A crise hídrica no Espírito Santo mudou os hábitos dos capixabas e, se engana quem pensa que o uso racional da água, o seu reuso e a economia acontecem apenas dentro de casa. Produtores rurais da região norte e serrana do Espírito Santo aprenderam com a crise a economizar a água utilizada nas plantações que registraram uma queda de 50% na produtividade.
Ozílio Partelli é produtor rural há 56 anos. Possui uma propriedade de 20 hectares na região de Paraíso Novo, em Vila Valério, e lá ele cultiva café, pimenta, cacau e coco.
Ele conta que a sua família chegou na região nos anos 50 e desde então ele trabalha com a terra em que o forte sempre foi o café, mas com a crise hídrica, o cenário mudou em sua propriedade.
“Com essa seca que acontece há anos, tivemos que diversificar a produção. Com a crise hídrica, não caiu somente a produção, caiu também a autoestima dos produtores porque a maioria perdeu a sua fonte de renda e de produção. A gente ia aplicando, modernizando a lavoura, mas como não estamos mais ganhando dinheiro por causa da seca não temos mais como investir. Plantamos para sobreviver”.
Ozílio conta que não tem mais estoque de sacas de café e que, desde o início da estiagem, não tem dinheiro e nem fonte de produção.
“Enfrento dificuldade financeira por não ter uma reserva e esta é a realidade da maioria dos produtores daqui. Hoje, aquela esperança de que no ano que vem será melhor passou para 2018 e isso, se voltar a chover. As lavouras que sofreram com a estiagem só voltarão a produzir 80% de sua capacidade em 2018”, desabafou.
Ozílio diz que não existe mais água nos córregos e até a represa que fica em sua propriedade, que era considerada uma das maiores do município, secou.
“O mato lá dentro já passou de um metro de altura e por causa disso estou priorizando a produção de pimenta. Tenho 3 mil pés que foram plantados em dezembro do ano passado”.
Com a queda da produção, a carteira também ficou mais vazia e as dívidas chegaram. O produtor havia comprado seis mil reais em adubo da cooperativa Coopeavi, mas 80% do insumo não foi utilizado por causa da seca. Além disso, ele também comprou um equipamento que ainda não conseguiu pagar.
“A gente tem uma relação muito boa com a cooperativa apesar de uma grande dívida financeira que tenho. Devo R$ 60 mil e ainda não consegui pagar nem a primeira parcela. Sem água, não temos como fazer dinheiro”.
Já o produtor Erineu Stich, compartilha do mesmo sofrimento de Ozílio. Apesar de sua propriedade de 12 hectares ficar na região de São Sebastião do Meio, em Santa Maria de Jetibá, região serrana do Estado. Ele produz café e verduras há 42 anos.
“A água na cidade está sendo racionada e eu mudei o sistema de irrigação que antes era de canhão e hoje gotejamento e percebi que dá para irrigar a minha produção gastando 50% menos água que eu gastava antes da crise”.
A mudança no sistema de irrigação só foi possível porque o produtor contou com a ajuda de uma cooperativa. Ele recebeu orientação técnica e todo o suporte para a troca.
“Sou associado há quatro anos e fui orientado pelo técnico. Percebo que poderia ter feito a troca muito antes. Agora produzo de acordo com a quantidade de água que eu tenho disponível. Não vou desanimar e, se voltar a chover, continuarei economizando água”.
Mesmo economizando na irrigação, os preços dos produtos subiram bastante. “O consumidor já está sentindo no bolso. Antes a caixa do tomate era vendida até R$ 15 e hoje está R$ 70, o mesmo aconteceu com o quiabo e a batata doce, que eu vendia a caixa por R$ 15 e hoje a batata varia entre R$ 50 e R$ 60 e o quiabo R$ 70”.
O vice-presidente da Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi), Denilson Potratz, mesmo com uma série de fatores prejudiciais à agropecuária, a cooperativa apresentou, em 2015, crescimento de 5,4% no faturamento bruto e um resultado de 8,4 milhões de reais. Foram comercializadas 338 mil sacas de café e 483,2 mil caixas de ovos (30 dúzias cada).
A cooperativa reúne 10.738 produtores rurais de diversos segmentos dentro do agronegócio, como avicultura, cafeicultura, horticultura, fruticultura, pecuária, entre outros.
“A crise hídrica impactou diretamente os negócios dos produtores rurais. Como a cooperativa é formada por agropecuários, os negócios também sofreram muito com a escassez hídrica do último período no Espírito Santo. O impacto não foi maior devido o trabalho de gestão realizado durante este período, o mesmo manteve o equilíbrio das contas e possibilitou ampliação das estruturas para um novo ciclo de crescimento”.
A cooperativa está fazendo um grande esforço para economizar água, principalmente, junto aos cooperados. A Coopeavi possui a maior equipe técnica privada do Espírito Santo e é essa equipe que orienta o produtor rural no dia-a-dia para substituir os sistemas de irrigação atuais por tecnologias mais eficientes.
“A crise hídrica é a grande vilã do setor agropecuário capixaba. A principal iniciativa da cooperativa para driblar a crise está na gestão e a busca por equilíbrio fiscal internamente. Além disso, a cooperativa busca diversas inovações e parcerias para oferecer novas alternativas aos cooperados”.