Economia

Crise começou antes das pedaladas fiscais, segundo economista

Economistas ouvidos pelo R7, no entanto, afirmam que a origem da atual situação da economia brasileira é anterior às manobras fiscais praticadas pelo governo.

Afastamento de Dilma será decidido na quarta-feira Foto: Divulgação

Um dos pilares do atual pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, as pedaladas fiscais (artifício usado para esconder o déficit nas contas públicas) têm sido frequentemente relacionadas, em discursos de parlamentares, à atual crise econômica. 

Paulo Roberto Feldmann, professor de economia da USP, diz que é muito difícil fazer uma ligação direta entre as pedaladas e a crise.

— Os grandes motivos da crise são outros. Em primeiro lugar, a desoneração fiscal e o represamento de preços públicos, como o da energia. Essas medidas, tomadas em 2014, provocaram um rombo nas contas do governo. E, depois, já em 2015, para tentar corrigir esse erro, o ministro [Joaquim] Levy anunciou medidas recessivas, o que acabou travando de vez a economia.

Feldmann classifica como “exagerada” a relação feita pela oposição.

— Eu não concordo com muitas medidas tomadas pelo governo Dilma. Mas, nesse caso das pedaladas, a oposição está exagerando.

Para o economista Richardo Rytenband, comentarista do Jornal Record News, as pedaladas são mais um sintoma da crise do que propriamente uma causa.

— A crise de 2008 começou a impactar a economia brasileira a partir de 2010, com a queda do preço das commodities. O governo então lançou mão das chamadas medidas anticíclicas, aumentando os gastos públicos e reduzindo a arrecadação, com o objetivo de incentivar o consumo. Essas medidas contribuíram para causar um rombo nas contas públicas. As pedaladas foram uma tentativa do governo de esconder esse rombo. Mas o rombo mesmo já existia.

Antônio Corrêa de Lacerda, professor do departamento de Economia da PUC-SP, acredita que as pedaladas podem ser relacionadas À crise porque contribuíram para reduzir a confiança na economia brasileira. Mas ressalta que a manobra é apenas um dos fatores do desaquecimento.

— A Dilma não foi a única presidente a realizar pedaladas e, sozinhas, as pedaladas não explicam a crise. A queda do preço das commodities e a taxa de juros alta, por exemplo, também contribuem para a atual situação.

O professor afirma que, com uma economia em baixa, as pedaladas foram um ingrediente a mais para que o grau de investimento no País caísse.

— Com as pedaladas, o governo ficou acuado e o corte de investimentos foi talvez maior do que poderia ter sido.