Remuneração baixa, falta de tempo para a família, desemprego e problemas de saúde são alguns dos motivos que podem fazer com que uma pessoa mude de profissão. O primeiro passo, escolher uma nova área de atuação, pode causar insegurança, dúvida e medo.
No caminho, algumas pessoas se arriscam em novos empreendimentos enquanto outras abandonam ou adiam os planos. Para Maria Teresa Cardoso, diretora técnica da PsicoEspaço, antes da decisão final é preciso fazer uma autoanálise.
“A pessoa não pode se jogar. Antes, ela precisa fazer uma pesquisa de mercado e ver aonde tem vagas, pensar se vai ser feliz, fazer uma autoanálise e ver se tem perfil para isso. Não é pensar apenas no salário porque trabalhar no que não gosta é horrível. Ás vezes, pela crise, a pessoa vê muito o salário”, afirma a diretora.
Ainda de acordo com a diretora, o mercado de trabalho apresentou uma melhora nos últimos meses, mas falta profissional capacitado para preencher as vagas.
“O profissional precisa ficar atento ao redor. O mercado já se aqueceu de maio para cá. O que tenho observado muito é que as pessoas não se qualificam, não se preocupam em fazer um curso para se aprimorar. Tem cursos mais em conta ou até mesmo gratuitos. Também vejo que algumas pessoas estão investindo no tempo para conseguir uma renda extra e muitos se dão tão bem que acabam largando o trabalho para investir no empreendimento. O espírito empreendedor está na pessoa. As pessoas precisam fazer o que gostam, ter paixão é essencial”, esclarece a diretora.
Casamento
E o espírito empreendedor falou mais alto para a empresária Gabriela Almeida, que enxergou uma oportunidade durante a preparação do casamento e criou a Dettaglio Assessoria e Cerimonial.
“Na época eu era noiva e lembro que pedia orçamento para os forcenedores, mas eles demoravam com as respostas. Percebi um nicho nesse momento, que as noivas precisavam de uma ajuda. Fui fazer curso na área de assessoria em cerimonial e há um ano e três meses a empresa está funcionando bem. Ainda tenho planos para aumentar e empreender na área”, revela a empresária.
Vinda de uma família de jornalistas, Gabriela atuou muitos anos área, mas decidiu mudar de profissão por conta da rotina intensa e falta de tempo com a família.
“Tirei o registro aos 18 anos e comecei a trabalhar cedo, trabalhei em jornais e assessorias. Mas depois acabei optando por empreender por dois motivos. Além da questão do mercado em si, tem a questão do horário. Tenho duas filhas e quando eu tive a primeira filha, tinha carga horária extensa como jornalista e quase não a via. Sete anos depois, quando tive a segunda filha, optei por ficar mais com ela. Coisa que meu atual trabalho permite. Claro que às vezes preciso deixá-las para participar das reuniões e eventos, mas nada que se compara a carga horária que tinha como jornalista. No início, senti uma cobrança principalmente do meu pai. Sou a terceira geração de jornalistas na família e tinha saído de uma empresa grande. Mas as pessoas não estão ali dentro da sua rotina, não sabem como é o dia a dia. As pessoas têm medo de arrisca, claro. Mas tive apoio do meu marido, que sempre me colocou para frente, e da minha mãe. Se você não tiver ninguém em volta para apoiar fica complicado. A sensação agora é de ter ido para um caminho certo e a minha maior vantagem é de estar próxima das minhas filhas”, conta Gabriela.
Para quem ainda tem dúvidas, a empresa diz que é preciso colocar na ponta do lápis a questão financeira e os principais motivos para trocar de profissão.
“Primeiro de tudo é estudar o mercado, conhecer o nicho que você quer entrar. Todo mundo tem compromisso financeiro e o país está em crise, isso não temos como negar. Tem que estudar muito esse mercado para ver se vale a pena, principalmente se o que estiver em jogo for coisas preciosas, como família e tempo”, aconselha.
Culinária baiana
Depois de trabalhar quase 14 anos em banco de financiamento, Ronaldo Sandes Araújo resolveu investir em um área completamente diferente da que estava habituado. Baiano em terras capixabas, o empresário decidiu criar um delivery, Acarajé do Meu Rei, de um prato típico da sua terra: acarajé.
“Trabalhei uns 13/14 anos da minha vida em um banco de financiamento. Saí de Salvador e vim morar em Vitória e há uns três anos, comecei a trabalhar com meu sogro com aluguel de máquinas. Mas o cenário estava ruim e, conversando com minha esposa, ela me sugeriu começar um negócio diferente. Passei um tempo em Salvador e fiz um curso de acarajé para vender aqui em Vitória. Tive a ideia de montar um acarajé delivery, pois percebi essa falta no Espírito Santo. Me arrisquei. Sabia que não ia ser fácil, como não está sendo, pois é um negócio totalmente diferente do que as pessoas estão acostumadas. As coisas estão acontecendo, queria que fosse mais rápido né?! Queria alugar um ponto, mas pela atual situação preferi não pagar cerca de R$ 2 mil em um aluguel quando podia montar uma cozinha industrial dentro de casa. Montei um negócio de família. Minha esposa, que é arquiteta, trabalha de manhã e me ajuda nas ligações e pedidos depois do serviço. Tento diminuir os custos ao máximo. Trago a matéria prima de Salvador, fico na cozinha com um ajudante e um motoboy faz as entregas. Tenho medo de estacionar, de chegar um limite e não conseguir sair desse número. Mas estamos melhorando e aprimorando”, conta.
Doces
Depois de uma demissão, a jornalista Renata Quintaes resolveu transformar um hobby em empreendimento. Acostumada a fazer bolos e doces, ela apostou suas fichas na área e correu atrás de cursos para se profissionalizar. Depois de algum tempo ela montou a empresa Feito de Açúcar e hoje, ela se orgulha da nova profissão.
“Sempre vi minha mãe cozinhar, mas não colocava a mão na massa porque não havia necessidade. Trabalhava em um jornal impresso, fui demitida e ainda tentei continuar na área. Resolvi investir, tocar um negócio meu e, se encontrasse alguma brecha no mercado, poderia voltar. Fiz cursos fora do Estado, estudei as tendências do mercado e fui me aperfeiçoando para ter o que oferecer de novo ao meu cliente. Hoje tenho a minha empresa, trabalho junto com a minha mãe, que já estava aposentada. Além de colocar a mão na massa, fui fazendo marketing, divulgação da empresa e fazendo parcerias. Hoje em dia tenho uma empresa com um nome sólido e há quase dois anos tive a certeza de que fiz a escolha certa. Tive um problema de coluna e precisei de tempo para me tratar. Foi uma mudança de vida e o tempo que eu tinha trabalhando no jornalismo, não tinha qualidade de vida. Quando passei por isso, vi que tinha tempo e percebi que foi uma boa escolha. Hoje respiro mais aliviada, apesar de ás vezes falar ‘Meu Deus, está difícil’. Mas não voltaria mais, estou bem”, diz Renata.