Nos últimos dias, as fortes chuvas que atingiram a Região Serrana do Espírito Santo causaram grandes prejuízos. Em Santa Leopoldina, o Rio Santa Maria da Vitória ultrapassou a cota de inundação, alcançando 6 metros no dia 9. O município registrou bairros alagados, moradores desalojados e queda de barreiras. Em várias cidades capixabas, os temporais provocaram alagamentos, desabamentos de muros, carros arrastados e deslocamento de famílias. Diante dos danos, alguns municípios decretaram situação de emergência, incluindo Santa Leopoldina. Na agricultura, produtores de gengibre foram duramente impactados, relatando perdas expressivas nas lavouras.
Chuvas comprometem produção e qualidade do gengibre
Laurentino Barth estima uma perda de 20% no plantio devido aos danos causados pelas chuvas. Já Thiarles Willian Kapice Kuhl, de Santa Leopoldina, que possui 4 mil quilos na propriedade, avalia que os prejuízos financeiros podem chegar a R$ 50 mil. “O solo está muito danificado, e isso afeta diretamente as plantações”, explicou.
Ariuto Luck, de Santa Teresa, cultiva gengibre em 1,7 hectare. Ele destaca que as chuvas intensas desde o início de janeiro têm causado erosão e queda de barreiras. “O prejuízo ainda é difícil de calcular, já que o gengibre está novo, mas acredito em uma perda de cerca de 10% por conta da erosão. O solo encharcado atrasa o desenvolvimento da planta, pode causar doenças e afeta diretamente a nutrição. Além disso, tivemos queda de barreira na estufa”, relatou.
Honório Marcos Shaeffer, de Santa Leopoldina, também enfrentou prejuízos causados pela erosão. “A planta que foi atingida diretamente não terá um bom desempenho, pois foi exposta, reduzindo o crescimento do rizoma. Vamos precisar gastar mais com insumos para repor os nutrientes perdidos pela água. Apesar de na nossa propriedade nenhuma estrutura ter sido danificada, nem todos na região tiveram a mesma sorte”, afirmou.
Impacto para a cooperativa
Leonarda Plaster, presidente da Cooperativa dos Produtores de Gengibre da Região Serrana do Espírito Santo (Coopginger), apontou que a situação dos produtores já era desafiadora mesmo antes das chuvas.
“A produção de gengibre é uma atividade de agricultura familiar, que demanda muito cuidado. As chuvas intensas pioram ainda mais o cenário, causando perdas de 20% a 30% em algumas lavouras. O maior problema é que as lavouras ficam em áreas de montanha, e a chuva lava o solo, expondo as raízes, o que afeta o desenvolvimento e a qualidade da planta”, explicou.
A estimativa da Coopginger para 2025 é de uma produção de 2.500 toneladas destinadas à exportação, mas a presidente alerta para possíveis reduções devido às chuvas. A preocupação é com a diminuição na quantidade e na qualidade do produto.
Danos em infraestrutura
Em Domingos Martins, o produtor Gerson Antônio, que havia plantado 2.300 quilos de gengibre, perdeu quase todas as estradas de acesso às lavouras. “Precisei contratar máquinas para refazer as estradas e os tanques de água. Os nutrientes do solo foram levados pelas chuvas, e isso vai impactar na qualidade do gengibre. Estou tentando repor os nutrientes, mas é um trabalho árduo”, lamentou.
Com as chuvas persistentes, os produtores seguem enfrentando incertezas quanto às perdas definitivas nas lavouras. As dificuldades apontam para um impacto significativo na produção deste ano, afetando tanto a quantidade quanto a qualidade do gengibre produzido na Região Serrana.
Espírito Santo é o maior produtor e exportador de gengibre do Brasil
O Espírito Santo é o maior produtor e exportador de gengibre do Brasil, com a produção de aproximadamente 66 mil toneladas por ano em 1.070 hectares. A produção se concentra nos municípios Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, Domingos Martins, Itarana, Marechal Floriano, Cariacica, Santa Teresa e Alfredo Chaves, de acordo com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
É importante destacar que a produção é realizada principalmente por agricultores familiares. Estados Unidos, Canadá, Europa, Oriente Médio. São mais de 100 países que consomem o gengibre produzido aqui no Espírito Santo