Maio 2021
2
Luan Sperandio
DATA BUSINESS

porLuan Sperandio

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Luan Sperandio
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porLuan Sperandio

Falta de diálogo

Em entrevista à Data Business, Lellis afirmou ainda que o governo tem dado maior peso ao sindicato dos profissionais da educação pública, que possui um posicionamento contrário ao retorno às aulas.

“O governador diz que está dialogando com o sindicato para o retorno das aulas, mas isso é um equívoco: diversos estudos mostram que o contágio entre crianças dessa faixa etária é menor. As aulas já deveriam ter retornado”, diz.

Estudo da SOESPE dá razão ao educador. O levantamento concluiu que as crianças, em especial as menores de 5 anos, “não são fortes transmissoras da doença”. Há ainda evidências de que, seguindo protocolos, como distanciamento superior a 1,5 m, retorno gradual em etapas, monitoramento de sintomas, testagem de sintomáticos e rastreamento, há baixa taxa de contaminação de crianças para crianças e de crianças para professores.

Lellis afirma ainda que as escolas privadas se prepararam em 2020 para adequar a infraestrutura a fim de seguir de forma ortodoxa os protocolos e atender bem os estudantes e professores. “Diante dos prejuízos financeiros da crise, houve casos de diretores de escolas vendendo casa, carro e se endividando com bancos para reformar a escola e mantê-la. E, apesar disso tudo, as escolas seguem fechadas”, critica.

Prejuízos à geração

Com pouca exposição às aulas presenciais desde o início da pandemia, a tendência é de involução no ensino e na formação de quem hoje está na escola. Nesse sentido, estudo da FGV estimou que em pouco mais de um ano de pandemia, a educação regrediu aproximadamente quatro anos.

E, mesmo com efeitos para todas as etapas da educação, os estudantes dos anos iniciais da educação básica são os mais prejudicados, havendo ainda indicações de que estudantes com maior vulnerabilidade socioeconômica são ainda mais afetados.

O levantamento conclui ainda que o período de sete meses sem aula pode significar uma perda de 26 pontos na média da prova do Pisa, que é aplicada em alunos de 15 anos.

Já em questões econômicas, é estimado que a perda de aprendizagem desse período representará uma redução de renda para toda a vida dos estudantes, entre 355 a 1.408 dólares anuais. Isso para toda a vida do aluno, que hoje está sem acesso às aulas presenciais.

“Ao não permitir as aulas, muitas crianças e jovens estão simplesmente nas ruas, estão mais expostos ao Covid-19 do que se estivessem na sala de aula. Boa parte de quem deveria estar cursando o ensino médio pode simplesmente nunca mais voltar para a sala de aula. Tenho medo de estarmos entregando parte dessa crianças e jovens à criminalidade”, lamentou Lellis.

O outro lado

Em entrevista, o Secretário de Educação Vitor de Angelo reconheceu que o setor educacional tem sido um dos mais atingidos pela pandemia. Porém, afirmou “não ser verdade” que o governo do estado não esteja escutando e dialogando com o Sinepe.

“Fizemos diversas rodadas de conversa, não apenas com o Sinepe, mas com os professores do ensino público e privado também. Foram feitos muitos alinhamentos, decididos protocolos desde o ano passado e, nos últimos dias, trouxemos a possibilidade de atendimento individual, além de tratarmos sobre a vacinação, por exemplo”, afirmou de Angelo, que também é professor universitário.

Questionado sobre a Sedu dar maior peso aos profissionais da rede pública, de Angelo afirmou que as ações do governo convergem em diversos pontos com eles, mas que em outros também houve divergências. “No ano passado, por exemplo, quando os números da pandemia indicavam maior segurança, as aulas voltaram na rede estadual, apesar de muitos protestos. A tomada de decisão sempre se deu a partir de critérios técnicos e objetivos, nunca em critérios políticos e econômicos”, defendeu.

O secretário reconhece que “o abre e fecha é péssimo”, mas que a situação atual foi imposta pela pandemia. “Não podemos negar o peso e as consequências da Covid-19, mas também não se pode considerar apenas os prejuízos pedagógicos, precisamos pensar na preservação de vidas também. Como governo, buscamos mitigar as consequências, implementar soluções de ensino remoto e qualificar os professores”, explica.

Sobre a perspectiva de volta às aulas, de Angelo afirmou que estas retornarão de acordo com os critérios já adotados, dentro da política implementada pelo mapa de risco. “Estamos avaliando avançar, ainda que com mais restrições, possibilidade de termos atividades educacionais mesmo no risco alto”, diz.

Embora afirme que a retomada das aulas não está vinculada à vacinação, o secretário afirma que há possibilidade de ainda em maio todos os profissionais da educação do ES serem vacinados.

Procurada, a assessoria do governador Renato Casagrande não retornou até o momento desta publicação. Na última sexta (30), ele declarou que nos próximos dias haverá conversas entre os atores da educação e, possivelmente, uma tomada de decisão na próxima sexta (7).

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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