Economia

Com queda de quase 18% das vendas no ES, abril registra pior resultado do comércio em 20 anos

O resultado é o pior desde que o IBGE começou a divulgar os resultados do ramo. Em um ano, setor de roupas e calçados apresentou queda de 80%

Foto: TV Vitória

O mês de abril foi o pior em 20 anos para o comércio varejista capixaba. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda das vendas no Espírito Santo, de março para abril, foi maior até do que a média nacional. De um mês para o outro, a redução foi de 17,9%, contra 16,8% registrado em todo o Brasil.

“A gente só tem o histórico estatístico dos últimos 20 anos, e os dados mostram que, desde que a pesquisa começou, é o pior resultado, quando a gente compara as vendas no comércio do mês de abril em relação ao mês de março. Então se a gente fizer isso em relação a todos os meses, a gente vai ver que é a queda mais acentuada. É a maior crise que nós estamos passando, por conta da rapidez da queda”, explicou o economista Eduardo Araújo.

Em 20 anos, o Estado só teve uma queda semelhante de um mês para o outro: em fevereiro de 2017, durante a greve da Polícia Militar. Ainda assim, para o economista, foi uma crise que não se prolongou, diferentemente da atual.

“É bem provável que esse período agora que nós estamos passando, que não é só uma crise com essa pandemia do coronavírus, mas ela também se soma a um processo de recuperação lento que a gente via, durante o período de 2015 e 2016. Então o somatório dessas duas crises é que certamente vai ficar para a história como sendo a fase mais difícil da economia dos capixabas”, afirmou Araújo.

Para o economista, não há como prever até quando o comércio terá fôlego para sobreviver. “Muitas empresas não estão conseguindo capital de giro. Quando elas vão pegar crédito, elas têm dificuldade de conseguir empréstimo, apesar de todo o esforço de governos em oferecer crédito. Quando começou a crise, falava-se em dois meses, mas a gente já está em três meses e algumas empresas só estão sobrevivendo por conta do fato de a gente ter algumas medidas que permitem você economizar com empregados, que geralmente é a maior parte da desepesa”, destacou Araújo.

Roupas e calçados

Se o resultado for comparado com abril do ano passado, a queda é ainda maior. Nesse comparativo, o setor de tecidos, vestuário e calçados foi o mais prejudicado, com um recuo de mais de 80%. Para os comerciantes, o maior problema é não saber quando vão conseguir retomar as vendas, para pensar numa recuperação.

É o caso do comerciante Antônio Rocha, dono de uma loja de roupas na Glória, em Vila Velha. Em 37 anos de empresa, nunca viu uma crise igual a essa. Ele conta que, quando abriu o negócio, eram apenas 20 lojas no bairro. Hoje, são 1,2 mil. O comerciante lamenta ter que ver a loja vazia.

“Estamos com mais de três meses de loja fechada. Os cartões de crédito que já venceram, se a gente começar a vender agora, vai ficar mais uns meses para depois entrar o crédito dos cartões. Então vai ter um buraco de uns cinco meses de furo no caixa da empresa”, disse.

Ele conta que conseguiu preservar os seis funcionários de seu estabelecimento utilizando a reserva de uma vida toda para manter a empresa aberta. “A gente luta a vida inteira para conseguir as coisas e, no fundo, a gente está gastando o que ganhou lá atrás. Então eu estou estruturado para aguentar a situação, mas a metade dos empresários brasileiros não tem [estrutura]. A demissão vai ser muito grande e vai começar daqui para frente”, afirmou.

Quem também tem sentido as dificuldades causadas pela pandemia é o comerciante César Saad, que também possui uma loja de roupas. A primeira loja de tecidos da família abriu as portas há exatos 99 anos. Os tecidos continuam a ser vendidos, mas os negócios expandiram para o ramo do vestuário.

O medo de César, que está na terceira geração de empreendedores, é não conseguir chegar aos 100 anos de história por causa da crise econômica provocada pelo coronavírus.

“A loja foi fundada pelo meu avô, o meu pai sucedeu — ambos, infelizmente, faleceram — e eu estou na terceira geração, meu filho está na quarta — nós já estamos fazendo essa sucessão — e realmente nada foi comparado ao que aconteceu hoje. Você ficar 50 dias fechado, com faturamento reduzido, em alguns casos a até 90%, mantendo uma estrutura de custos, é muito difícil”, disse o comerciante.

Foram 50 dias de lojas fechadas e queda de 90% no faturamento. Mesmo investindo no comércio online e pelas redes sociais, as vendas nem chegam perto do normal. Para não desligar nenhum funcionário, o comerciante usou todas as medidas permitidas pelo governo.

“A gente botou os funcionários, num primeiro momento, em férias coletivas e, após as férias coletivas, entramos com a suspensão do contrato de trabalho. Agora que retornou, em regime de rodízio, o funcionamento, alguns funcionários voltaram ao trabalho, mas existem alguns outros funcionários que ainda estão no segundo mês da suspensão”, contou.

Para não desistir, o empreendedor soma os conselhos das gerações passadas, o olho no futuro e uma boa dose de otimismo. “A gente tem muita fé, muita perseverança de que vai passar e que nós vamos retomar do modelo que vier para o futuro. Mas que a gente vai estar nessa atividade comercial, que realmente é uma atividade que não vai se encerrar nunca”, frisou Saad.

Com informações da jornalista Andressa Missio, da TV Vitória/Record TV