Economia

Como a colaboração e a produção independente mudou a cara do Centro de Vitória

A região mais antiga e tradicional da Capital capixaba ganhou novos sons e cores. Produtores locais incentivaram o compartilhamento de trabalho e ideias

Foto: Divulgação/Nossa Vila

Quem passou pelas ruas e galpões da Vila Rubim nos últimos meses provavelmente já reparou que a vila está mais viva, colorida, parece até maior. Depois que recebeu uma intervenção urbana, por meio dos murais pintados no “miolo” do mercado, a essência de um dos pontos turísticos mais importantes de Vitória foi além do cheiro das ervas, chás e perfumes que são vendidos ali.    

´É que não foi só a tinta que mudou a paisagem. Foram quatro meses de um trabalho intenso junto à comunidade da Vila Rubim. Da pesquisa, até as conversas e reuniões, foi o contato diário com comerciantes e frequentadores que deu vida ao projeto. É o que os criadores e organizadores chamam de pintura participativa. 

“A gente teve que conversar muito e nos apresentar diversas vezes, até as pessoas, acostumadas a ouvirem promessas não cumpridas, entenderem a ideia e acreditarem em nós”.
– Juliana Lisboa e Renato Pontello, do “Nossa Vila”

Foto: Lucas Henrique Pisa/TV Vitória

A ideia de Juliana e Renato era reativar a cultura e a religiosidade da Vila Rubim em um espaço público que foi consumido pelo fogo, há mais de 20 anos, quando um incêndio destruiu um dos galpões do mercado.  

“Nós já sentíamos que a Vila Rubim estava meio esquecida e, durante o trabalho, percebemos que os comerciantes ainda tinham uma ferida aberta por causa do que perderam desde então”, conta Juliana.

O projeto foi contemplado com um edital de cultura do Governo do Espírito Santo. Com R$ 70 mil, os coordenadores investiram numa equipe de 20 pessoas para produção de pesquisa, propaganda e da própria pintura. Foram meses de trabalho at´é a Vila Rubim se transformar.

A internet teve papel importante nessa transformação. Pelas redes sociais, o grupo monitorou hashtags sobre a vila, fez questionários e abriu páginas de engajamento, onde foram  compartilhados vídeos e as etapas do processo criativo. 

O resultado salta aos olhos: são 736 m² de pintura em três murais que levaram mais beleza à vila e mais autoestima aos comerciantes.

Ouça o que a Juliana, do “Nossa Vila”, fala sobre isso:

Ruas viram corredores culturais

A efervescência cultural sempre foi uma atração do centro de Vitória, mas perdeu força com o passar do tempo. A retomada desse movimento só voltou a ser notada nos anos 2010, com a colaboração entre moradores e empreendedores locais.

A Rua Nestor Gomes, no entorno da Praça Costa Pereira, se transformou em um corredor criativo e cultural com a chegada do Coletivo Expurgação – um movimento artístico que tinha como objetivo estimular a cena local. Independente, o coletivo virou empresa, mas não perdeu a essência colaborativa. 

Assista um dos episódios da websérie Ensaio Aberto, gravada dentro de uma casa, no Centro de Vitória:

Raphael Gaspar, produtor cultural e produtor executivo de uma produtora de vídeo, diz que o propósito permanece o mesmo: “Quando fechamos a rua para shows ou atrações, todo mundo participa, vende o seu produto, a sua arte. Nossa ideia é combater o estigma de que o Centro é um lugar vazio e abandonado.” 

Veja um trecho da conversa com o produtor cultural Raphael Gaspar:

Depois desse movimento de ocupação, outros eventos colaborativos foram feitos por lá. A valorização imobiliária é um dos efeitos mais incisivos da “volta” do Centro de Vitória. “A casa que a gente alugava valia R$ 180 mil em 2013. No final de 2017 já estava sendo anunciado por R$ 350 mil”, avalia o produtor cultural.

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Plugue-se

A economia criativa que pulsa no Centro de Vitória foi um dos destaques de um evento sobre transformação digital promovido pelo Sebrae-ES em Vitória. O Plugue-se acontece até o próximo dia 30 de novembro. Palestras, oficinas e workshops sobre formas de se conectar podem ser acompanhados de forma online e presencial. As inscrições são feitas pelo site