, que corta o Estado do Espirito Santo, em todo capixaba surgiu a esperança de, enfim, um avanço logístico e de infraestrutura na mão da iniciativa privada, já que foram muitos anos de descaso do poder público, e viu-se famílias perdendo entes queridos, um gargalo enorme no desenvolvimento do Estado e um atraso no desenvolvimento das regiões sul e principalmente norte do estado.
Quando Sun Tzu muito bem coloca em seu livro A Arte da Guerra a frase “A linha entre desordem e a ordem está na logística”, ele expõe, com clareza, a importância que tem para uma guerra a parte logística.
Ao considerar a guerra competitiva comercial vivida nos dias atuais, o Espirito Santo não só está perdendo, mas também está a passos largos de estados com infraestrutura, como São Paulo ou Santa Catarina.
Analisando a arrecadação do Estado do Espírito Santo, a força econômica e a força na agricultura, a vergonha fica ainda maior.
Aprende-se, a duras penas, que não se deve contar muito nem criar expectativa do Estado, mas com a iniciativa privada há uma ponta de esperança e, hoje, em pleno 18 de junho de 2023, há uma boa infraestrutura BR-101 sentido Sul, o que possibilita o avanço do crescimento de uma região próspera alavancada, principalmente pela produção e exportação de mármore e granito.
Por outra ótica, o “combinado” em contrato era a duplicação de todo o trecho capixaba, mas quando se depara com a BR sentido Norte, bom o objetivo de desfrutar das lindas praias do Norte do Estado, tais como a praia de Guriri ou Itaúnas, percebe-se a dimensão do desafio e do gargalo da falta de infraestrutura.
O desenvolvimento nunca esteve tão forte no Norte do Estado e o dinheiro de fora tem migrado de forma consistente para a região. Podemos citar a fábrica da Marcopolo, em São Mateus, a exploração de petróleo nos campos recém leiloados na mesma cidade, os constantes investimentos que chegam a Linhares, como a fábrica da Cacau Show.
Esses são alguns dos frutos de um trabalho sério da gestão municipal de tais municípios, mas que ficam reféns de uma infraestrutura que está além do que podem fazer.
O trecho entre Vitória e Linhares tem aproximadamente 135 quilômetros, e, hoje, sem a duplicação do trecho, além do risco a vida, demora-se em média de 3 a 4 horas para chegar em um trecho que não devia durar mais que uma hora e meia, o que faz com que freie um desenvolvimento ainda maior para uma região próspera.
Depois de algumas décadas de descaso, percebe-se um pequeno início de visão do poder público voltado à logística do estado, com obras como o viaduto de Carapina e o contorno do Mestre Álvaro, que trarão qualidade de vida pro capixaba já que, em média, um capixaba que depende do transporte público perde, por semana, em ônibus e trânsito, de 15 a 20 horas, a depender do trajeto.
Por outro lado, obras, no mínimo, equivocadas, como a ampliação da Terceira Ponte, onde qualquer um que entenda o básico de logística e tráfego sabe que a obra não vai impactar em nada a qualidade de quem passa por ela diariamente, já que o gargalo são os acessos e saídas da ponte, os quais dependem de menos semáforos e mais túneis, passarelas e viadutos.
Assim, a duplicação da BR-101 e da BR-262, as duas principais que cortam nosso Estado, não só evitaria vários acidentes e várias mortes por ano, mas também elevaria o Estado do Espirito Santo ao nível econômico que ele merece.
Se o Estado capixaba pensa em, algum dia, ser competitivo e estar no rol dos grandes geradores de emprego, dos grandes empreendimentos e, consequentemente, no caminho do desenvolvimento, é necessário olhar de forma estratégica pra uma área que sempre foi abandonada pelo poder público e que, quando foi pra iniciativa privada, não foi entregue como em contrato.
Exemplo disso é a duplicação da BR 101, que, em pleno 2023, deveria estar em discussão a triplicação da BR e melhorias, e não discutindo uma estrutura dos anos 80. Nos grupos de liderança, pouco se debate sobre o principal gargalo e o que prende o desenvolvimento capixaba.
É preciso uma força-tarefa de várias frentes e, principalmente, dos empresários do Estado, setor que produz, gera riqueza e que mais sofre com uma infraestrutura arcaica e decadente, assim, será possível sair das falácias e concretizar a duplicação da BR 101.