Construção Civil

Para onde vai o mercado da Construção Civil se a taxa Selic chegar a 14,25%?

Flickr (Paulo H. Carvalho/Agência Brasília).
Flickr (Paulo H. Carvalho/Agência Brasília).

Diante do cenário econômico atual no Brasil, com dólar próximo dos R$ 6, inflação dos alimentos e instabilidade na relação comercial entre os países, a expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central eleve mais uma vez a taxa básica de juros (Selic), dos atuais 13,25% para 14,25%. O Copom se reunirá nos dias 18 e 19 de março. Se isso se confirmar, será a 5° alta consecutiva.

Para João Peixoto Neto, sócio fundador da Ouro Preto Investimentos, de São Paulo, um novo aumento dos juros pode levar a um cenário de crise. “Na verdade, o lucro dos bancos até aumentará. Mas, para as empresas, essa situação é trágica”, avalia.

João Peixoto Neto, da Ouro Preto Investimentos. Foto divulgação.

Peixoto diz que os bancos vão restringir a concessão de crédito, e a tendência, segundo ele, é recorrer ao mercado de capitais, por meio de fundos de crédito privado, como os FIDCs, “que devem se tornar o principal canal de crédito, em todos os segmentos, dentro de poucos anos”, acredita.

Cenário na construção civil e mercado imobiliário

E na construção civil e no mercado imobiliário? Quais são os impactos? Embora o setor esteja aquecido, isso ocorre apesar dos juros altos, e não devido a eles. Há um limite que impede a expansão, pois, em uma linguagem simples, os juros altos encarecem o dinheiro.

Marcondes Caldeira Junior, do IBEF/ES. Foto divulgação.

Para Marcondes Caldeira Junior, membro do comitê de Empreendedorismo e Gestão do Instituto Brasileiro de Finanças do Espírito Santo (Ibef/ES), é imprescindível fazer uma revisão do planejamento financeiro. “Uma revisão completa das previsões de resultados, do nível de endividamento, de eventuais juros e empréstimos que a empresa tenha atrelados à Selic, uma renegociação com fornecedores, tentar congelar os juros, trocar o indexador, o que for possível para reduzir a dívida”.

Alternativa de crédito e foco na gestão

Outra sugestão do executivo é buscar alternativas de crédito, buscar parcerias, fundo de investimento, mercado de capitais, para tentar baratear o custo do dinheiro.

E um terceiro ponto, que para ele muitas vezes é deixado de lado pelas empresas quando o cenário econômico é mais favorável, é melhorar a eficiência e a produtividade interna. “Rever os processos de gestão, os processos operacionais, melhorar o uso de tecnologia, revisar os insumos, olhar um pouco para dentro e ver de que maneira a gestão está e o que pode ser feito para melhorar”, orienta.

Financiamento próprio e parcerias

Para a advogada especializada em Direito Imobiliário Gabriela Machado, a melhor alternativa para as construtoras é fazer a construção com apoio de investidores e não apenas com capital próprio mais fluxo de pagamento dos adquirentes, em razão do alto risco de inadimplência.

Gabriela Machado, advogada especializada em Direito Imobiliário. Foto divulgação.

Ela diz que o financiamento próprio é “frequentemente respaldado por financeiras e investidores, surge como uma solução viável, oferecendo condições mais competitivas e garantindo a manutenção do volume de vendas”.

Gabriela sugere ainda o regime de patrimônio de afetação. “Esse modelo assegura a retenção de até 50% do valor pago pelo adquirente inadimplente ou que deseja rescindir o contrato durante a construção, protegendo o fluxo de caixa”.

Além disso, lembra da lei do distrato. “O entendimento do STJ permite a utilização da Selic como índice de correção monetária e juros remuneratórios, garantindo que os pagamentos realizados acompanhem a variação da taxa básica de juros”. Outra alternativa, para ela, é “prorrogar o prazo de execução de obras e pagamento da entrada do imóvel, tornando o fluxo de pagamento mais atrativo”.

A advogada ressalta que, apesar da necessidade de enxugar custos, as construtoras devem estar atentas ao cumprimento das normas técnicas da ABNT e à qualidade dos insumos. “Embora tragam uma redução de custos na construção, acabam tornando o pós obra dispendioso, seja com reparos ou processos judiciais”, diz Gabriela.

O fato é que, apesar dos juros cada vez mais altos, o setor da construção civil no Espírito Santo ainda segue em expansão, embora esta seja menor do que poderia. Resta ver como o mercado se comportará se, ao que tudo indica, os juros subirem mais 1 ponto percentual. Habilidade, competência, eficiência, sempre presentes nesse ramo, serão proporcionalmente ainda mais exigidas para seguir competindo e crescendo num cenário desafiador.

Alex Pandini
Jornalista com mais de 3 décadas de experiência profissional, é repórter e apresentador da TV Vitória e assina o conteúdo do Constrói ES.