*Artigo escrito por Carol Santos, capixaba e empresária do ramo do enoturismo em Portugal.
Capixaba de Vila Velha, onde nasci e vivi até 2017, neste ano deixei o Espírito Santo e me mudei para Portugal com minha família. Logo após a mudança, e com a matrícula feita ainda no Brasil, iniciei um mestrado em Direito com especialização em Direito Público, minha área de formação, e até 2023 trabalhei na área jurídica em Portugal.
No entanto, e embora os vinhos já estivessem na minha vida há algum tempo, especialmente como apreciadora, com a mudança para Portugal, e vinhos por todos os lugares que frequentamos, além de feiras onde se provam muitos (muitos!) rótulos, comecei a descobrir uma verdadeira paixão pela bebida.
Além das várias feiras de vinhos, o enoturismo (turismo voltado para o vinho) também passou a fazer parte das minhas descobertas em Portugal. Cada vez mais tinha a ideia de que o “universo masculino” predominava nesta área.
E foi exatamente por isso – ver tantos homens trabalhando nas diversas áreas relacionadas aos vinhos – que decidi mudar de área e trabalhar conhecendo e levando pessoas a conhecer os vinhos em Portugal.
Embora ainda trabalhasse na área jurídica – o que se deu até 2023 – , em 2019 iniciei, em paralelo, o projeto “Mulheres Amantes de Vinhos”, que passou a fazer parte da minha empresa.
Enquanto mulher enófila, poder proporcionar a outras mulheres uma experiência vínica sem “questionamentos”, medo de julgamentos ou qualquer outra ressalva, passou a ser um propósito e é o que me motiva constantemente.
Por questões culturais e históricas, os desafios para se trabalhar na área existem. Por exemplo, estar em uma reunião com 5 homens ainda é um pouco “assustador”. Isso pelo fato de que, na maior parte das vezes, temos sempre que estar atentas ao nosso comportamento.
Uma fala mal interpretada pode ser considerado como “ser fácil” ou “estar disponível”; a roupa a ser usada precisa estar pensada para ser socialmente adequada, não parecer vulgar ou ainda não gerar constrangimentos; sem contar o fato de termos que demonstrar (e provar) o conhecimento que temos de forma mais incisiva e repetidamente (se comparado a um homem).
Estes pré-conceitos estão cada vez mais sendo quebrados, mas ainda há muito a superar. Enquanto for notícia a existência de uma enóloga, ou o fato de uma mulher estar à frente de uma grande indústria de vinhos, ou ainda, um prêmio ser atribuído a uma sommelière, significa que temos um grande caminho a percorrer, mas que ele já está sendo escrito.