Não, Lewandowski: a Lava Jato não trouxe prejuízos econômicos
Diante das dificuldades orçamentárias, o Ministério da Economia anunciou nesta sexta (22) o cancelamento do Censo Demográfico, pesquisa realizada a cada 10 anos no Brasil pelo IBGE. O levantamento consiste na visita a todos os mais de 5.500 municípios brasileiros, colhendo informações sobre as famílias brasileiras, como idade, número de residentes, renda e escolaridade.
Com a medida, o Brasil corre o risco de sofrer um “apagão estatístico”, trazendo prejuízos econômicos ao atrapalhar a execução, avaliação e criação de políticas públicas, além de dificultar a tomada de decisões empresariais.
Desde a criação do IBGE, na década de 1930, isso ocorreu apenas uma vez.
Pesquisador do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira explica que, a despeito das robustas metodologias para estimativas e projeções adotadas pelo IBGE, a realização do Censo é essencial para a “calibragem” da base de dados.
“Na sua ausência, teremos um apagão estatístico, com a margem de erro das projeções e estimativas populacionais aumentando cada vez mais”, afirma.
O doutor em Geografia explica que há três impactos diretos principais no âmbito das políticas públicas. “É com base nesses dados que realizamos repasses em diversos fundos, como para estados e municípios, fundos de combate à pobreza, entre outros”, diz. “O outro é a dificuldade no aprimoramento, avaliação e desenvolvimento de novas políticas públicas. E, por fim, sem dados teremos maiores dificuldades para a tomada de decisões de gestores públicos. Por exemplo, qual o bairro mais populoso neste município entre crianças com menos de cinco anos hoje? Então, onde será melhor construir uma creche?”, explica. Essa mesma lógica se aplica à criação de postos de saúde ou hospitais, e criação de postos policiais e de segurança pública.
Por conseguinte, a ausência do Censo prejudica diretamente a busca por maior eficiência no gasto público, um princípio constitucional a ser perseguido pela Administração Pública.
Além dos prejuízos na atuação do poder público, sem dados há ainda danos econômicos e menor atratividade para investimentos. “Se uma empresa quiser se estabelecer em Vitória, por exemplo, qual o bairro que terá maior perfil de pessoas que estão dentro de seu público-alvo? A tomada de decisão terá de ser tomada com base em dados que são projeções que não retratam a realidade, porque a fonte primária de dados oficiais é de 2010”, explica Pablo.
Ele critica o fato disso estar ocorrendo no Brasil justamente na Era da Tecnologia e da Informação. “A percepção disso para o mundo é de descaso às evidências. Vamos regredir à época em que decisões de gestores públicos e da iniciativa privada precisarão se basear em achismo. Nada disso seria necessário”, conclui.
Em entrevista ontem à Data Business, o Vice-presidente da consultoria política Arko Advice Cristiano Noronha analisou a possibilidade de realização do Censo. “O IBGE continua pressionando o Ministério da Economia, mas como a pandemia continua limitando várias atividades, esse talvez seja um dos fatores que faça a pressão ainda ser pequena no mundo político”, analisou.
Esta semana houve acordo em Brasília para as emendas parlamentares em 2021 somarem R$ 37 bilhões. Até 2019, o montante total não passava de R$ 13 bilhões. O custo do Censo é de R$ 2 bilhões. Talvez se o Congresso tivesse uma “Bancada da Estatística”, não correríamos o risco de um apagão agora.
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