Economia

Com desemprego, cresce empreendedorismo feminino e grupo se destaca no Norte do ES

De acordo com o IBGE, as mulheres representam 17,2% do total de desempregados do país, 14 milhões, enquanto os homens representam 11,9%

Foto: Foto: Pérolas de Cor
Dona Marolina, à esquerda, aprendeu novo ofício aos 68 anos

Como esquecer 2020? Um ano marcado pela pandemia do coronavírus e uma crise econômica que se espalhou pelo globo. No Brasil, as portas também se fecharam. o momento crítico exigiu que muita gente se reinventasse. Para algumas mulheres, aprender um novo ofício foi a forma encontrada para superar as dificuldades.

Em São Mateus, no Norte do Estado, uma idosa de 68 anos viu no artesanato a chance de dar a volta por cima. 

Dona Marolina Áries trabalhou no campo por mais de 65 anos. Sem carteira assinada e exposta às intempéries do clima, ela afirma que a jornada era desgastante. Desde o ano passado, ela faz parte de uma associação feminina que produz peças bordadas à mão. São itens como tiaras, pulseiras e chinelos. 

“Eu trabalhava na roça, capinando e plantando. Era um trabalho bem difícil. Quando o projeto foi criado, comecei a fazer parte. Hoje é tudo uma maravilha. Venho pra cá, bordo chinelos, aprendo coisas novas. É uma distração e também fonte de renda”, conta.

De acordo com último levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres são a maioria dos desempregados do país e menos da metade das brasileiras em idade de trabalhar está ocupada no Brasil.

Foto: FGV

A taxa de desemprego do país recuou para 11,1% no 4° trimestre de 2021, mas para as mulheres ficou bem acima da média nacional: para eles, o desemprego foi estimado em 9%; já para elas, em 13,9%. As mulheres são a maioria da população brasileira (51,4% – IBGE) e a maioria nas universidades, portanto, representam a maior parcela de profissionais com diploma. Mesmo assim, ingressar no mercado de trabalho tem sido mais difícil.

Movidas pelo desemprego e pela necessidade de pagar as contas, as mulheres passaram a empreender ainda mais. O Brasil tornou-se o sétimo país com mais empreendedoras no mundo, de acordo com o levantamento da Global Enterpreneurship Monitor (GEM).

Foto: Divulgação/Dieese

Atualmente, cerca de 24 milhões de brasileiras possuem o seu próprio negócio. No povoado habitado pela dona Marolina ela não está sozinha. Ao todo, são 21 mulheres empreendedoras. 

No projeto denominado Pérolas de Cor, as histórias de vida se confundem. Laurídia dos Santos tem 58 anos e, assim como dona Marolina, decidiu que era a hora de empreender. Atualmente, a empresa é sediada na pequena Comunidade de Nossa Senhora da Penha, em São Mateus, e foi idealizada pela filha da Laurídia.

Foto: Pérolas de Cor
Laurídia Santos, 58 anos, é artesã 

“O projeto mudou as nossas vidas. Quando a minha filha me disse que tinha dado tudo certo e que tínhamos sido aprovadas no edital, pulei de alegria. É muito bom saber que as minhas filhas, netas e amigas podem hoje ter um trabalho confortável”, afirma.

Segundo a economista e professora universitária Juliana Lopes Azevedo, as mulheres empreendem por diversos motivos.

“Quando falamos de empreendedorismo feminino, estamos falando de diversos fatores. Talvez, atualmente, o principal seja a necessidade. Essa busca de uma renda complementar. Em muitos casos, essa procura por independência financeira está relacionada à tentativa de se libertar de violências sofridas nos relacionamentos. Então o empreendedorismo também é uma ferramenta de empoderamento para superar situações de vulnerabilidade”, explica.

Na busca para criar e manter os novos projetos, a Associação Pérolas de Cor encontrou em uma empresa privada a parceria que precisava. 

Em 2021, a  multinacional Suzano, maior produtora global de celulose de eucalipto e referência global no desenvolvimento de soluções sustentáveis e inovadoras, disponibilizou um edital específico para comunidades quilombolas. A iniciativa beneficiou comunidades do Espírito Santo e da Bahia.

Foto: divulgação/ Suzano

“Como empresa, ficamos gratos por poder colaborar com sonhos. As empreendedoras da Comunidade Nossa senhora da Penha tiveram a oportunidade de fazer a inscrição e serem selecionadas. Nossa equipe ajuda na construção do projeto, faz todo um monitoramento e auxilia no que for preciso”, explica Narcísio Loss, Consultor de Desenvolvimento Social da Suzano.

Com a taxa de empreendedorismo brasileiro batendo recorde nos últimos 14 anos, é possível esperar ver cada vez mais as mulheres nessa área.

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