A dificuldade para conseguir emprego ainda continua sendo um tabu para as mulheres. Segundo dados da Organização Mundial do Trabalho (OIT), a diferença entre gêneros no mercado de trabalho quase não diminuiu nos últimos 27 anos e, no ano passado, a probabilidade de uma mulher trabalhar foi 26% inferior do que a de um homem, uma melhoria de apenas 1,9% com relação a 1991.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Espírito Santo, 11,7% de mulheres estão sem ocupação. O dado representa um total de 113 mil mulheres desempregadas no estado. Já em relação aos homens o número de desempregados é de 106 mil, o que representa 8,9%. A diferença entre os gêneros ultrapassa 30%.
O economista e Consultor Tesouro Estadual do Espírito Santo, Eduardo Araújo, explica que os números mostram a dificuldade enfrentada pelas mulheres na busca por um espaço no mercado de trabalho. “A parcela de mulheres que estão à procura de emprego aqui no estado é maior do que a dos homens. Isso tem a ver até com um papel histórico e cultural, que precisa ser revisto”, comenta.
Veja o gráfico abaixo:
O economista ressalta que antes da crise econômica de 2014, a diferença entre os gêneros era de 38%. “Isso significa que as mulheres buscaram estar mais inseridas no mercado de trabalho. Elas foram a campo e conseguiram um pouco mais de espaço. Porém, ainda é claro que o quadro é mais crítico para as mulheres em relação aos homens na inserção ao mercado de trabalho. A busca das mulheres por emprego aumentou, mas ainda é alto o número daquelas que não conseguem espaço”, diz.
Preferência
Segundo a OIT, 70% das mulheres preferem ter um emprego do que ficar em casa, algo com o que, além disso, 66,5% de homens estão de acordo. “Já não se pode afirmar de maneira crível, em nenhuma região e nem com relação a nenhum grupo social, que as diferenças quanto a emprego entre homens e mulheres acontecem porque as mulheres não querem trabalhar fora do lar”, disse a chefe da Área de Gênero, Igualdade e Diversidade da OIT, Shauna Olney, em entrevista coletiva.
As mais afetadas pela desigualdade são as mulheres com filhos menores de seis anos, que sofrem com o que chamou de “penalização profissional da maternidade”.
Segundo os últimos dados, em dez anos a diferença entre as mulheres sem filhos pequenos e as mulheres com filhos menores de seis anos que trabalham passou de 5,3% a 7,3%, sendo a principal razão para isso o aumento da presença das mulheres do primeiro grupo no mercado de trabalho.
A penalização da maternidade não se limita ao acesso a um emprego, mas segue as mulheres durante grande parte de sua trajetória profissional e dificulta suas possibilidades de chegar a postos de liderança.
Isso é demonstrado com fatos, já que apenas 25% dos cargos de gerentes com filhos menores seis anos são ocupados por mulheres, enquanto a proporção de mulheres em cargos diretivos aumenta para 31% se não tiverem filhos pequenos.
A OIT, além disso, estabeleceu em um recente relatório que em nível mundial persiste uma diferença de remuneração de 20% entre homens e mulheres, uma realidade da qual não se salvam nem os países considerados mais evoluídos na matéria.
A Islândia é o único que alcançou plena paridade nas oportunidades de trabalho para homens e mulheres, mas ainda não conseguiu igualdade de remunerações, por isso que o governo anunciou medidas concretas para acabar com a disparidade salarial no próximo ano.
Com esse fim, o governo tomou diversas medidas que vão desde a certificação de empresas que pagam por igual a homens e mulheres que realizam um trabalho de valor similar ao estabelecimento de um sistema para que as firmas privadas prestem contas a respeito.
Outro aspecto que preocupa a OIT é que a rentabilidade da educação obtida pelas mulheres — em termos de emprego — é menor que para os homens. Em nível mundial, 41,5% das mulheres com título universitário não trabalham, enquanto no caso dos homens são apenas 17,2%.
Além da penalização da maternidade, as mulheres são prejudicadas por serem as que assumem em geral o cuidado de pessoas dependentes, seja por velhice, doença ou incapacidade; assim como o trabalho doméstico.
A diretora do Departamento sobre Condições de Trabalho e Igualdade da OIT, Manuela Tomei, disse que para que isto mude não é suficiente apenas eliminar tudo aquilo que faz possível a discriminação e o estabelecimento de regras de cumprimento voluntário, os países devem se dotar de leis específicas que garantam não só a igualdade de tratamento e de oportunidades, mas igualdade de resultados, elementos que também deveriam estar incluídos nos convênios coletivos. “Quando isto é deixado à vontade das empresas, o impacto que tem é limitado”, afirmou Tomei.
Com informações do R7.com