*Artigo escrito por Alessandro Coutinho Ramos, pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão na UVV (Universidade de Vila Velha) e Líder do Comitê Qualificado de Conteúdo de Inovação e Tecnologia do IBEF-ES.
Em um cenário mundial onde a sustentabilidade é palavra de ordem e o Pacto Verde Europeu ganha força e traz incertezas ao agronegócio nacional, o Brasil vem conquistando um papel de destaque na vanguarda do uso de biofertilizantes na agricultura.
Os biofertilizantes, em palavras simples, são insumos biológicos derivados de microrganismos, como bactérias e fungos, são produtos inovadores, que auxiliam de maneira significativa, na fertilidade do solo e no desenvolvimento das plantas.
As bactérias fixadoras de nitrogênio, por exemplo, transformam o nitrogênio atmosférico em formas acessíveis às plantas, e promovem a nutrição e o crescimento vegetal sem a necessidade de químicos potencialmente nocivos ao meio ambiente.
Com sua biodiversidade única e vasta área agrícola, o Brasil é um terreno fértil para a aplicação dessa tecnologia, pois se destaca não apenas pelo uso, mas também pela produção. Isto coloca o nosso país como um protagonista na mudança para uma agricultura mais sustentável.
Afinal, como surgiu esse protagonismo do Brasil? Isso reflete no investimento em pesquisa, inovação e formação de recursos humano o que culmina no desenvolvimento de novas tecnologias para a agroindústria pela atuação das universidades, institutos de pesquisa e Startups/Spin-offs.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Radar Agtech, uma parceria entre a Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens, o Brasil registou, em 2022, um total de 1.703 startups voltadas para o setor do agronegócio, e dentre os serviços prestados, está a produção de biofertilizantes.
Outro ponto que vale mencionar é a pesquisa global realizada pela McKinsey, a qual destaca que os produtores rurais brasileiros são líderes no uso de produtos biológicos para controle de pragas, fertilização de solos e crescimento de plantas.
O estudo revela que 55% dos produtores brasileiros já utilizam produtos biológicos para proteger suas lavouras, enquanto na União Europeia esse índice fica em torno de 23%, e em países como a China e os Estados Unidos, as estimativas apontam para 8% e 6%, respectivamente.
Nenhum agricultor brasileiro afirmou desconhecer os bioinsumos, enquanto 62% dos chineses e 34% dos americanos nunca ouviram falar.
A implantação bem-sucedida de biofertilizantes no Brasil tem o potencial de revolucionar a agricultura mundial, demonstram que a produção agrícola em larga escala pode coexistir com a conservação ambiental. No contexto atual, marcado por mudanças climáticas e a necessidade de uma produção mais sustentável, a experiência brasileira com biofertilizantes oferece uma visão promissora de um futuro mais verde para a agroindústria global.
É importante enfatizar, contudo, que ainda há desafios a serem enfrentados, dado que a disseminação de práticas sustentáveis requer políticas públicas robustas, educação dos agricultores e apoio financeiro à pesquisa de forma contínua.
Nesse sentido, o Brasil, ao posicionar-se na vanguarda do uso de biofertilizantes, demonstra um compromisso crescente com a sustentabilidade e a inovação na agricultura, trilha um caminho possível e necessário para o futuro da produção de alimentos alinhada ao conceito da Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG).