
Persistência, foco e planejamento. Essas são as principais lições que o Rio Branco, tradicional time de futebol do Espírito Santo que virou SAF (Sociedade Anônima do Futebol), entrega para os negócios. O Brancão foi campeão capixaba de 2025, em cima de um clube empresa, o Porto Vitória, com recorde de público para um jogo local. Nesse sentido, mais de 12 mil pessoas assistiram à final no Estádio Kleber Andrade.
Quem está por trás da trajetória da SAF do Rio Branco é Renato Antunes. Ele é o CEO que administra o clube como uma empresa. Antunes afirma que planejamento faz toda a diferença e , muito mais do que conseguir resultados, é preciso ter foco para retomar uma posição de destaque no cenário nacional.
“Quando a gente chegou, em 2023, era só uma marca, uma camisa. Não tinha legado, onde treinar, poucas pessoas trabalhando. Ou seja, tivemos que reconstruir tudo do zero. Tivemos que alugar um centro de treinamento onde agora temos academia dedicada, estrutura”, contou Antunes.
“Nossa primeira estratégia foi focar o desempenho esportivo. Nesse sentido, elevamos o nível do time. Para se ter ideia, aumentamos a folha em mais de 10 vezes. Se compararmos a folha de hoje, só de atletas aumentamos em 20 vezes. Do mesmo modo, é isso que a gente entende que vai tirar o clube do lugar que está para o lugar que merece. Em paralelo, desenvolvemos a estrutura física. Isso porque se a estrutura é aquém da expectativa, os atletas ficam frustrados e perdem rendimento. Porém, a solução definitiva é o centro de treinamento próprio que devemos entregar em 3 ou 4 anos”, pontuou o CEO do Rio Branco.
Retomada do futebol capixaba
Para o editor de Esportes da Rede Vitória, Flávio Dias, o exemplo do Rio Branco aponta os caminhos para o futebol capixaba como um todo. Ou seja, não só o Capa Preta como também outros clubes que procuram profissionalizar a gestão dão passos importantes ao sucesso no futebol.
O envolvimento de empresas com boa reputação no mercado, com certeza, é um fator importante para o crescimento do futebol capixaba. O futebol, cada vez mais, é visto como um produto e ter empresas de grande porte investindo passa uma mensagem de credibilidade. Ou seja, é como se o mercado estivesse dizendo: ‘Olha só, investir no futebol capixaba é uma boa, dá retorno!’. Com mais investimentos, e com gestão competente, os clubes têm condições de formar elencos e comissões técnicas mais qualificadas. E esse é um grande passo para alcançarmos voos maiores em termos regionais e nacionais. Flávio Dias, editor de Esportes do Folha Vitória
E por falar nesses objetivos, o presidente da SAF Rio Branco mira alto para os próximos cinco anos. Nesse sentido, o objetivo é chegar à Série B do Campeonato Brasileiro de forma consistente. Ou seja, a meta é chegar com estrutura, para não sair mais.
O movimento do futebol capixaba em torno da profissionalização é sem volta. Nós aqui no Estado temos um dos PIBs mais altos do país, temos grandes empresas que geram riqueza e o Estado é muito próspero. Por que no futebol tem que ser diferente? Não tem! O Espírito Santo deveria ter um clube entre os 10, 20 maiores do país. Então, nosso objetivo é chegar a 2030 na Série B. Para isso projetamos um investimento de R$ 50 milhões. Renato Antunes, CEO da SAF Rio Branco
Para o editor de Esportes do Folha Vitória, a meta é possível sim. Porém, é preciso pensar em um passo de cada vez.
“Não é impossível pensar nisso a curto prazo. Mas é mais provável a médio ou longo prazo. A diferença de investimento e orçamento anual para equipes que jogam a Série D com objetivo de subir é grande. Ainda assim, o caminho é ter consistência e continuidade nos projetos. Recentemente, tivemos projetos interessantes, como o Atlético Itapemirim, vice-campeão da Copa Verde em 2018 e primeiro time capixaba a ser finalista de uma competição regional/nacional. Bem como o Espírito Santo, que tinha empresários à frente, foi campeão da Copa ES em 2015 e chegou a jogar a Série D. Contudo, acabaram cedo, sem continuidade”, explicou Flávio Dias.
“As coisas não acontecem de um dia para o outro. É preciso focar no acesso, juntar forças (clubes e Federação) para criar o melhor ecossistema possível para botarmos um time na Série C. Ou seja, abrir caminho para outros seguirem depois”, pontuou o editor.
Tesouros na base
O desenvolvimento de atletas de base é uma das apostas da SAF Rio Branco para manter a regularidade e alcançar a estabilidade financeira. Nesse sentido, Renato Antunes aponta que o clube ainda não tem categorias de base robustas, mas investir em jovens talentos está nos planos.
“Nesse primeiro momento, como estamos em processo de construção, não temos todas as categorias. Temos a Sub-20 que já disputou finais estaduais e disputou campeonatos nacionais. Temos dois jogadores da base do Goiás e aproveitamos uma de nossas promessas aqui no nosso time principal. O Breno Melo tem multa de R$ 8 milhões e em breve deve se tornar uma das maiores vendas do futebol capixaba. Nesse sentido, a partir de 2026 vamos dar mais foco à base e naturalmente vamos ter mais promessas despontando. E consequentemente, termos mais retorno com o desenvolvimento de jogadores”.
Gestão profissional, foco nos resultados e tempo de trabalho. Será que agora, o futebol capixaba eleva o patamar e volta a ser destaque nacional? Flávio Dias acredita que sim. Mas o caminho é longo e exige trabalho duro.
“O primeiro passo é levar o torcedor local ao estádio, é criar uma identidade. Criar identidade própria, gerar engajamento, atrair novos investidores e novos patrocinadores. É um caminho que precisa ser seguido e conquistado pela maioria dos nossos clubes. Melhorar a comunicação entre clube e torcida/população. Furar a “bolha” mesmo. Tem muita coisa a ser feita, mas dá pra resolver uma de cada vez, pensando em médio a longo prazo. A união e criação de um ecossistema que coloque um time na Série C vai gerar uma corrente positiva, abrindo a possibilidade para o desenvolvimento e crescimento de mais equipes”.