Reforma Ministerial: Bolsonaro se rende ao Centrão
O presidente Jair Bolsonaro elevou a retórica e voltou a defender o voto impresso como uma medida de segurança para as eleições de 2022.
Ele defende que, a partir da eleição presidencial de 2022, os números que cada eleitor digita na urna eletrônica sejam impressos e que os papéis sejam depositados de forma automática em urna de acrílico para que, em eventual acusação de fraude no sistema eletrônico, os votos em papel possam ser apurados manualmente. Porém, essa discussão é perda de tempo e, em última análise, um erro.
Jair Bolsonaro ataca a urna que o elegeu 5 vezes deputado federal e uma vez presidente, e que há 25 anos as urnas eletrônicas são utilizadas no Brasil, com constante evolução de sistemas e equipamentos.
Paradoxalmente, Donald Trump fez o mesmo nos Estados Unidos, sendo a acusação baseada em suspeitas por causa das cédulas físicas! A retórica do presidente é tão forte que fala de fraude antes mesmo do processo eleitoral.
Vale lembrar que na eleição de 2014, com o PT no poder, o PSDB contratou auditoria para verificar o funcionamento de todo o sistema, sem identificação de problemas.
As votações são auditáveis a partir do Registro Digital do Voto (RDV), que utiliza os mesmos protocolos de autenticação de processos como o PIX, sendo que apenas o TSE tem a chave pública de acesso às urnas.
Como explica José Henrique Portugal, analista de sistemas e especialista em segurança e certificação digitais: “O software contém tantas linhas quantos forem os eleitores cadastrados pelo TRE na seção eleitoral daquela urna. E, em cada linha, tantas colunas quantas forem os cargos em disputa. No caso da eleição do ano que vem, serão cinco colunas em cada linha. No cruzamento de uma linha com uma coluna, será registrado o número do candidato, ou BRANCO ou NULO, escolhidos pelo eleitor para cada cargo, escolhendo-se aleatoriamente a linha onde for colocado o voto. O RDV é assinado digitalmente pela urna, garantindo a autenticação e integridade daquele voto naquela eleição. E todo esse seguro, complexo e aleatório sistema de registro digital do voto, permite auditar completamente e com rigor o voto dado pelo eleitor, sem revelar suas preferências”.
O que o presidente faz ao insistir na narrativa do voto impresso é o que chamamos na análise política de diversionismo. Isto é, a criação de narrativas para desviar o foco do debate público. Dessa forma, diante de, por exemplo, eventuais crises ou uma taxa de desemprego alta, presidente ataca instituições para criar narrativas, gerar confusão institucional, saindo da posição defensiva.
No legislativo, a Comissão Especial da Câmara analisa a PEC 135/19, e a próxima etapa é a análise do parecer do deputado Filipe Barros (PSL-PR). A Comissão voltará a se reunir em 5 de agosto.
Diante de tantos problemas e de reformas necessárias a serem feitas, e considerando que o sistema eleitoral presente é seguro, trata-se de uma perda de tempo.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória