*Artigo escrito por Pedro Henrique Mariano, MBA em Controladoria e Finanças, consultor e executivo de Controladoria, Planejamento, Finanças, Orçamento, Resultado e Processos e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Economia do IBEF-ES.
Como potencializar a capacidade da economia do Brasil, sendo um país de dimensões continentais, riqueza cultural e recursos naturais em abundância?
Educar o povo é um dos caminhos. Investir na educação do indivíduo hoje, pessoal e profissionalmente, é o combustível necessário para construir o futuro.
Inovação tecnológica e energética, por exemplo, são temas centrais do desenvolvimento sustentável da economia, mas é através das pessoas que os saltos de evolução ocorrem.
As crianças e os jovens ocuparão posições na pesquisa acadêmica, no mercado de trabalho e na política, bem como serão responsáveis pelas decisões que apontam os rumos da sociedade. Assim, é importante o entendimento de que a qualidade da colheita de adultos está diretamente ligada à qualidade do plantio de jovens.
Diagnóstico e análilse da situação atual
Os desafios da educação estão presentes em todas as fases de formação, da infância à vida adulta. Para fazer uma análise de cenário, segundo o IBGE, em 2022, 9,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais eram analfabetas.
O quadro abaixo demonstra a distribuição por faixa etária, sexo, região e cor a taxa de analfabetismo.
Fonte: IBGE Educa.
Para o grupo de pessoas com 25 anos de idade ou mais, apenas 53,2% possuem o ensino médio completo. Ainda, entre os principais motivos da evasão escolar, estão a necessidade de trabalhar ou a falta de interesse nos estudos.
Ou seja, em algum momento da vida, dado o contexto socioeconômico do indivíduo, duas circunstâncias são determinantes para o abandono dos estudos.
Primeiro, trabalhar em busca de sustento se torna mais relevante e importante para atender às demandas de vida a curto prazo, sejam individuais ou de sua família.
Segundo, o interesse pelos estudos para a construção de carreira e vida financeira ou não foi despertado ou se perdeu pelo caminho.
Em estudo publicado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que aborda a educação no Brasil com seus atrasos, conquistas e desafios, é demonstrada a relação entre os níveis educacionais e a renda individual e familiar:
Fonte: Schwartzman (2001).
O mercado de trabalho, que tem o propósito de estabelecer as relações entre as empresas e instituições com os profissionais, lida com situações em que há oferta de vagas de emprego sem que haja candidatos devidamente qualificados para ocupá-las.
Presencia-se uma corrida em busca de capacitações e cursos profissionalizantes, que não são menos importantes, porém não têm o mesmo peso de uma educação básica sólida construída durante a infância e a juventude na formação do sujeito.
De modo geral, as empresas e os empreendedores navegam em um ambiente de negócios instável, com altos impostos e encargos, com insegurança jurídica e, além de tudo, sem uma visão orientada para uma boa gestão e administração.
“Mar calmo nunca fez bom marinheiro”, mas um marinheiro bem preparado consegue navegar melhor em águas turbulentas.
O sistema político estabelecido, independentemente do governo vigente, a cada ciclo eleitoral, se depara com um mesmo paradigma educacional: gerenciar e tratar os efeitos das falhas e ineficiências do passado que se arrastam pelas décadas, enquanto se faz cada vez mais urgente a preparação e estruturação para o futuro.
Ao mesmo tempo, a classe política ser composta cada vez mais por pessoas qualificadas, tecnicamente, para o exercício da função, tem o poder de melhorar a sociedade.
Tem-se, então, um diagnóstico de ecossistema com muitos desafios para conduzir os indivíduos à fase adulta da vida, adequadamente preparados, para desempenhar com excelência seus papéis e que, como consequência, cria barreiras para acelerar o desenvolvimento econômico e social.
Em um mundo cada vez mais tecnológico, a educação tende a se tornar cada vez mais eficiente e acessível, principalmente quando se trata da geração Alfa (nascidos a partir de 2010), que serão os próximos a serem incluídos na população economicamente ativa.
As ferramentas de inteligência artificial, aliadas a métodos de ensino mais flexíveis, adaptados e não-lineares, terão um papel fundamental para o aprendizado dos mais jovens.
A tecnologia é um recurso com grande potencial disruptivo, podendo atuar como agente de transformação da sociedade.
Investimentos na educação e suas perspectivas
Propor soluções é mais complexo do que estabelecer diagnósticos, mas deve-se fazer o exercício de buscar ideias e meios para implementá-las.
Ainda, é ilusória a expectativa de que determinada ideia funcione para o todo, quando há tanta diversidade demográfica em um país com mais de 200 milhões de habitantes.
Trabalhar a educação gera bons resultados sociais para questões importantes, como:
1) Redução da pobreza com a promoção da mobilidade social, através de melhores oportunidades educacionais e redução da desigualdade de renda;
2) Cuidados com a saúde e bem-estar, pelo aumento do nível de consciência sobre o tema;
3) Salto de evolução da sociedade ao exercer a cidadania, com engajamento e tolerância em relação aos desafios.
Desenvolver o capital humano implica em colocar o assunto no topo das prioridades, com investimentos estruturados e massivos.
Essa é uma forma de tratar, na origem, outros temas relevantes, como a saúde, segurança, empregos, meio ambiente, infraestrutura e economia.
É preciso formar a pessoa que será o professor, cientista, administrador, engenheiro, mecânico, arquiteto, médico, enfermeiro, advogado, político, psicólogo, designer e artista que trabalhará em prol da coletividade.
Theodore Schultz, economista ganhador do Prêmio Nobel, desenvolveu estudos sobre o capital humano à luz dos investimentos em educação e pesquisa.
Uma das motivações de seu trabalho foi justamente verificar o papel da educação dos agentes humanos como uma fonte importante de ganhos de produtividade.
Assim, a qualificação melhora o desempenho individual e, como consequência, contribui para a geração de riqueza e crescimento econômico.
O melhor do Brasil é o brasileiro e a crença de que o país “tem jeito” deve sobrepor os desafios socioeconômicos, principalmente porque educação é investimento de médio e longo prazo.
Discutir o tema educação é falar de futuro, pois, mesmo quando é necessário tratar assuntos imediatos e legados, os investimentos sempre serão plantio hoje para colheita amanhã.