As recentes baixas no Ministério da Economia são ruins para o governo federal e para o mercado, mas a pasta comandada por Paulo Guedes e sua agenda liberal ainda inspiram confiança em empresários e alguns economistas capixabas numa possível retomada da economia. Contudo, a demora na aprovação das reformas tributária e administrativa segue como alvo de críticas do setor produtivo.
Com as incertezas que resultaram nos pedidos de demissões dos secretários Salim Mattar (Desestatização e Privatização) e Paulo Uebel (Desburocratização, Gestão e Governo Digital), classificadas por Guedes, na última terça-feira (11), como “debandada”, o reconhecimento de que a agenda do ministro está correta, porém é mal operada, na visão do empresário José Carlos Bergamim.
“Os técnicos que saíram disseram concordar com as propostas, mas discordar do “timing”, considerando demorado demais. Também saíram reclamando do corporativismo de outros ministérios que impediam implementação dos projetos na velocidade comum à praticada na iniciativa privada. Então, o problema não está na raiz, mas na operação”, analisa o empresário do setor de vestuário, que no Espírito Santo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou alta de 14,8% em junho deste ano quando comparado ao mesmo período de 2019.
No entanto, Bergamim reconhece que as dificuldades impostas pela pandemia aumentam a pressão por acelerar as reformas prometidas por Paulo Guedes, o que exigirá melhor articulação no Congresso, onde o governo não possui base aliada forte o bastante para garantir celeridade sem desidratações – como ocorridas na reforma previdenciária, apresentada com expectativa de economia na ordem de R$ 1,1 trilhão em 10 anos, mas aprovada, em outubro de 2019, com uma previsão de economizar em torno de R$ 800 bilhões em uma década.
“O custo do emprego é um dos grandes problemas do Brasil. Empregados de baixa qualificação em ambiente de empresas atrasadas. Tributar a folha de pagamento é a coisa mais atrasada que o país faz hoje, tem que tributar o resultado. É o que o Guedes está tentando fazer, tributação financeira (CPMF). É difícil a sociedade entender que, na média, todo mundo vai pagar a mesma coisa. Os impostos estaduais são complexos e, na guerra fiscal, o governo não acha viável colocar a reforma inteira, ainda mais sem bancada. Na (reforma) previdenciária os estados ficaram para depois”, conclui.
Para o economista Antônio Marcus Machado, as demissões de Salim Mattar e Paulo Uebel não influenciam em grandes proporções a agenda liberal do ministro Paulo Guedes, devido à capacidade de outros membros do Ministério da Economia.
“Creio que não afeta muito o projeto liberal, porque o grande líder desse projeto é o ministro Paulo Guedes. Há também pessoas que podem assumir no lugar delas, então eu não vejo nada prejudicial ao projeto em si, até porque os dois já trabalharam praticamente um ano em todas as suas linhas de atuação e devem ter deixado muito material pronto. Um exemplo de que consegue substituir com qualificação foi a saída do Mansueto Almeida, secretário do Tesouro Nacional, um cargo muito importante, mas entrou o Bruno Funchal que é também muito qualificado e está dando sequência a todo o trabalho”, avalia Antônio.
Por outro lado, Vaner Corrêa, conselheiro do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), não vê com bons olhos a equipe do ministro Paulo Guedes, muito menos suas pautas.
“Como economista, essa equipe do Guedes não me enche os olhos.Se achar que vai resolver o problema da nossa crise com essas reforminhas, não vai se sustentar. O estado tem de ser reformado, não há dúvida, mas tem de suficiente, porque numa crise pandêmica como essa quem vai socorrer população, empresas e até bancos? Paulo Guede não vai criar um modelo de desenvolvimento econômico sustentável por 20 anos. Toda vez que ele fala de economia, o faz como financista.Temos que incentivar o cara que produz, reduzindo carga tributária estimulando a compet interna e externa, estabilizar a inflação para que o salário dê para cuidar da família”, critica o conselheiro.
Indústria ensaia retomada da confiança
A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) apoia as propostas econômicas do governo federal, especialmente as reformas e as privatizações, embora um ano e oito meses desde a posse de Jair Bolsonaro como presidente e da nomeação de Guedes, apenas a BR Distribuidora tenha sido privatizada. Em nota, a entidade afirma esperar mais agilidade na implementação dessas medidas econômicas.
“A Findes considera essa reforma essencial para reduzir o chamado Custo Brasil, que representa R$ 1,5 trilhão, ou 22% do PIB. Boa parte desse custo se deve à carga e à complexidade tributária. O que preocupa o empresariado é somente a velocidade das reformas, que precisam avançar com agilidade”, diz a nota.
Em fevereiro deste ano, portanto antes da pandemia do novo coronavírus, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) – elaborado pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo (Ideies) em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) – já mostrava redução na confiança do setor no ambiente de negócios no Estado e no Brasil para o momento e para os próximos seis meses. Desde março, porém, houve uma queda vertiginosa.
De 62,7 pontos (64,8 no Brasil) em fevereiro para 60,1 pontos (60,3) no mês seguinte, a confiança do industrial do Espírito Santo despencou para 34,5 (35,2) pontos em abril, saltou para 47,5 pontos em julho, um pouco mais próximo da média histórica de 53,9 pontos. Embora tenha registrado o segundo aumento consecutivo, o ICEI capixaba se mantém no patamar de “falta de confiança”, devido aos efeitos da pandemia, segundo o Ideies.
Procuradas, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Espírito Santo (Fecomércio-ES) e a Secretaria da Fazenda do Espírito Santo (Sefaz) não deram retorno.