Carregador de carro elétrico na garagem gera polêmica em condomínios

Alex Pandini

Foto: divulgação Peugeot.

 

As vendas de carros elétricos no Brasil engrenaram de vez. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), no ano passado foram comercializadas cerca de 94 mil unidades, um número 30% maior do que o registrado em 2022.

 

Mas uma questão que ainda está em aberto diz respeito ao abastecimento dos veículos. A praticidade com que as baterias de lítio podem ser recarregadas tem rebatimento em uma questão judicial que guarda relação com o mercado imobiliário. É que alguns donos de veículos estão pleiteando junto aos condomínios a instalação de carregadores nas garagens dos prédios.

 

DECISÕES DESFAVORÁVEIS

Segundo dados do Conjur (Consultor Jurídico), portal online especializado em questões da Justiça, no ano passado ao menos 7 ações foram ajuizadas nas quais os autores, donos de carros elétricos, tentam, após negativa do prédio em que residem, instalar pontos de carregamento. O levantamento é do advogado Gabriel de Britto Silva, que faz parte da Comissão de Direito Condominial da OAB-RJ e da Comissão de Arbitragem do Instituto Brasileiro de Direito Imobiliário (Ibradim).

 

As decisões e os acórdãos foram publicados pelos Tribunais de Justiça de São Paulo, Distrito Federal, Ceará e Rio de Janeiro. Nas sentenças analisadas, os magistrados deixaram claro que, mesmo que os donos de carros elétricos se disponham a pagar pelo carregador e sua instalação, as assembleias de condomínio são soberanas para a decisão, e não cabe intromissão judicial nesses casos.

 

Segundo o levantamento do advogado, em uma das decisões, o desembargador Francisco Darival Beserra Primo, do Tribunal de Justiça do Ceará, entendeu que a autorização para a instalação tem de ser exclusivamente da Assembleia Condominial, não bastando apenas o respaldo do síndico do prédio para a instalação do equipamento.

 

ANÁLISE ESPECIALIZADA

Diante da polêmica, o blog foi ouvir Carlos Augusto da Motta Leal, advogado sócio do escritório Motta Leal & Advogados Associados, especialista em Direito Imobiliário, que analisou a situação. Para ele, cada caso deve ser analisado individualmente. Segundo Leal, “a princípio, instalação de tomada para carro elétrico ou híbrido em vagas privativas de garagem não ofende o interesse comum, não pressupondo, assim, deliberação em assembleia ou permissão em convenção de condomínio. Isto porque tal tomada é uma extensão direta do quadro medidor de energia individual da unidade autônoma, não impactando no consumo geral e comum do edifício”.

 

O especialista avalia que as decisões judiciais negativas em relação a tais instalações, via de regra, baseiam-se em fatos concretos e individuais, quando não se trata de extensão do quadro individual de energia. Ou seja, o consumo da fonte energética é de uso comum. Nesta hipótese, ele concorda com o entendimento dos tribunais, e diz que “sem autorização tomada em assembleia, não se viabiliza a instalação”.

 

Carlos Augusto da Motta Leal. Foto divulgação.

 

O advogado também falou sobre a hipótese de instalar o carregador para uso coletivo. “Esta situação se refere à instalação, pelo condomínio e não pelo condômino interessado. Nesta hipótese, em sendo instalação realizada pelo condomínio, deverá estar em área comum e acessível a todos”.

 

Ele acredita ainda que os condomínios devem se adaptar a esse novo modelo de consumo. “Sem dúvida, é uma realidade. Uma tendência sem volta. E o mercado já está se adaptando normalmente, dotando as vagas privativas de tomadas para carros elétricos e híbridos e as áreas comuns também. Há todo um interesse social sob o prisma ambiental. A tendência é que os proprietários das garagens privativas que tenham interesse instalem as sua tomadas (algo muito simples), e os condomínios coloquem tomadas em estacionamentos de uso comum”, avalia.

 

Sobre a preocupação de não haver estrutura nas cidades para atender a demanda, e o risco disso atrapalhar as vendas dos veículos elétricos neste primeiro momento, Leal acredita que “a cadeia de fornecimento precisa estar pronta para receber os produtos. Sem isto, haverá gargalo”.

 

 

 

 

Foto de Alex Pandini

Alex Pandini

Alex Pandini é jornalista, tem 53 anos e mais de 3 décadas de experiência profissional em rádio, jornal, TV, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda e marketing político. Além de repórter e apresentador na TV Vitória, é responsável pelo conteúdo da plataforma ConstróiES.