Quem será o centro democrático em 2022?
Até o início de abril, mais de 100 pedidos de impeachment foram realizados contra Jair Bolsonaro. Além disso, segundo o levantamento Exame/Ideia, a desaprovação ao governo do Presidente da República (PR) chegou a 50%, embora tenha mantido resiliência, com aprovação de ótimo/bom com cerca de 30%. Nesse sentido, o afastamento do presidente se tornou pauta ao longo dos últimos meses, principalmente ao longo da pandemia.
Vale ressaltar que enfrentar pedidos de impeachment faz parte do jogo político em Brasília. Fernando Collor e Dilma receberam, respectivamente, 29 e 42 pedidos, sendo movimentos bem sucedidos da oposição. Mas, via de regra, os pedidos são apenas para enfraquecer o governante em exercício: Itamar Franco, por exemplo, recebeu 4 deles. Já FHC 17, e Lula 34.
Do ponto de vista de sucessão ao governo Bolsonaro, qual o interesse real de cada integrante da oposição em um eventual impeachment de Bolsonaro?
Na história recente, os brasileiros vivenciaram dois pedidos de afastamento de seus presidentes. O primeiro de Fernando Collor, em 1992, e o segundo de Dilma Rousseff, em 2016.
Um impeachment gera um candidato natural para o jogo político, como ocorre em democracias presidencialistas em todo o mundo, que é o vice. Mas, em ambos os casos, isso não ocorreu por situações específicas. Seus substitutos, Itamar Franco e Michel Temer não foram candidatos presidenciais porque no primeiro caso, uma eventual eleição não era permitida à época. Então, o Ministro da Fazenda de Itamar, Fernando Henrique Cardoso, quem acabou ganhando a popularidade eleitoral diante do Plano Real.
Já com Temer, além da falta de popularidade inicial, houve o “Joesley day”, dia em que foi divulgado o áudio do dono da JBS ligando o peemedebista à Lava-Jato, o que impediu que Temer tentasse a disputa eleitoral.
Eventual impeachment de Jair Bolsonaro, a princípio, criaria um sucessor natural para 2022: o hoje vice Hamilton Mourão, embaralhando o cenário eleitoral.
Diante desse cenário, não interessa para a oposição petista impichar Jair Bolsonaro pois o cenário base hoje é que eles estarão no segundo turno. Para que arriscar?
A queda antecipada de Bolsonaro poderia, portanto, alavancar um terceiro candidato para o pleito do próximo ano, podendo ameaçar as chances de vitória dos petistas. Nesse sentido, o afastamento do presidente não interessa à principal força da esquerda brasileira.
Assim, com exceção dos partidos de centro que visam uma “terceira via” para vencer o bolsonarismo e o petismo, não há interesse por impeachment em Brasília: apenas por desgastá-lo a fim de enfraquecer e facilitar a disputa em 2022.
Para além disso, mesmo se houvesse interesse da oposição petista, eventual impeachment se mostra com chances remotas. A questão do tempo inviabilizaria a execução desta pauta, já que a corrida pelo Planalto deverá começar antecipadamente em 2022.
Apesar de instável, a base de Bolsonaro no Congresso foi fortalecida desde 2020, como se comprova a partir de votações com quórum de PEC em projetos de interesses do governo, como foi com a MP da Eletrobras. Por fim, quem dá início ao processo de impeachment é o presidente da Câmara, hoje o aliado Arthur Lira. Todas essas peças no tabuleiro — a falta de interesse da oposição, a proximidade das eleições e a conjuntura em Brasília favorável — tornam eventual impeachment um cenário bastante remoto.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória